Um dos pontos críticos está na esquina da Avenida Visconde de Guarapuava com a Travessa da Lapa| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Os curitibanos estão começando a desenvolver um mapa próprio no que se refere aos alagamentos provocados pelas chuvas. Isso porque os pontos de acúmulo de água têm se repetido a cada enxurrada e passam a ser memorizados pelos motoristas e pedestres que passam pela região central da cidade. O motivo de algumas esquinas reiteradamente se encherem de água está relacionado à geografia do Centro, cortado por vários rios canalizados. Com as volumosas pancadas do verão, essas galerias acabam tendo função dupla: a de escoar a água da chuva e dos rios, o que provoca o esgotamento imediato da capacidade dessas construções.

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A prefeitura de Curitiba e a Defesa Civil municipal não têm um levantamento oficial sobre este tema. Contudo, com base nas reportagens dos últimos meses feitas pela Gazeta do Povo, é possível identificar alguns pontos críticos de alagamento no Centro da capital paranaense. A maioria dos pontos beira os canais fluviais. "Algumas das galerias são bastante antigas. Outras nem tanto. Mas acontece que esses programas de drenagem são pensados para um tipo de ocupação do solo que acaba sofrendo alterações ao longo do tempo", aponta o geólogo Renato Eugênio de Lima, diretor do Centro de Apoio Científico em Desastres da Universidade Federal do Paraná.

O especialista ressalta que o fenômeno de impermeabilização das cidades – quando o solo é tampado com calçadas, telhado e asfalto –contribui para uma frequência maior de alagamentos. "Quando chove e há solo aberto, a água é absorvida de maneira uniforme por toda a extensão do terreno. No caso de uma cidade cimentada, porém, a água rola pelo chão e vai cair na galeria fluvial, que acaba enchendo mais e com maior rapidez", explica.

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Locais

Um dos pontos mais problemáticos está na esquina das ruas Carlos de Carvalho e Visconde de Nácar. O local sofre com a cheia da galeria Fernando Moreira, responsável por canalizar o curso do Rio Ivo. Além dos constantes congestionamentos, o volume de água provocou uma morte em 2010, quando um morador de rua caiu no vão da galeria durante a chuva e se afogou.

A própria prefeitura reconhece que as inundações têm aumentado de intensidade nos últimos anos. "Não sabemos o que está acontecendo e seguimos fazendo limpeza dos canais. Em paralelo, investigamos a causa do problema", explica o gerente de projetos do Departamento de Pontes e Drenagens da Secretaria Muni­cipal de Obras Públicas, Wilson Ferreira de Almeida. Ele conta que a secretaria trabalha com a hipótese de galhos de árvore e sacos de lixo estarem entupindo os túneis.

Tanque

No traçado próximo à Avenida Visconde de Guarapuava, por onde o Rio Água Verde corre no subterrâneo, os alagamentos também têm sido frequentes. "Pretendemos construir um tanque de retenção subterrâneo próximo à Praça Afonso Botelho para segurar o excesso de água e não deixar alagar nas quadras seguintes", afirma Almeida. "Para isso, vamos atrás de recursos do Ministério das Cidades", diz ele.

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Prevenção começa com destino correto do lixo

O comportamento dos cidadãos também ajuda a prevenir enchentes em uma cidade e complementa as obrigações do poder público. O alerta, feito pela engenheira sanitarista Maria Rosí Melo Rodrigues, tem o objetivo de conscientizar a população sobre os malefícios de algumas atitudes, como jogar lixo na rua.

"O lixo sem destino apropriado causa o entupimento de córregos e bueiros, o que impede o escoamento da água e causa enchentes, além de trazer doenças", aponta.

Exemplo

Maria Rosí cita como exemplo a Alemanha, onde os cidadãos são taxados conforme a quantidade de lixo que produzem, em um sistema chamado em inglês de Pay As You Throw (Pague conforme você descarta, em tradução livre). "As pessoas cobram umas das outras o descarte correto. Você não pode sequer jogar o lixo em outra lixeira que não seja a sua", lembra.

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A engenheira também ressalta a importância de campanhas de conscientização. "As pessoas não vão aprender sozinhas. Precisam ser informadas", avalia.

Consequências

Além de transtornos, alagamento também causa doenças graves

A última segunda-feira da assistente financeira Susan Peres Carbobiach, 26 anos, se tornou um filme de perseguição e fuga da chuva. Pela manhã, enquanto levava a filha e a amiguinha para a escola a pé, no bairro Orleans, em Curitiba, foi obrigada a retornar depois de andar duas quadras. As meninas acabaram perdendo a aula.

À tarde, quando a chuva parecia ter cessado, resolveu ir ao supermercado com a mãe. Como voltou a cair água, elas ficaram presas por quase uma hora no estabelecimento. Na volta, porém, encontraram o principal obstáculo do dia. Uma poça fechou a rua que leva à casa delas. "Resolvi atravessar porque não parecia tão funda. Mas logo estava com a água pelo joelho", lembra.

Ao chegar em casa e ir tomar banho, percebeu que os pés estavam com uma vermelhidão típica de alergias. "Passei o dia seguinte na cama, com dor de cabeça e febre. Tomei remédios par dor e pomada antialérgica. Hoje [ontem] estou um pouco melhor", situa.

O papel de cada um

Veja algumas atitudes cidadãs que podem ajudar a evitar alagamentos na cidade:

- Mantenha em sua casa espaços abertos, sem calçamento, para que a água possa ser absorvida pela terra.

- Nunca jogue lixo na rua. Mesmo um papel de bala é capaz de se somar a outros rejeitos e entupir ralos e bueiros.

- Faça a separação de recicláveis e destine adequadamente para a coleta. O plástico, por exemplo, é um dos principais entupidores de galerias.

- Onde há sistemas de retenção de água, é dever da comunidade (ou do condomínio) mantê-los vazios, para que essas construções fiquem desimpedidas para abrigar o excesso de chuva.

Fonte: Tegeve Ambiental