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Segundo turno

Câmara aprova redação final da PEC fura-teto e abre caminho para fim do teto de gastos

Aprovada em segundo turno, PEC fura-teto deve ser promulgada ainda nesta quarta-feira (21) (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

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A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (21), por 331 votos a favor e 163 contrários, a redação final da proposta de emenda à Constituição (PEC) 32/2022, a chamada PEC fura-teto, que amplia o limite de despesas para o governo eleito em, pelo menos, R$ 168,9 bilhões no ano de 2023. O texto também dá mais um passo para o fim da regra do teto de gastos ao prever a instituição de um novo regime fiscal.

Instituído em 2016 por meio da Emenda Constitucional 95, a regra do teto de gastos estabelece que as despesas primárias da União estão limitadas ao mesmo valor executado no anterior acrescido da inflação em 12 meses. A PEC aprovada permite a criação de um novo arcabouço fiscal por meio de lei complementar, estabelecendo prazo até 31 de agosto de 2023 para que o presidente da República apresente uma proposta de mudança.

O dispositivo facilita o fim da atual âncora fiscal, uma vez que, para ser aprovado, um projeto de lei complementar precisa do voto favorável de 257 deputados e 41 senadores. No caso de uma mudança por emenda constitucional seria necessária a assinatura de 171 deputados ou 21 senadores para apresentação de proposta, além do apoio de 308 deputados e 49 senadores em dois turnos de votação nos plenários da Câmara e no Senado.

Em um destaque de plenário, a bancada do Novo ainda tentou suprimir o dispositivo, de modo a manter a atual regra do teto ou obrigar o futuro governo a apresentar uma PEC para a possível mudança. “Esse artigo que nós queremos suprimir da PEC é um dos últimos fios a que está ligado o respirador da responsabilidade fiscal do Brasil”, disse Tiago Mitraud (Novo-MG).

A modificação recebeu apoio das lideranças do PL, PSDB e Cidadania, mas foi rejeitada por 366 a 130 votos, com três abstenções. O governo liberou os votos de sua base.

Após o resultado, o PL decidiu retirar um destaque que havia protocolado para a discussão em segundo turno com efeito idêntico. Como na votação em primeiro turno, somente o partido do presidente Jair Bolsonaro, o Novo e o Republicanos orientaram suas bancadas a votarem contra a PEC.

PEC deve ser promulgada ainda nesta quarta-feira

Bastante desidratada desde a foi apresentada pela equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a PEC fura-teto deve ser promulgada ainda nesta quarta, às vésperas do recesso legislativo.

Para isso, o Senado ainda precisa avalizar a parte do texto que prevê a redistribuição dos recursos que iriam para as emendas de relator – declaradas inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na segunda-feira (19). Em um acordo com a equipe do futuro governo para a aprovação da matéria, o dispositivo foi incluído em substitutivo do relator da matéria na Câmara, deputado Elmar Nascimento (União-BA).

Na terça-feira (20), o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) suspendeu a sessão plenária do Senado pouco após as 20h, prometendo retomá-la nesta quarta para concluir a tramitação do PEC.

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A promulgação da emenda constitucional é considerada fundamental pela equipe de Lula para viabilizar promessas de campanha como o aumento real do salário mínimo, a manutenção da parcela de R$ 600 do Bolsa Família (atual Auxílio Brasil) e o pagamento de um adicional de R$ 150 para crianças de seis anos de famílias inscritas no programa. Para isso, o texto amplia o teto de gastos para o próximo exercício fiscal em R$ 145 bilhões.

Para o ano que vem, o texto aprovado nesta quarta ainda exclui do alcance do teto um porcentual da arrecadação extraordinária de 2022, limitada a 6,5% do excesso realizado em 2021. O valor está estimado em R$ 23,9 bilhões.

Também ficam excetuados do limite de despesas gastos com recursos de transferências entre os demais entes federativos para a União destinados à execução de obras e serviços de engenharia.

