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Nunca foi novidade que o Brasil é um país rico em cultura e miscigenação. Desde a época da colonização, povos indígenas, europeus, afrodescendentes e latinos se misturaram, dando origem à diversidade de crenças religiosas que vemos hoje no nosso país.

Durante anos, o brasileiro foi aprendendo a viver com essas diferenças e respeitando a opinião e religião alheia. Quanto mais desenvolvido o país, teoricamente, mais tolerante a sociedade foi se tornando. Em partes, isso é verdade. Se compararmos com algumas décadas atrás, as pessoas ainda eram muito conservadoras e os desentendimentos por crenças religiosas eram mais frequentes.

Atualmente a situação está bastante diferente. Entretanto, quando o assunto é religião, sempre escapa alguma gafe, ofendendo alguém. Essa questão se torna ainda mais delicada quando o assunto é trabalho. Misturar religião e trabalho é tão polêmico quanto discutir política e futebol. O cuidado deve ser redobrado para que não atrapalhe o desempenho profissional e não crie problemas de relacionamento entre a equipe.

Esse assunto faz-me lembrar de uma história que aconteceu décadas atrás e que, até hoje, serve de exemplo para religiosos e ateus.

Tiago, com apenas trinta e poucos anos de idade, foi contratado por uma grande empresa alimentícia para um cargo de gerência. Era formado em Engenharia de Produção e tinha o perfil profissional perfeito para a posição. Ele fora "escolhido a dedo" por um headhunter devido às suas excelentes competências técnicas e currículo impressionante. Em poucos meses, Tiago tinha se tornado a estrela da empresa. Ele era pontual, extremamente carismático e competente. Todos o admiravam e o elogiavam pelo crescimento que a empresa tinha conquistado depois que foi contratado.

Até então, estava tudo bem. De fato, estava tudo ótimo. O futuro se mostrava brilhante para o jovem profissional. Entretanto, após quase meio ano na empresa, Tiago começou a chegar ao trabalho com a barba mal feita e cabelo despenteado. A situação foi piorando ao decorrer dos dias: a barba e o cabelo cresciam desordenadamente e ficavam cada dia mais sebosos e menos higiênicos. Quando a situação se tornou constrangedora, seu superior o chamou para conversar e entender o que acontecia. Tiago havia feito uma promessa ao Senhor do Bonfim, logo, não podia cortar o cabelo ou fazer a barba. Como se isso não bastasse, disse que iria até o fim com ela.

Perplexo e desnorteado, o chefe de Tiago recorreu ao diretor da empresa para saber como lidar com aquela situação tão peculiar. O diretor lhe deu instruções bem claras: "se Tiago não cortar o cabelo ou se barbear em no máximo uma semana, deve ser demitido". Como a empresa em que trabalhava era do setor de alimentos, cabelos e barbas a fazer eram absolutamente proibidos. Tiago recebeu o aviso. Uma semana depois suas madeixas permaneciam intactas, e a promessa não fora quebrada – pelo menos a dele. Seu chefe o demitira.

É claro que a história de Tiago é um caso extremo, porém evidencia bem o que pretendo dizer com sobre religião e trabalho: são coisas que não devem se misturar. Pelo menos não em um nível tão alto como o dessa história que acabei de contar. Não quero desrespeitar a fé de ninguém, porém é possível e muito comum acabar com uma carreira de sucesso por ofender algum colega religiosamente, não cumprir com as normas da empresa por uma questão de fé ou mesmo por cometer excessos – como no caso da história de hoje.

No artigo de terça-feira falarei mais sobre religiosidade no trabalho e como agir diante de um assunto tão delicado. Até lá!

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