Ronaldo Kapriec e seu filho Giohn brincando com carrinho de rolimã nas ruas do bairro da Caximba| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Ainda há quem acredite que a simplicidade é o principal ingrediente para levar uma vida divertida e saudável, principalmente no que diz respeito às brincadeiras entre pais e filhos. Em Curitiba, algumas famílias se inspiram em jogos e brinquedos do passado para entreter e ensinar os pequenos a adotar um estilo de vida mais lúdico e ao ar livre. Dentro deste contexto, uma das atividades que possibilita essa integração entre adultos e as crianças é a corrida com o carrinho de rolimã.

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A brincadeira era muito comum em vários lugares da cidade até algumas décadas atrás. Basicamente, as crianças montavam, com a ajuda dos pais, pequenos veículos de madeira, para descer e aproveitar a velocidade de ladeiras e ruas íngremes em Curitiba. Depois da intensa urbanização pela qual os bairros passaram e o aumento do trânsito, os praticantes começaram a se reunir no Parque São Lourenço, que, desde a década de 1970, tem a pista mais famosa da cidade para o carrinho de rolimã.

Ronaldo Kapriec e seu filho Giohn brincando com carrinho de rolimã nas ruas do bairro da Caximba em Curitiba; Ronaldo e a esposa incentivam o filho a se divertir com brincadeiras dos tempos antigos  
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O local continua muito requisitado, tanto que um festival em homenagem às brincadeiras nostálgicas e ao carrinho de rolimã chamado de “Jogos de Piá” foi realizado no primeiro domingo de julho. Mais do que relembrar uma atividade tão comum para os curitibanos nascidos algumas décadas atrás, o carrinho de rolimã no São Lourenço foi uma oportunidade de fortalecer os laços entre pais e filhos por meio da brincadeira ao ar livre. Para muitas famílias, foi a primeira oportunidade de levar os pequenos para conhecer a atividade, ou, para aqueles que já praticavam, confraternizar com outras pessoas que também mantêm a tradição, longe de qualquer instrumento tecnológico.

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Do lado das crianças, não faltava ansiedade e expectativa para encarar a descida. Já os adultos deixavam a nostalgia tomar conta e caminhavam com um leve sorriso de canto de rosto por lembrar o passado e também por ver os filhos animados em brincar da mesma forma que faziam quando tinham aquela mesma idade.

Incentivo às brincadeiras e simplicidade

 

Ronaldo Kapriech, com a esposa, Geisana Mainardes, apresentou a brincadeira da sua infância ao filho, Giohn Kapriech. A família que mora na Caximba, no extremo sul da cidade, foi até o São Lourenço aproveitar a pista própria para rolimã. A principal motivação deles era apresentar um estilo de vida mais lúdico e saudável para o menino, de apenas sete anos.

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“Para as crianças, rolimã é diferente. Eles estão acostumados muito com a rotina de tecnologia, celular e tudo mais. No nosso tempo rolimã era muito comum, ninguém dava uma importância maior. Agora vejo uma oportunidade de se divertir e também unir a família, por causa do passeio e da brincadeira”, conta Ronaldo.

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No fim das contas, o carrinho de rolimã também serviu como pano de fundo para um estilo de vida mais descontraído e livre dos imediatismos e da tecnologia. A família de Ronaldo, por exemplo, aproveitou este contexto para incentivar o filho a fazer mais atividades ao ar livre e exercitar a paciência.

“No passado, a preocupação dos adultos era de que as crianças não ficassem o tempo todo na rua, hoje é totalmente o oposto. As crianças ficam muito dentro de casa, não saem muito com os amigos, ficam sempre no celular. Sem contar que hoje é mais perigoso para uma criança ficar do lado de fora. Então tudo o que incentive essa interação e estar ao ar livre é ótimo”, acrescenta Geisana.

No caso do rolimã, a descida com o carrinho é só uma parte do processo. Não existe uma regra ou consenso especifico de como cada brinquedo deve ser, então pais e filhos usam a criatividade na hora de colocar a mão na massa. O próprio exercício de lidar com a madeira, e ver aquilo se transformando no veículo, faz parte da brincadeira.

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É nesta hora que Ronaldo leva o filho para um cantinho da casa onde os dois começam todo o serviço manual que antecede as descidas. Lá dentro, não há nada além de madeira, ferramentas, materiais de solda e do companheirismo entre a família.

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“No nosso tempo, meu pai até ajudava a gente a fazer, mas era de uma forma mais despreparada, por assim dizer. A gente mesmo acabava improvisando, fazia de qualquer jeito e se quebrava todo. Hoje tenho a sorte de ter um amigo que é artista plástico e me dá umas dicas na hora de projetar um carrinho mais seguro, mas a hora da execução é toda nossa. Meu filho me ajuda, está sempre alcançando os materiais, se interessando para ver como é que faz até ficar pronto. É bonito de ver. O carrinho que fizemos foi preparado para descermos juntos, eu atrás, de copiloto, acho que esse aqui vai durar bastante”.

 

Assim como Ronaldo, muitos outros pais também desceram junto com os filhos, em carrinhos preparados para duas pessoas. A maior parte das crianças que compareceram ao parque tinha pouca idade, no máximo 10 anos. Mesmo assim, os pequenos superavam a ansiedade de descer a pista, alguns deles, pela primeira vez. Depois disso, não paravam mais de querer descer até que os pais não aguentassem mais. Alguns adultos aproveitaram o embalo para também se sentir como crianças. A cena era de muitos tombos e carrinhos quebrando, muitas fotos e gargalhadas da família.

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Nada de competição

Costumeiramente, os praticantes mais assíduos do carrinho de rolimã frequentam o parque São Lourenço aos finais de semana. A pista é considerada de média dificuldade, mas, apesar disso, a maioria das pessoas que praticam vai com o intuito de se divertir, sem disputas de corridas, por exemplo. Basta o tempo estar bom e a pista seca, para que os praticantes comecem a se agrupar no topo do parque. Mais do que reunir os fãs do carrinho de rolimã, é um ponto de encontro para todos os adeptos de uma vida mais despojada e cheia de adrenalina.