Técnica sustentável aumentou a produção de morangos em propriedade na Bacia do Miringuava com redução no consumo de água e no uso de pesticidas.| Foto: IDR-PR
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Os setores privado e público se uniram para implantar técnicas sustentáveis de agricultura que aumentem a produção de água na bacia do Rio Miringuava, em São José dos Pinhais. Os rios, que ficam na Serra do Mar, já abastecem 250 mil pessoas e boa parte da indústria da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). E a captação da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) na bacia vai aumentar com a construção da quinta represa do Sistema de Água Integrado de Curitiba (Saic).

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A Barragem do Miringuava é a principal aposta da Sanepar para que o racionamento de água dos dois últimos anos não se repita em Curitiba e cidades vizinhas. Quando ficar pronta, a represa vai produzir água suficiente para 600 mil pessoas. A obra, que já deveria estar pronta desde 2020, está parada há quase cinco meses por causa da chuva. Com o solo úmido, há risco de movimentação de blocos de terra, o que ameaça a segurança dos trabalhadores no local.

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Criado em 2019 pela Fundação Grupo Boticário, o movimento Viva Água pretende até 2030 converter 500 hectares de agricultura convencional em agricultura sustentável, além de restaurar 650 hectares de floresta em áreas degradadas à beira de rios e nascentes da bacia. O projeto da fundação, cuja indústria em São José dos Pinhais utiliza a água do Miringuava na produção de perfumes e produtos cosméticos, já captou R$ 3 milhões dos R$ 20 milhões que pretende investir nos próximos oito anos.

Para isso, o Viva Água conta com apoio de técnicos da própria Sanepar, do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), da prefeitura de São José dos Pinhais, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), além do banco BTG Pactual, da multinacional de biotecnologia Baic, bom como ONGs e universidades.

O gerente de Economia de Biodiversidade da Fundação Boticário, Guilherme Karam, enfatiza que a preservação e restauro da Bacia do Miringuava é essencial não só para aumentar a produção de água para o abastecimento, mas para a própria produção agrícola da região. Se as condições do solo não forem preservadas, explica Karam, uma quantidade grande de sedimentos é levada pela chuva, o que aumenta o risco de erosão, que dificulta o tratamento da água na captação.

"Se a área estiver florestada, essa água é retida no solo, beneficiando o meio ambiente e a lavoura. A floresta é a infraestrutura natural para a manutenção da bacia. Tanto que hoje volta e meia a Sanepar tem que parar a captação de água na região para retirar o grande volume de sedimentos que chega na estação de tratamento levada pela chuva", explica Karam.

O representante da Fundação Boticário ressalta que a participação dos agricultores da bacia é essencial para garantir no futuro o abastecimento de água de Curitiba e RMC. Responsáveis por 70% da produção de hortaliças de São José dos Pinhais, os agricultores do Miringuava estão sendo orientados por técnicos do IDR-PR de como adotar ações sustentáveis no plantio.

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"A adesão dos agricultores é essencial e tem que ser voluntária. Esse convencimento leva tempo, porque muitos agricultores acreditam que técnicas sustentáveis geram prejuízo, e é justamente o contrário. Economicamente vale a pena plantar em um solo melhor, com água de qualidade, o que reduz custos e aumenta os rendimentos", argumenta Karam.

Plantio sustentável

Entre as técnicas sustentáveis implementadas pelo Viva Água no Miringuava está o plantio direto, em que a maior parte do solo fica coberta, impedindo que a chuva carregue sedimentos. A cobertura é feita com palha de milho, que impede que a água crie valas no solo, o que causa erosão e deixa a terra seca.

Nesse método, só a parte em que estão as plantas ficam descobertas, que é justamente por onde entra a água para irrigar a lavoura. Com isso, o solo se mantém úmido, colaborando também no abastecimento, já que a água retida acaba indo para os pontos de captação sem carregar sedimentos.

Além disso, a cobertura impede a fixação de pragas na lavoura. Em especial ervas daninhas, que reduzem a produtividade no plantio. Sem pragas, reduz-se a necessidade de pesticidas no solo. "Esse sistema produz um ambiente mais saudável para as plantas", explica o engenheiro agrônomo Tiago Hachmann, do IDR-PR, à Agência Estadual de Notícias (AEN).

Só uma das propriedades rurais que adotou o plantio direto na Bacia do Miringuava alcançou rentabilidade de 93% na produção de brócolis, enquanto que no método convencional a média é de 70%. Já a despesa com insumos, em especial pesticidas, caiu pela metade, segundo o IDR-PR. No aspecto ambiental, a nascente de água na propriedade dobrou de vazão desde que a técnica foi implementada há quatro anos.

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Outra propriedade adotou a técnica do sistema elevado e semi-hidropônico no plantio de morango. A fruta é cultivada em bancadas a um metro do chão e recebe água e nutrientes por irrigação. Sensores medem o nível de umidade no substrato e apontam quando é preciso molhar novamente a terra.

A irrigação é feita por um sistema fechado, que reutiliza o excedente de água, que é levado para um reservatório. Com isso, a produção de morango conseguiu reduzir o consumo de água de 20% a 25%. Como as folhas não apodrecem mais pelo excesso de umidade, também há menor incidência de doenças e pragas nas plantas, como o ácaro.

Outra produtora rural cedeu um quinto de sua propriedade de 5 hectares para o plantio de 1.400 mudas de árvores. No espaço de 1 hectare foram plantadas espécies nativas da bacia, como araçá-vermelho e ipê amarelo.

Nos outros 4 hectares segue a produção de hortaliças e milho e extração demel. Porém a integração entre agricultura e floresta deve inserir também o cultivo de erva-mate na propriedade. Além disso, o milho deve ser substituído por outro cultivo mais rentável e a produção de mel deve aumentar a médio prazo com a atração de mais abelhas à propriedade.