• Carregando...
 | Batalhão de Operações Especiais/Reprodução
| Foto: Batalhão de Operações Especiais/Reprodução

Fazer caminhadas em montanhas é uma atividade que tem se popularizado na região de Curitiba, mas, com mais pessoas frequentando trilhas em meio à mata sem o devido preparo, o número de acidentes nesses locais ermos não para de crescer. Só nos fins de semana do mês de maio, por exemplo, o Grupo de Operações de Socorro Tático (Gost) do Corpo de Bombeiros e o helicóptero do Batalhão de Operações Aéreas da Polícia Militar (BPMOA) fizeram resgates de pessoas com traumatismo craniano, torção de tornozelo e luxação no joelho - situações que geralmente podem ser evitadas com alguns cuidados básicos. Para tentar minimizar o risco de acidentes, confira abaixo 10 cuidados que se deve ter ao fazer trilhas.

A prova da necessidade de mais cuidado está no aumento de ocorrências de busca e resgate em montanhas do Paraná nos últimos seis anos: o número mais do que dobrou, já que ao longo de 2011 foram oito situações, e,entre janeiro e julho de 2017, a quantidade de registros passou a 20 situações. Esses últimos dados podem parecer números baixos para sete meses de operações se comparados aos de emergências urbanas atendidas pelo Corpo de Bombeiros. A questão é que os casos em montanhas levam muitas horas, às vezes dias, para serem concluídos, conforme o tenente Luiz Henrique Vojciechovski, comandante da Seção de Operações Terrestres do Gost. “Um exemplo é um caso de resgate no Pico Paraná no início deste ano. Uma moça tinha torcido o joelho, tivemos que levá-la na maca morro abaixo, e a operação durou 38 horas”, lembra.

Leia também: Conheça o helicóptero da PM que ajuda a salvar vidas e atua em perseguições policiais

Já um dia antes dessa situação, um homem acidentado no mesmo morro pôde ser resgatado com o helicóptero da Polícia Militar, de acordo com o tenente, em uma operação com duração de cerca de 15 minutos. Mas não é sempre que o helicóptero consegue ser usado, já que a mesma aeronave também presta suporte a outras situações emergenciais de saúde e policiamento, e não pode decolar a noite ou em condições climáticas desfavoráveis.

Mesmo com a possibilidade de decolagem, no entanto, há outros riscos a serem considerados durante o percurso. Segundo João Paulo Lazaroto, tenente da PM e piloto do helicóptero do BPMOA, deslocar a aeronave pode acabar tirando a oportunidade de outra pessoa em estado mais grave de ser atendida. “Uma vez que já estamos na montanha atendendo alguém com tornozelo torcido, pode acontecer de não estarmos disponíveis para uma ocorrência de infarto em algum local onde não há hospitais, por exemplo, e não dar tempo de salvarmos uma vida”, conta Lazaroto.

Para Alexandre Lorenzetto, coordenador do Corpo de Socorro em Montanhas (Cosmo), grupo voluntário que há 20 anos auxilia na prevenção, busca e resgate na região da Serra do Mar, a maior parte dos acidentes se deve a falhas humanas. Tanto pela falta de conhecimento e imprudência dos visitantes, como pela falta de gestão das áreas com sinalização, informação, fiscalização e prevenção. “É como se na cidade ou na rodovia, as pessoas andassem com seus carros por onde quisessem, sem a mínima noção de ordenamento e precaução, sinalização... O que aconteceria?”, reflete Lorenzetto, que também é mestre em gestão de áreas naturais protegidas.

Veja as dicas dos três especialistas:

1) Saiba o que te espera

O primeiro passo para se planejar é conhecer a trilha que será percorrida. Isso significa conversar com pessoas que já fizeram o trecho, ler guias de fontes confiáveis e mapas, além de estar ciente das próprias limitações físicas - que é um dos grandes lapsos de frequentadores do Morro do Canal, por exemplo. “Esse morro é tido como um dos mais fáceis da região, mas justamente por isso as pessoas menosprezam o desafio, acham que é tranquilo como nas trilhas do Parque Barigui ou do Botânico e acabam se machucando”, alerta Vojciechovski. Segundo o tenente do Gost, mesmo com a facilidade da subida em comparação a outros picos, o local acaba sendo um dos que mais têm registros de ocorrências atendidas pelos bombeiros.

2) Comece cedo

As trilhas são muito mais bem aproveitadas quando se começa logo cedo pela manhã. Além de que, planejar a chegada para antes do pôr do sol diminui chances de acidentes por falta de iluminação. Segundo indicação do Corpo de Bombeiros, é importante também considerar uma margem de tempo de segurança para casos de imprevisto, ou seja, se programe para estar de volta no máximo no meio da tarde.

