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O animal não morreu vítima da doença da vaca louca. Pelo menos é essa a constatação oficial dos exames laboratoriais feitos em um bovino que morreu há dois anos no Paraná. Isso é fato e põe fim a mais um episódio de suspeita de enfermidade animal que poderia, sim, ter se transformado em caso de saúde pública e segurança alimentar. Mas isso não ocorreu. O rebanho ao qual o animal pertencia foi sacrificado, os procedimentos sanitários adotados e a comunidade internacional comunicada tanto da suspeita quanto da informação de que a doença não havia se manifestado.

Surpresa mesmo foi o fato de a "vaca louca" causar mais alarde agora, quando o mal foi descartado, do que à época, quando a suspeita foi identificada. O problema aí foi de comunicação, esclarecimento e interpretação, inclusive de agentes da cadeia produtiva da carne, que antes mesmo do comunicado oficial do governo sobre o assunto já falavam em um possível revés com o impacto que a discussão poderia causar à imagem do Brasil. Mas que impacto? Qualquer reação do mercado interno ou internacional, imagino, só poderia ser positiva, uma vez que a notícia era de que o país continua livre da vaca louca.

A mídia, por sua vez, também embarcava em especulações que vinham de todos os lados, inclusive de fontes ocultas de dentro do próprio governo. Foi quando o Ministério da Agricultura (Mapa) se apressou em alinhar o discurso e dar a versão oficial tanto para o factual como para contextualizar o assunto. A coletiva concedida pelos técnicos do Mapa na sexta-feira talvez nem estivesse programada, embora tenha sido organizada em tempo. Em tempo para as informações desencontradas não causassem, de fato, temor e reações desnecessárias, como já estava ocorrendo. Entidades e autoridades que manifestaram preocupação na sexta pela manhã, mais tarde tiveram que rever sua posição.

Melhor assim, porque o importante é que tudo ficou esclarecido. Ou seja, não há vaca louca. A vaca morreu, mas de outro mal. O governo investigou, a comunidade internacional validou e a impressa esclareceu a sociedade. Contudo, apesar de a doença não se confirmar, sempre há que o temer. Afinal, o agente causador foi identificado e estava presente, reforçando que em matéria de saúde animal e segurança alimentar a palavra de ordem é sempre a prevenção.

Avicultura

Problema de verdade está em outro segmento da produção de carne. O final do ano chegou sem que a avicultura conseguisse superar uma das piores crises da história do setor. As empresas integradoras reduziram alojamento e limitaram o abate. Algumas fecharam as portas e outras foram incorporadas ou então estabeleceram acordos comerciais para separar operação de campo e de indústria, uma das formas encontradas para otimizar as despesas. Na estratégia para reduzir custos, a busca pela eficiência e produtividade.

Ocorre, que competitividade nunca foi problema à cadeia. A avicultura brasileira, em especial do Paraná e Santa Catarina, estados que lideram produção e exportação de aves, sempre foi referência, no Brasil e no mundo. Então, não tem muito o que e onde cortar. Justamente por conta disso é que o segmento tem dificuldade de sair da crise pelas próprias pernas. O principal item no custo de produção da atividade é o milho. Com o mercado do cereal aquecido e a cotação nas alturas, fica difícil rentabilizar o setor, em qualquer uma das pontas, seja ela a indústria ou o produtor.

As empresas cobram uma ação mais efetiva do governo, através dos ministérios da Agricultura e Fazenda. Já não mais em apoio, mas de socorro. Até porque, a depender do preço do milho o cenário não deve melhorar no curto prazo. Neste momento, o segmento não precisa de outra coisa que não seja milho mais barato, a um preço competitivo e que possa remunerar a atividade.

A julgar o impacto da atividade no desenvolvimento econômico e social do campo e da cidade, a crise da avicultura não é um problema só do produtor e do abatedouro. Os reflexos vão muito além. A produção menor reduz os postos de trabalho, diminui as exportações e vai parar na gôndola dos supermercados. A carne de frango, a proteína animal mais barata e consumida no Brasil, está mais cara. Se este ano o peru vai pesar mais na ceia de Natal, a culpa é do milho? Sim, mas não apenas do milho. Porque milho tem bastante. Na última temporada o país colheu uma safra histórica, com 70 milhões de toneladas do cereal. Tanto é que as exportações também devem ser recordes em 2012, com embarques próximos de 18 milhões de toneladas. Ou seja, tem preço e mercado lá fora. Falta agora uma política de ajuste e regulação do mercado doméstico na busca de um equilíbrio à destinação do produto. De forma que o produtor do cereal seja tão remunerado quanto o produtor de aves.

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