Fortes emoções e pouca racionalidade. Assim foi a segunda-feira na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). A crise de confiança no sistema financeiro internacional e a forte depreciação dos preços das matérias primas levou o Ibovespa a fechar em queda de 5,43%, aos 42.101 pontos. A forte queda do dia, porém, foi vista como um alívio depois da intensidade das perdas ao longo das operações, em um dia que o pregão foi interrompido por duas vezes. As perdas foram amainadas na última hora do pregão, em função do movimento de compra de investidores, que voltaram ao mercado acionário em busca de preços mais baratos. O dólar fechou o dia em alta de 7,58%, a R$ 2,20. Foi a maior cotação desde o dia 25 de setembro de 2006, quando a moeda foi negociada a R$ 2,26.
Desde o dia 1º de agosto de 2008, quando o dólar atingiu sua menor cotação, R$ 1,56, o dólar já subiu 41,02%. Durante o dia, a forte elevação da moeda americana levou o Banco Central (BC) a atuar em leilão de swap cambial para vender dólares, mas o efeito não foi sentido e o real acentuou a desvalorização por volta das 15 horas. Os principais índices da Bolsa de Nova York fecharam na pior queda dos últimos quatro anos. O índice Dow Jones recuou 3,58%; o Nasdaq, desvalorizou-se 4,34%; e o S&P500 teve desvalorização de 3,85%.
Bovespa não parava duas vezes em dia desde a crise da Rússia
Apenas 18 minutos após o início dos negócios, o índice recuou mais de 10% e houve interrupção do pregão. Após retornar as operações, o Ibovespa não resistiu ao cenário crítico externo e caiu mais de 15%, levando ao circuit breaker pela segunda vez no dia, que deixou a Bovespa parada por uma hora. A última vez em que as negociações foram interrompidas mais de uma vez foi em 10 de setembro de 1998, no auge da crise da Rússia.
Preço de matérias-primas pressiona baixa do Ibovespa
O preço das matérias-primas caiu nas bolsas de mercadorias internacionais e empurrou a cotação das principais ações negociadas no Ibovespa.
No fechamento do pregão o petróleo do tipo Brent apresentou desvalorização de 6,09%, a US$ 89,06. O petróleo tipo WTI foi negociado em Nova York a US$ 89,06, em queda de 5,137%.
Por volta das 15h50m o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fizeram um pronunciamento sobre a crise e as medidas que o governo está tomando para evitar danos maiores na economia local. Apesar do reconhecimento das autoridaes de que se trata de uma crise em fase aguda, o mercado financeiro estará cada vez mais influenciado pelo movimento dos mercados externos.
O mercado financeiro deixou de enxergar esta crise apenas como reflexo de um acontecimento pontual, que gerou nervosismo e tende a passar em um curto espaço de tempo. A economia real do mundo inteiro foi atingida e é preciso fazer esforços para contê-la e evitar maiores danos.
Na percepção dos investidores, as quedas do mercado acionário também deixaram de ser motivadas apenas pela saída de investidores estrangeiros - responsáveis por cerca de 36% do volume médio negociado diariamente no Ibovespa. A crise parece ter atingido o comportamento dos investidores locais, que passaram vender suas posições no mercado acionário.
- Os investidores de fora vinham sendo os responsáveis pelas quedas até então. Agora os investidores tomaram a decisão, certa, de sair da bolsa. O mercado perdeu um pouco a racionalidade. Não é possível que empresas como Vale e Petrobras estejam valendo um quinto do que valiam, mas os investidores estão preferindo deixar o dinheiro parado a perder ainda mais . As medidas de ajuda financeira têm deixado os investidores mais inseguros do que aliviados - comentou Roberto Teixeira da Costa, sócio da Consultoria Prospectiva.
Europa e Ásia fecham em queda acentuada
As bolsas mundiais também tiveram uma segunda-feira ruim diante da contaminação da crise financeira americana na Europa e da percepção de que o pacote de socorro ao sistema financeiro aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos não será suficiente para impedir a desaceleração - ou mesmo recessão - econômica mundial. As bolsas européias fecharam em um dos piores níveis dos últimos quatro anos. O FTSE da Bolsa de Londres caiu 5,77% no dia; o Dax, da Bolsa de Frankfurt, recuou 7,07%; e o CAC40, da Bolsa de Paris teve baixa de 9,04%.Mas a pior queda do velho continente foi da Bolsa de Moscou, que despencou 19% hoje.
As bolsas asiáticas foram as primeiras a dar sinais de que o dia não seria dos melhores nos mercados financeiros mundiais e fecharam com fortes baixas nesta segunda-feira.
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