Uma das vítimas mais recentes do golpe é uma mulher grávida.| Foto: Reprodução/

Um golpe conhecido há pelo menos sete anos em Curitiba e região voltou a ser praticado este ano. Trata-se do golpe do falso médico, em que criminosos abordam pacientes de hospitais, simulando a possibilidade de uma doença grave e, para confirmar o diagnóstico, solicitam exames fraudulentos, que custariam entre R$5 mil e R$12 mil. Os golpistas pedem que os valores sejam depositados com urgência, sob falso risco do estado de saúde da vítima se agravar e até mesmo de levar à morte.

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Aplicado por telefone, o golpe é feito após os criminosos conseguirem dados de pacientes em período pós-operatório e ligarem para o quarto do hospital. Segundo o presidente da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Fehospar), Renato Merolli, “[os falsos médicos] tranquilizam a vítima sobre o procedimento realizado, dizendo ser imprescindível o uso de medicamentos importados, por exemplo. O valor é negociado conforme a reação do paciente, com vários contatos feitos a partir de então entre as partes via celular”.

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Gestante leva susto

Um dos casos mais recentes aconteceu no mês passado, quando a auxiliar financeira Mayara Stubert, de 31 anos, estava internada no Hospital Nossa Senhora de Fátima, após um episódio de pressão alta. Mayara está grávida e, por precaução, foi encaminhada ao internamento até que saíssem os resultados de alguns exames solicitados pela obstetrícia da unidade. Foi então que o telefone do quarto tocou. “O rapaz do outro lado da linha se identificou como responsável pelo laboratório do hospital. Ele disse que meus exames deram suspeita de leucemia e que o corpo clínico já estava ciente da situação”, conta.

A história continuou bastante convincente, já que o falso especialista afirmou que o plano de saúde de Mayara não cobria os exames complementares. A confirmação do resultado, segundo o golpista, dependia do aluguel de um equipamento especial com valor diário de R$ 15 mil. “Eu desliguei o telefone e comecei a chorar”, lembra a vítima.

Por sorte, a família de Mayara agiu rapidamente e contatou a administração do hospital, que desmentiu a situação. Depois do susto, a gestante define a experiência com um único sentimento: indignação. “Me vi vulnerável porque eles sabiam meu nome, número do quarto e plano de saúde. Não fosse a sagacidade do meu marido, que falou com o hospital, eu com certeza teria caído naquela conversa”.

Golpe antigo

O truque não é novidade na capital. De acordo com a Fehospar , 12 boletins de ocorrência chegaram a ser registrados na Delegacia de Estelionatos e Desvio de Cargas de Curitiba, entre o fim de 2013 e o início de 2014. Esse foi o período com o maior número de registros desde que o golpe surgiu, em 2011. Mas a quantidade real de tentativas de estelionato é muito maior, já que algumas pessoas não fazem boletim de ocorrência.

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Hoje em dia, apesar de estar menos frequente, o golpe do falso médico ainda têm feito vítimas em Curitiba, de acordo com o delegado do titular da delegacia de estelionatos de Curitiba, Leonardo Carneiro. Semelhante ao antigo “golpe do sequestro”, a ação é praticada por criminosos de perfil bastante similar. “Normalmente são pessoas que realizam as ligações de dentro das próprias carceragens. Dos casos apurados pela nossa equipe, grande parte tem essa procedência, porém é difícil traçar um perfil exato dos criminosos”, afirma Carneiro.

Até hoje, no entanto, ainda não se sabe exatamente como os golpistas obtém as informações dos pacientes. A delegacia de estelionatos afirma que o esquema ainda está sendo investigado. Já a Fehospar reconhece que existem alguns métodos prováveis. Entre eles, ligações e conversas informais dentro dos hospitais, com os funcionários e pacientes. Também foi levantada a possibilidade de invasão do sistema de dados, o que até chegou a ser investigado por alguns hospitais, mas não resultou em nada conclusivo.

Prevenção

Segundo o delegado Carneiro, a melhor prevenção é estar consciente a respeito da praxe hospitalar e buscar esclarecimento sempre que situações como essa acontecerem. “Se for feito algum contato nesse sentido, o paciente deve ligar para a administração do hospital e se informar, antes de qualquer coisa”, indica. Também é importante lembrar que o paciente não deve fornecer dados pessoais por telefone.

Já a Fehospar afirma que os hospitais adotaram medidas como a retirada de telefones das acomodações hospitalares e proibição de que funcionários prestem qualquer tipo de informação sobre pacientes por telefone.