Além disso, não entram na regra fiscal despesas de instituições federais de ensino superior feitas com receitas próprias, doações ou convênios; e gastos com projetos socioambientais ou relativos às mudanças climáticas custeados com doações ou com recursos decorrentes de acordos firmados em função de desastres ambientais.

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PEC perdeu musculatura desde que foi apresentada

Embora seja considerada uma vitória do presidente eleito, a aprovação do texto exigiu o consumo de parte considerável da margem de negociação trazida na versão original. Ainda em discussão para formação de uma base no Congresso, o PT viu a proposta ser enfraquecida a cada nova etapa da tramitação.

A minuta do texto, divulgada pelo vice-presidente eleito e coordenador da transição, Geraldo Alckmin (PSB), no dia 16 de novembro, previa excepcionalizar de forma permanente os recursos necessários para o Bolsa Família, além de um porcentual do excesso de arrecadação de 2022, o que somaria R$ 198,9 bilhões para 2023.

Para conseguir as 27 assinaturas necessárias para que a proposta começasse a tramitar no Senado, a base petista aceitou estabelecer um prazo de quatro anos para a duração dos efeitos da PEC.

Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, o relator, senador Alexandre Silveira (PSD-MG) acatou emendas de membros do colegiado e apresentou substitutivo reduzindo a vigência da excepcionalização das despesas para dois anos. Para as despesas relativas ao Bolsa Família, a nova versão também passou a prever a ampliação do teto de gastos em R$ 175 bilhões em vez de retirar o programa do alcance da regra fiscal.

Durante a votação do texto na comissão, o PT aceitou reduzir o valor para R$ 145 bilhões para ter o parecer aprovado. Por outro lado, um dispositivo acrescentado na versão final do relatório permitirá que a União utilize recursos parados em contas do PIS/Pasep para realização de investimentos públicos. Em agosto, a Caixa informou haver R$ 24,6 bilhões em cotas dos programas.

Após ser aprovado com margem considerável e sem novas modificações no plenário do Senado, no dia 7 de dezembro, a PEC ficou em compasso de espera na Câmara dos Deputados por decisão do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), que tentava negociar com o governo eleito cargos para aliados em troca de votos para a aprovação do texto. Lira aguardava ainda o fim do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a constitucionalidade das emendas de relator ao Orçamento, que ocorreu na segunda-feira (19).

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Com uma adesão menor ao texto na Câmara, a equipe de Lula aceitou recuar ainda mais a proposta, reduzindo a duração da licença para gastos extrateto de dois para um ano. O acordo foi fechado em reunião que contou com a presença de Lira e do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, além de líderes partidários e outros deputados.

Também foi retirado da matéria artigo que excluía do alcance do teto investimentos em infraestrutura executados “com recursos de operações financeiras com organismos multilaterais dos quais o Brasil faz parte”. Opositores à proposta viam o dispositivo como uma “licença ilimitada” para gastos com empréstimos de instituições internacionais.

Em outra alteração acordada entre parlamentares e a equipe do presidente eleito, a PEC passou a estabelecer a destinação de R$ 9,85 bilhões para “emendas para ações voltadas à execução de políticas públicas”, que caberão ao relator-geral do Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2023, senador Marcelo Castro (MDB-PI).

O valor é parte dos R$ 19,4 bilhões que seriam destinados em 2023 a emendas de relator, que foram declaradas inconstitucionais pelo STF. O restante será distribuído para emendas individuais de deputados e senadores, que têm natureza impositiva.

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Após os deputados aprovarem, em primeira discussão, o texto-base da proposta, com placar de 331 votos a favor e 168 contrários, a redação sofreu mais uma modificação, em um novo revés para o PT. Um destaque apresentado pela bancada do PL suprimiu trecho que previa que a equipe de transição poderia apresentar sugestões de destinação dos R$ 145 bilhões de ampliação do teto.

Com a retirada do trecho, a prerrogativa passou a ser limitada ao Legislativo, por meio das comissões permanentes das Casas e do relator-geral do Orçamento, o que impõe a equipe do futuro governo a necessidade de negociação da distribuição das verbas.

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