3) Esteja bem alimentado e hidratado

Sair de casa com fome no dia de subir montanha não é uma boa ideia. Além do perigo da desidratação por si só, aliada a exercícios físicos intensos, a falta de alimentos pode causar um desmaio, por exemplo. Em uma trilha, quem desmaia tem o risco de bater a cabeça, torcer o tornozelo e até mesmo quebrar alguma parte do corpo. É fundamental levar água e alimentos reserva para serem consumidos durante o percurso, inclusive em maior quantidade do que seriam ingeridos normalmente. Isso porque, caso haja alguma emergência, o aventureiro não ficará sem alimento até a chegada de socorro.

4) O calçado ideal é imprescindível

Para a maioria das subidas de morros na região de Curitiba não é necessário comprar um calçado específico para a atividade, segundo o tenente Vojciechovski. O que é imprescindível é que seja um calçado que não escorregue e que fique confortável no pé. “Se o tênis não estiver confortável, provavelmente o aventureiro não vai conseguir concluir a atividade. Precisa ser um calçado fechado, mas não tem uma regra - pode ser um tênis de corrida”, exemplifica. Conforme o comandante da seção de operações terrestres, além de proteger de machucados e dar estabilidade, o tênis é fundamental para evitar picadas de animais peçonhentos.

5) Leve equipamentos básicos

Além do calçado, levar uma pequena mochila com equipamentos básicos é muito importante. Para o tenente do Gost, sempre se deve incluir uma lanterna, uma jaqueta impermeável para abrigar-se e um cobertor térmico. Isso porque, embora a previsão possa ser de tempo bom, as alterações climáticas no ambiente ocorrem de forma brusca, e esses itens podem ser necessários.

“ Às vezes acontece de alguém subir algum morro sem lanterna e não voltar antes da noite. Aí acaba telefonando para os Bombeiros, que precisam deslocar uma guarnição até o local para resolver uma questão relativamente simples. O pior é se nesta ocorrência simples, alguém que esteja realmente precisando fique sem atendimento”, exemplifica Alexandre Lorenzetto, coordenador do Cosmo.

6) Saia com o celular carregado

“Até alguns anos atrás, a maior parte dos avisos de ocorrências chegavam por meio de familiares da vítima, quando percebiam que a pessoa estava demorando para voltar. Hoje em dia, a própria vítima nos telefona de onde está”, explica o tenente Vojciechovski. Segundo o bombeiro, grande parte das principais montanhas da região da Serra do Mar tem sinal telefônico, e esse contato facilita muito o resgate. “Por isso a gente recomenda que a pessoa saia de casa com a bateria carregada e, se possível, leve uma bateria extra”, orienta. Além de permitir ligações, um celular funcionando também funciona para compartilhar a localização em tempo real, fazendo com que qualquer busca em situações de emergência seja muito mais precisa e rápida.

7) Deixe alguém avisado

Mesmo levando um celular carregado e baterias extras, no entanto, é interessante ter outra alternativa para caso o aparelho não funcione. A estratégia mais simples indicada pelo tenente Vojciechovski é deixar alguém avisado sobre a data e horário de retorno. Assim, caso o aventureiro não volte no momento combinado, outra pessoa poderá ligar para o socorro.

Quando algum grupo pretende caminhar sem seguir uma trilha, a orientação é sempre avisar o próprio Corpo de Bombeiros antes de sair. “Em parques estaduais com trilhas demarcadas, as pessoas assinam um documento com a data de entrada e saída. Nesses casos não é necessário nos avisar”, diz o bombeiro.

8) Ande em grupos de pelo menos três pessoas

Por precaução, é sempre recomendado caminhar em grupo. Pelo menos três pessoas é o número ideal de integrantes, já que isso permite que, caso alguém se acidente, uma pessoa pode acompanhar a vítima enquanto outra busca socorro.

9) Tenha um guia de confiança

Conforme o coordenador do grupo Cosmo, somente andar em grupo não resolve, caso ninguém conheça a região. “Se não conhece bem o local ou está inseguro, a dica é buscar um guia para fazer o passeio junto”, alerta Alexandre Lorenzetto. O problema é que, muitas vezes, algumas pessoas se passam por guias qualificados mas não conhecem realmente a atividade. Segundo Lorenzetto, o guia deve ser capacitado, ter seguro e seguir as normas básicas de respeito à natureza, por exemplo.

10) Fique de olho na previsão do tempo

Trilhas molhadas estão entre os itens que mais deixam uma subida de morro perigosa. Por isso, não se pode arriscar a fazer esse tipo de passeio tanto em dias com possibilidade de chuva, quanto um dia após temporais muito fortes. Por isso o período de outono e inverno é mais indicado para fazer trilhas na região de Curitiba e da Serra do Mar do Paraná: os dias são mais secos. Além disso, logo antes de sair de casa é importante olhar novamente a previsão - já que em região de serra o tempo costuma mudar rapidamente.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]