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Laboratório de robótica do Google, em Mountain View, Califórnia. (Foto: Brian Dawson/The New York Times)| Foto: NYT

Em silêncio, o Google vai retomando um programa de robótica ambicioso, mas problemático, que já foi liderado por um executivo que deixou a empresa em meio a acusações de assédio sexual.

Em 2013, o Google gastou dezenas de milhões de dólares comprando seis startups de robótica nos Estados Unidos e no Japão. O projeto incluía duas equipes especializadas em máquinas que se pareciam com seres humanos e se movimentavam como tais. Em um reconhecimento das grandes ambições da empresa, Andy Rubin, o vice-presidente de engenharia responsável pelo projeto, chamou-o de Replicant. (O termo foi originalmente usado no filme de ficção científica "Blade Runner".)

Pouca coisa resultou de tudo isso. Nos anos que se seguiram, o Google vendeu ou fechou as empresas que havia adquirido. A mais conhecida do grupo, a Boston Dynamics, foi comprada pelo conglomerado japonês SoftBank e ainda está trabalhando em robôs que se movem como seres humanos ou animais. Rubin deixou o Google em 2014 após as alegações de assédio.

O Google se reorganizou e reconsiderou seu foco na mecânica de robôs complexos. A empresa começou a retomada de seu programa nos últimos anos, com robôs muito mais simples que as máquinas em formato humanoide penduradas nas paredes do laboratório de Rubin.

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O novo esforço é chamado de Robótica no Google. O projeto inclui muitos dos engenheiros e pesquisadores que trabalharam com Rubin, e é liderado por Vincent Vanhoucke, um dos principais cientistas do Google. Vanhoucke, pesquisador nascido na França, foi uma figura-chave no desenvolvimento do Google Brain, o laboratório central de inteligência artificial da empresa. Sua equipe recentemente se mudou para um novo laboratório no campus principal, em Mountain View.

Recentemente, o "The New York Times" teve acesso a algumas das tecnologias nas quais a empresa tem trabalhado.

As máquinas podem não ser tão atraentes quanto robôs humanoides, mas os pesquisadores do Google acreditam que sua tecnologia sutilmente mais avançada lhes dá um potencial maior no mundo real. A empresa desenvolve maneiras de esses robôs aprenderem habilidades por conta própria, como escolher algo em uma caixa de objetos desconhecidos ou circular por um armazém repleto de obstáculos inesperados.

O novo laboratório do Google evidencia um esforço mais amplo de trazer o aprendizado de máquina à robótica. Os pesquisadores estão explorando técnicas semelhantes em lugares como a Universidade da Califórnia, em Berkeley, e na OpenAI, o laboratório de inteligência artificial fundado pelos poderosos do Vale do Silício Elon Musk e Sam Altman. Nos últimos meses, os dois lugares geraram startups tentando comercializar seu trabalho.

Muitos acreditam que o aprendizado de máquina – e não dispositivos novos e extravagantes – será a chave para o desenvolvimento da robótica para fabricação, automação de armazém, transporte e muitas outras tarefas.

"A robótica sempre esteve no imaginário popular, mas a mudança mais importante é a aplicação do aprendizado de máquina", disse Sunil Dhaliwal, parceiro da Amplify Partners, empresa de capital de risco do Vale do Silício. "A utilidade está no software."

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Os robôs já são usados em armazéns e fábricas, mas podem desempenhar somente tarefas específicas, como pegar um objeto determinado ou apertar um parafuso. O Google quer que suas máquinas aprendam por conta própria.

Em uma tarde recente no novo laboratório, um braço robótico pairava sobre uma caixa cheia de bolas de pingue-pongue, blocos de madeira, bananas plásticas e outros objetos aleatórios. Ao alcançar essa bagunça, o braço agarrou uma banana entre dois dedos e, com um suave movimento do punho, jogou-a em uma caixa menor a vários metros de distância.

Para um robô, foi um movimento notável. Quando apresentado pela primeira vez a esses objetos, o braço não conseguia pegar um único objeto. Mas, equipado com uma câmera que olhava para baixo, para dentro da caixa, o sistema de Google analisou seu próprio progresso durante aproximadamente 14 horas de tentativa e erro.

O braço acabou aprendendo a jogar os itens nas caixas certas cerca de 85 por cento das vezes. Quando os pesquisadores tentaram a mesma tarefa, sua taxa de precisão foi de cerca de 80 por cento.

Isso pode parecer algo muito simples, mas escrever o código de computador para dizer a uma máquina como fazer isso seria extremamente difícil. "Não consigo nem imaginar o que seria preciso para fazer coisas mais complicadas", disse Shuran Song, um dos principais pesquisadores do projeto.

Os pesquisadores acreditam que essas máquinas podem trabalhar em armazéns e centros de distribuição de empresas como a Amazon e a UPS. Hoje, os humanos separam os itens que chegam e saem dos centros de distribuição. Um sistema como o do Google pode automatizar pelo menos parte do processo, embora não se saiba quando estará pronto para uso comercial. A Amazon, que já implantou outros tipos de robótica em seus centros de distribuição, está interessada nessa tecnologia.

Mas muitos especialistas em robótica advertem que levar esse tipo de aprendizado de máquina para o mundo real será difícil. A tecnologia que funciona bem no laboratório muitas vezes não faz o mesmo em um centro de distribuição, porque não consegue lidar com objetos inesperados que não tenha visto antes ou com tarefas que exijam movimentos que nunca tentou.

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"Essa não é a solução certa para todos os problemas", disse Leif Jentoft, diretor-executivo da empresa de Massachusetts RightHand Robotics e experiente pesquisador de robótica. "Essas tecnologias às vezes podem parecer mais poderosas do que são."

Em outro canto do laboratório do Google, os pesquisadores estão treinando mãos robóticas para manipular objetos – empurrá-los, puxá-los e girá-los de maneira sutil.

As mãos de três dedos não são complexas, pelo menos no sentido físico. O software que as ajuda a aprender é a grande novidade, e os pesquisadores esperam que elas acabem aprendendo a usar ferramentas e outros equipamentos.

O Google assumiu uma abordagem semelhante com todo o seu hardware robótico. O braço que distribui objetos em caixas não é uma máquina elaborada, projetada por seus engenheiros. Construído pela Universal Robots, ele é normalmente usado para a manufatura e outras tarefas. O Google o está treinando para fazer coisas que não conseguiria.

"A aprendizagem está realmente nos ajudando a superar os desafios dos robôs de baixo custo", disse Vikash Kumar, pesquisador do Google que supervisiona esse projeto.

Em uma terceira parte do laboratório, os pesquisadores estão treinando um robô móvel vendido por uma startup do Vale do Silício, a Fetch. Essa máquina está aprendendo a navegar em espaços desconhecidos, o que pode ajudar em lugares como armazéns e fábricas.

O Google não divulga o método de implantação das tecnologias que está desenvolvendo, mas, como com outras formas de automação, há a questão óbvia da eliminação de postos de trabalho.

"É difícil imaginar um futuro em que esse não seja o caso", disse Michael Chui, parceiro do McKinsey Global Institute, uma organização de pesquisa de negócios.

Mas outros pesquisadores acreditam que os robôs vão complementar o trabalho humano, não substituí-lo.

"Há ainda muitas atividades em armazéns que os robôs não podem fazer", disse Ken Goldberg, professor de robótica em Berkeley e um dos pesquisadores da Ambidexterous Robotics, uma nova startup. "O que eles podem fazer é ajudar nas tarefas maçantes."

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