BNDES prevê liberar R$ 300 bilhões até 2026, mas todo esse crédito direcionado pode significar juros mais altos para quem não tem acesso ao banco de fomento.| Foto: Divulgação/BNDES
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Uma das frustrações com o Produto Interno Bruto (PIB) de 2023 foi a queda de 3% no investimento produtivo. No mesmo período, a atividade econômica cresceu 2,9%. Foi o segundo ano consecutivo em que os desembolsos em máquinas, equipamentos e construção civil – reunidos na rubrica Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – tiveram desempenho pior que o da economia como um todo.

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Economistas esperam uma melhora de agora em diante, ainda que tímida. A expectativa da XP, por exemplo, é de um crescimento de 1,3% no investimento em 2024 e de 2,8% no ano que vem. "O pior momento parece ter ficado para trás, embora o cenário de curto prazo permaneça desafiador", afirmam economistas da corretora.

Há sinais de recuperação no investimento. A produção de caminhões e ônibus aumentou 28,7% no primeiro bimestre de 2024 em comparação com o mesmo período do ano passado, conforme apontado pela Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). As importações de máquinas e equipamentos cresceram 7,3% entre janeiro de 2023 e 2024, conforme sinalizado pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Outro sinal positivo vem da indústria automobilística, que desde o fim do ano passado anunciou investimentos de R$ 86 bilhões no país até 2032. Um dos reflexos poderá ser o aumento dos investimentos em ativos fixos. "O setor tem um forte efeito multiplicador sobre o restante da economia", destaca Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.

Confira a seguir fatores que podem contribuir para um aumento do investimento produtivo no país. E também os que podem dificultar esse avanço:

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O que favorece a ampliação do investimento no Brasil

Três fatores, na avaliação de analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, podem estimular um maior volume de investimentos na economia:

  • recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES);
  • medidas de depreciação acelerada; e
  • recuperação mais forte da indústria da construção civil, motivada especialmente pelo segmento imobiliário de baixa renda.

Recursos do BNDES

O governo federal lançou recentemente um plano de "reindustrialização" do país. Um dos instrumentos será o BNDES, que anunciou a destinação de R$ 300 bilhões até 2026 para essa finalidade.

Os desembolsos reais (acima da inflação) do banco para a indústria brasileira estão nas mínimas históricas na instituição de fomento. "Acreditamos que os desembolsos aumentarão daqui para frente, mas há uma elevada incerteza sobre o impacto líquido no mercado de crédito", destaca a equipe de análise da corretora.

A preocupação, entretanto, está voltada para o longo prazo: um aumento na liberação de recursos públicos, como os do BNDES, poderia reduzir os efeitos da política monetária, limitando o espaço do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central para reduzir quedas na taxa Selic. Dessa forma, quem não tem acesso ao banco de fomento acabará pagando juros mais altos para compensar a "perda de potência" da Selic sobre o mercado total de crédito.

Depreciação acelerada

A depreciação acelerada funciona como uma antecipação de receita para as empresas, ao permitir que o valor utilizado na compra de máquinas e equipamentos seja abatido das declarações futuras do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

Na terça-feira (19), a Câmara dos Deputados aprovou projeto do governo concedendo esse incentivo fiscal a empresas de setores que serão definidos mais adiante, por decreto. A proposta ainda precisa ser analisada pelo Senado.

Segundo a XP, em condições normais, a dedução ocorreria de maneira gradual ao longo de 25 anos, acompanhando o ritmo de depreciação dos bens de capital. Na proposta do governo, aprovada pela Câmara, o abatimento dos equipamentos adquiridos neste ano poderia ser realizado em apenas dois anos – metade no primeiro e metade no segundo.

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Retomada da construção civil

Um fator que pode estimular o investimento no setor produtivo é a retomada da construção civil devido à queda nas taxas de juros, redução dos custos de produção e demanda sólida em diversas regiões.

"Sinais recentes sugerem que o aumento no segmento imobiliário destinado a famílias de baixa renda pode ser mais intenso do que o inicialmente esperado", destaca a corretora. No ano passado, o valor das vendas cresceu 55,1%, atingindo R$ 26 bilhões, conforme destaca a Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).

O que atrapalha o avanço do investimento no Brasil

Por outro lado, três fatores podem afetar o crescimento dos investimentos na economia:

  • ventos contrários no cenário global;
  • incertezas na condução da política econômica, inclusive na área tributária; e
  • política monetária contracionista por mais tempo.

