| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Instalado com a promessa de melhorar o trânsito entre o Centro e os bairros São Francisco e São Lourenço, o binário das ruas Mateus Leme e Nilo Peçanha começou a funcionar na manhã desta terça-feira (28) e já virou alvo de reclamações de moradores, comerciantes e usuários dos ônibus que passam pela região. Isso porque, segundo eles, os impactos das mudanças no dia a dia são muito maiores do que os benefícios prometidos pela prefeitura.

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Confira as mudanças nos pontos de ônibus no binário

Veja como ficou o trânsito na região da Mateus Leme e Nilo Peçanha

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A principal crítica é a alteração de vários pontos de ônibus ao longo do binário. Com a mudança nos sentidos das ruas, 15 linhas também tiveram suas rotas modificadas. Assim, consequentemente, muitas paradas tiveram de ser adequadas e quem antes descia em um ponto da Mateus Leme para ir ao Centro, por exemplo, terá de desembarcar na Nilo Peçanha, a algumas quadras de distância.

Pontos no sentido Centro-bairro da Rua Nilo Peçanha amanheceram desativados 

É o caso da auxiliar administrativa Ruberli Scheer, de 57 anos, que trabalha em Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e que vai ter seu trajeto alterado na hora de retornar para a capital, já que terá de usar outro ônibus e passar pelo Parque Tanguá para chegar em casa — o que era desnecessário até então. Com a mudança, ela calcula um aumento de 10 minutos no tempo de viagem. “O duro é no inverno, que anoitece cedo. É muito perigoso aqui”, reclamou a mulher, que disse faltar informação suficiente sobre a alteração dos trajetos das linhas.

O estudante Rodrigo Cláudio de Oliveira, de 30 anos, também teve problemas na hora de encontrar uma estação operante. Antes, para ir e voltar da faculdade, ele usava uma linha Água Verde/Abranches, que passava nos dois sentidos pela Mateus Leme. No entanto, nesta terça, ele saiu da aula ao meio-dia e não sabia onde pegar o coletivo em direção ao Centro. “Tive que perguntar para o agente que está orientando o fluxo se todos os ônibus que voltavam agora estão passando aqui [Mateus Leme]”.

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Desde o início da semana, a prefeitura vem distribuindo folders informativos para os passageiros das 15 linhas que passam pela área do novo binário. O material relaciona os ônibus cujas rotas foram alteradas, além de trazer um mapa indicando a localização dos pontos nas ruas Mateus Leme e Nilo Peçanha. Segundo a administração municipal, o panfleto serve exatamente para os passageiros avaliarem qual linha ficará melhor a partir desta terça.

Impacto no comércio

Outro impacto direto com o início do binário está nas lojas. Com a retirada das vagas de estacionamento na Rua Nilo Peçanha, comerciantes da região já preveem uma queda no movimento.

Um dos proprietários de uma padaria praticamente na esquina com a Evaldo Wendler, Marlon Bill Santos foi taxativo: “Vamos ter que fechar aqui”. Ele conta que, logo após as primeiras informações sobre a implantação do binário, protocolou um pedido no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) para saber se existe a chance de retorno de estacionamento na via, mas não obteve resposta até hoje.

Sem vagas de estacionamento, comerciantes cogitam fechar lojas na Nilo Peçanha 

Segundo Santos, só na manhã desta terça-feira, o primeiro do binário, o movimento na panificadora caiu pela metade e que, se o ritmo se manter daqui em diante, seus 12 funcionários correm o risco de serem demitidos. Ele contesta, sobretudo, a falta de diálogo da prefeitura, que não teria conversado com a população para levantar o impacto da mudança. “90% do nosso movimento é de carros que passam aqui. Morador é pouco. Aí vem a prefeitura, sem avisar nada, e fecha o estacionamento “, reclama.

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De acordo com a superintendente de trânsito da prefeitura, Rosângela Batistella, a Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) não descarta a possibilidade de criar novas vagas no futuro. “O que pode ser feito mais tarde é que algum comércio requeira um remanso [vagas recuadas na calçada], da mesma forma que existe na Mateus Leme, e aí a pessoa pode executá-lo, desde que aprovado na prefeitura”, explicou.

A mudança também afetou comércios que dependiam de ruas transversais. Renata Reis trabalha em uma farmácia na esquina entre a Nilo Peçanha e a Carlos Pioli, no Bom Retiro, e lamenta o movimento da manhã, nunca antes visto na loja. “Essa hora, tinha fila aqui. Mas olha, o estacionamento vazio agora”, relata. Segundo ela, entre as 7h e o meio-dia, apenas dez clientes entraram na loja. Isso porque, com a Nilo Peçanha em sentido único, os acessos à farmacia de motoristas que dirigem pela Carlos Pioli foram cortados.

Protesto de ciclistas

Ciclistas protestam contra início do binário 

Os primeiros minutos do binário também foram marcados por um pequeno protesto de ciclistas, que reclamavam da falta de ciclovias, dificultando a movimentação de ciclistas que antes utilizavam a Rua Mateus Leme na ligação entre o Centro e bairros como Bom Retiro, Pilarzinho, São Lourenço, Abranches e Barreirinha.

Para a superintendente da Setran, a instalação de novas ciclovias no binário é desnecessária porque já existe trechos na região para o tráfego de bicicletas. “Nós temos uma ciclovia muito bem feita, muito bem sinalizada na região do São Lourenço, que é paralela à Mateus Leme e é por onde os ciclistas têm circulado e já atende a região”, explica Batistella.

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No entanto, para os ciclistas, isso não é o suficiente, principalmente considerarem o trecho muito perigoso, inclusive de dia. “Ou seja, não tem mesmo mais espaço pra ciclista na cidade”, reclama a estudante Bruna Motta. Para ela, já ajudaria se a prefeitura fizesse do binário uma Via Calma.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]