| Foto: Arquivo da família/

Não fazer arte apenas por fazer ou para benefício pessoal, e sim pensando no impacto positivo que as manifestações artísticas teriam no crescimento interno de quem as consumisse. Era isso que o ator e diretor de teatro Valdir Fagundes, morto este mês, aos 47 anos, buscava em seu trabalho.

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A timidez que demonstrava ao conhecer pessoas novas podia surpreender, por se tratar de alguém que estava o tempo todo no palco enfrentando plateias de forma bem humorada. Porém, entre amigos as piadas rolavam soltas e de repente os encontros se transformavam em uma roda de violão puxada por ele, com todos cantando a plenos pulmões.

Natural de Foz do Iguaçu (PR), desde muito cedo Valdir assumiu o gosto pelos variados tipos de arte, ao se mudar para Curitiba. Seu diferencial era envolver, na maior parte dos trabalhos teatrais que criava, a filosofia e os questionamentos existenciais. Estudioso do tema, atuou como professor de filosofia e também de teatro. Por meio das aulas, influenciou alunos para seguir uma escola mais reflexiva de atuação.

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Foi a partir da união dele com alguns de seus alunos que nasceu a companhia Essencial Teatro. Com ela, foram encenadas peças em festivais e, especialmente, em escolas. O lado social sempre esteve presente nos objetivos de Valdir, que dedicava seus trabalhos a fomentar o pensamento e desenvolvimento pessoal não apenas de quem fazia, mas de quem assistia aos espetáculos. Ambições grandiosas não faziam parte de seu horizonte. Uma vida tranquila e que de maneira sutil fizesse a diferença na vida das pessoas era o que lhe bastava.

Entre as temáticas de seus escritos teatrais estavam assuntos como a esquizofrenia, com a peça “Faces”; as questões da obra “O mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder, na adaptação “Sofia” e o desenvolvimento do comportamento social frente aos obstáculos da vida, no espetáculo “Mudando o mundo”. Seu estilo de fazer teatro era focado mais na interação entre os atores do que na ambientação ao redor, tornando a experiência mais íntima para quem assistia. No palco, se dedicava de corpo e alma para que a atuação fosse fiel ao que acreditava.

O envolvimento com as manifestações artísticas não acabava com os aplausos e o fechar das cortinas. Valdir era muito ligado à imagem, praticava a fotografia e produzia materiais de audiovisual, como um documentário sobre o ofício dos palhaços que atuam em Curitiba. Nas artes plásticas, chegou a organizar pelo menos uma exposição com suas pinturas, mas com o tempo colocou a prática como hobby. Além de todas essas facetas artísticas, publicou um livro de poesias chamado “Solidão”.

Um homem que despertava a reflexão e os questionamentos por meio da arte onde quer que passasse, influenciou não apenas os alunos, mas pequenas “figuras”, como o filho de dez anos, Jorge, que é um espetáculo de si mesmo. A esposa, Alessandra dos Santos Mendes, com quem Valdir dividiu 16 anos da vida, lembra que a sabedoria do marido podia vir nos momentos mais corriqueiros, como nas longas conversas no café da manhã, ou em um espetáculo montado com esmero.