Ventos contrários no cenário global

A corretora lembra que as condições externas foram relativamente favoráveis para o país. No entanto, uma série de fatores pode atrapalhar a realização de investimentos: um deles é a escalada nas tensões geopolíticas. Além da guerra entre Rússia e Ucrânia, há o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza, que começou em outubro.

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Incertezas na condução de política econômica

Há também um aumento na incerteza sobre a condução da política monetária nas maiores economias globais, o que fez aumentar a aversão ao risco nas últimas semanas. O resultado é que as moedas de países emergentes se desvalorizaram. No caso do Brasil, o dólar voltou a ser negociado na faixa de R$ 5.

A persistência desse cenário poderia piorar as projeções para a importação de máquinas e equipamentos e, consequentemente, a dinâmica de investimentos. "Os riscos de recessão nas economias centrais vêm e vão, deixando também mais incertas as perspectivas para os preços das matérias-primas", destaca a XP.

Outra preocupação em relação ao andamento dos investimentos vem da situação fiscal, mesmo com as projeções de melhoria no resultado primário (a diferença entre o que o país arrecada e gasta, excluindo as despesas com os juros da dívida pública).

O aumento contínuo do endividamento público nos próximos anos deverá manter prêmios de risco sobre os ativos financeiros domésticos. Esta situação é reforçada pela preocupação com políticas parafiscais, como a maior liberação de créditos do BNDES.

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"Esses elementos aumentam a percepção de riscos, reduzindo a confiança dos empresários e, consequentemente, afetam as decisões de investimento. Além disso, as incertezas em torno das medidas governamentais que aumentam o ônus tributário podem desencorajar os investidores, ao menos no curto prazo", destaca a corretora.

Uma alternativa para minimizar esses impactos, segundo Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, é o governo tentar perseguir, ao máximo a meta de déficit zero em 2024 – apesar de ela não acreditar que isso seja concretizado.

Veronese aponta que esse comportamento poderá ajudar a aumentar a confiança tanto de consumidores quanto de empresários.

Pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) aponta que a confiança dos consumidores está no nível mais baixo desde maio, mesmo com a boa situação do mercado de trabalho e da inflação sob controle. Isso porque o peso do endividamento ainda parece limitar a capacidade de compra das famílias.

Em paralelo, as previsões menos animadoras sobre a demanda fizeram com que a confiança empresarial registrasse a primeira queda em nove meses.

Política monetária contracionista por mais tempo

Um fator que pode dificultar a concretização dos investimentos é o ritmo de redução da taxa Selic. A expectativa é que a taxa atinja o patamar de 9% ao ano até o terceiro trimestre. Esse nível é considerado por muitos economistas como neutro, ou seja, que não impacta a economia positiva ou negativamente.

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Há, entretanto, riscos de que o atual ciclo de redução na taxa de juros possa se encerrar antes do esperado, com uma taxa final mais elevada. Isso poderia ocorrer em um cenário de inflação mais resistente, atividade doméstica mais forte do que o esperado, piora do ambiente global e depreciação cambial.

Na quarta-feira (20), ao reduzir a Selic em 0,5 ponto percentual, o Banco Central mandou um recado nessa direção. Em vez de dizer que anteviam novas reduções de meio ponto "nas próximas reuniões", como vinham fazendo, os membros do comitê reduziram esse horizonte a "na próxima reunião".

Taxa de investimento não deve avançar muito

Analistas ouvidos pela Gazeta do Povo apontam que é improvável que a taxa de investimento tenha uma evolução significativa nos próximos dois anos. No ano passado, segundo o IBGE, ela correspondeu a 16,7% do PIB. Para 2025, a previsão da XP Investimentos é de 17,2%.

O crescimento, entretanto, é insuficiente para resolver os antigos problemas da economia brasileira, afirma o presidente do conselho curador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Simão Davi Silber: "[Nos níveis atuais e projetados] a taxa de investimento não permite repor o que está envelhecendo".

Segundo analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, o ideal para países emergentes como o Brasil seria que a taxa de investimento estivesse entre 20% e 25% do PIB, para possibilitar um crescimento maior sem aumento da inflação e para atender às crescentes necessidades da sociedade.

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Outro problema apontado por Silber é que a capacidade produtiva do país não vem crescendo. É uma tendência presente, pelo menos, desde 1996. De lá para cá, a atividade econômica se expandiu em 83,4%, ao passo que a FBCF – que mede o investimento produtivo – aumentou 64,6%.

A economia brasileira, portanto, tem sido movida mais a consumo do que a investimento; e sem este último, a capacidade de continuar crescendo fica cada vez mais comprometida.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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