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Secretária da Saúde de Curitiba, Márcia Huçulak
Secretária da Saúde de Curitiba, Márcia Huçulak| Foto: Letícia Akemi / Arquivo Gazeta do Povo

Curitiba aboliu a exigência do uso de máscaras em ambientes ao ar livre, enquanto aguarda mais alguns dias antes de anunciar a liberação total, conforme os índices da pandemia continuarem a declinar. Em entrevista à Gazeta do Povo, a secretária municipal de Saúde, Marcia Huçulak, aponta que as máscaras se comprovaram eficazes não só contra a Covid, mas também para frear ondas de doenças respiratórias na cidade, principalmente entre crianças. Para ela, em várias circunstâncias o hábito deveria ser mantido. Confira a entrevista.

Por que a máscara ainda segue sendo exigida em locais fechados em Curitiba?

Na verdade a gente está fazendo um teste. A pandemia ainda não acabou, o vírus ainda está em alta circulação, ele é comunitário. A gente entendeu que o momento é propício para liberar a máscara em ambiente externo, porque a possibilidade de contágio é menor, pela própria circulação do ar. Mas, lembrando que, conforme nosso decreto, o uso é obrigatório em estações-tubo; Está andando na rua? Põe máscara. Entrou no terminal de transporte? Põe máscara. Entrou na rodoferroviária: Põe máscara. A gente recomenda que nesses locais que propiciam a aglomeração de pessoas, que continuem a utilizar máscara.

O fato de não ser obrigatório não significa que o uso da máscara é proibido. Nosso comitê recomenda que se você é um transplantado renal ou candidato a transplante, se está fazendo tratamento de alguma doença grave, se trata câncer, se faz tratamento dialítico, continue usando máscara.

Ou seja, desobrigar o uso não quer dizer desestimular o uso?

Acho que isso precisa estar claro para a população, a gente não pode passar mensagem equivocada. Até porque grande parte das pessoas hoje que internam – casos graves, UTI e óbitos – são de pessoas imunossuprimidas e que estão em tratamento de doenças graves. Ontem, por exemplo, tivemos o óbito de uma pessoa de 64 anos, com comorbidades e que não fez nenhuma dose de vacina.

As pessoas têm de lembrar que só chegamos a este momento por conta da vacina, não há outro fator que tenha nos permitido chegar aqui. E a gente enfrenta uma resistência. Os mesmos pais que advogaram pela retirada total das máscaras abaixo de 12 anos, não advogam pela vacina. Temos uma baixa cobertura vacinal das crianças. Estagnamos em 65% na primeira dose em crianças. Começamos a vacinar em janeiro, já faz mais de dois meses, e a gente não avança. E 35% é um quantitativo expressivo de crianças não vacinadas.

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A gente tem essa preocupação, por isso soltamos primeiro em ambiente externo, vamos avaliar, vamos monitorar, e, se as condições permitirem, poderemos fazer como alguns estados fizeram, como São Paulo fez ontem, liberando a população em qualquer ambiente do uso de máscara. Mas a gente precisa ainda monitorar esse passo e avançar especialmente na vacinação das crianças. E avançar também na população acima de 18 anos em Curitiba, em que todos já foram chamados para fazer reforço, e temos um quantitativo expressivo de pessoas ainda que não fizeram a dose de reforço.

Já é possível voltar à vida normal, ou quase normal, incluindo aí celebrações, reuniões e festas com bastante gente, como era antes da pandemia?

Nosso decreto, praticamente há 15 dias, liberou. A única restrição que tinha (a máscara), que não considero restrição, é uma medida higiênica salutar. É preciso lembrar a população que a máscara foi benéfica, foram dois anos terríveis da pandemia, mas nossos PAs (pronto-atendimentos) infantis ficaram vazios.

Historicamente no período de outono/inverno em Curitiba nossos PAs infantis ficam cheios de crianças com outros vírus; em abril explodem nossas emergências pediátricas de crianças com vírus sincicial respiratório. Então, o uso de máscara não é só contra a Covid. Inclusive, a gente pede que se você acordou de manhã, tá com dor de cabeça, dor de garganta, tossindo – põe a máscara. Independente se é Covid ou não, pode ser um outro vírus, um adenovírus, um vírus da influenza. Agora começa o outono/inverno em Curitiba, e tem muitos casos disso. Então, as medidas de higiene e de proteção deveriam ser incorporadas pela população, independente da Covid. Acho que deve ser um hábito, que muita gente já adotou e vai continuar usando.

A pandemia pôs à prova a estrutura de atendimento à saúde de Curitiba, que viveu, como todo o país, momentos críticos. A cidade tem know-how agora para lidar com situações extremas, caso elas se repitam?

Eu conheço muito bem o sistema de saúde, estou na secretaria há 35 anos. Lembro que há dois anos o pessoal queria me massacrar porque a gente não queria fazer hospital de campanha. A gente entendia a complexidade da doença que iríamos enfrentar, uma doença respiratória grave, e que demandava complexidade de atendimento. Quem fez hospital de campanha desmontou porque não conseguiu dar conta, principalmente de pacientes graves de UTI.

Nós temos uma robustez do sistema de saúde, mostramos para a população curitibana complacência e nossa capacidade de absorver a demanda. Um processo muito harmônico, acho que as redes pública e privada nunca trabalharam juntas em tanta sintonia, conseguimos estabelecer um protocolo na cidade. Se algum curitibano infelizmente perdeu a vida ou teve casos graves, não foi por falta de assistência. Nós conseguimos acolher o curitibano, com nossa central, nosso Samu, nossas UPAs e hospitais, e nossa equipe está muito preparada.

Desde janeiro de 2020 a gente preparou nossas equipes para aquilo que imaginávamos que iríamos enfrentar. E acho que conseguimos, nossa equipe conseguiu dar boa resposta nesse aspecto de estar preparada para atender o curitibano.

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