Plenário do Senado Federal.| Foto: Marcos Oliveira/Senado Federal do Brasil
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O Senado adiou mais uma vez, agora para esta quinta-feira (10), a análise em plenário de dois projetos que buscam reduzir os preços dos combustíveis e que estavam previstos para serem votados nesta quarta-feira (9). As matérias já haviam entrado na pauta da Casa há duas semanas, mas diante da falta de acordo de lideranças, acabaram postergadas para depois do carnaval.

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Desta vez, houve pedido do Executivo para que a votação não ocorresse nesta quarta. O vice-líder do governo no Senado, Carlos Viana (MDB-MG), queria o adiamento para a próxima terça-feira (15), alegando que governadores precisavam ser ouvidos. “Os governadores se manifestaram, pediram que tenhamos a paciência de entender quais são as reivindicações deles. Tem que ser uma decisão nacional, de política pública, não pode ser uma política de governo, momentânea”, prosseguiu.

“Na terça-feira [15], presidente Rodrigo Pacheco, há um compromisso do governo de votarmos as duas matérias e darmos uma resposta definitiva a todos os brasileiros dentro do compromisso de apresentarmos uma nova política, mantermos o preço dos combustíveis dentro de um equilíbrio possível, mas com toda a responsabilidade fiscal e legal em nosso país”, disse.

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Houve resistência do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que defendia a urgência do tema em razão da disparada do petróleo no mercado internacional após o início da guerra na Ucrânia. A solicitação, no entanto, foi inicialmente acatada pelo relator das matérias, Jean Paul Prates (PT-RN).

“Acato e dou as boas-vindas a esse pedido, apesar de ter dito diversas vezes a todos aqui e até à imprensa que não adiaríamos mais. Mas acho que é uma boa causa”, disse Prates. “Talvez ganhar mais esses dias nos ajude a de fato ter uma conciliação completa e uma solução integrada, organizada, que o governo facilmente poderá implantar. A Câmara receberá esse projeto completamente arredondado de arestas, o que também representa um ganho muito grande.”

Com protestos de senadores como Eduardo Braga (MDB-SE), Eduardo Gomes e Weverton (PDT-MA), Pacheco determinou a votação para a sessão desta quinta-feira (1), com prazo para apresentação de emendas até as 10 horas.

A escalada no preço do petróleo no mercado internacional vem pressionando o governo federal, que já considera adotar medidas controversas para conter a elevação dos preços no mercado interno. Nesta terça-feira (9), o presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com os ministros da Casa Civil, Ciro Nogueira, da Economia, Paulo Guedes, de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para discutir o assunto.

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Anteriormente descartadas, medidas como uma mudança na política de preços da Petrobras e um programa de subsídio ao setor são consideradas possibilidades concretas em um ano em que Bolsonaro deve disputar a reeleição.

Governadores se opõem a mudanças na cobrança do ICMS

Governadores se opõem particularmente a um das propostas do pacote, o projeto de lei complementar (PLP) 11/2020, que prevê mudanças na fórmula de cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) sobre combustíveis.

As novas regras tendem a baixar os preços da gasolina, do óleo diesel e do gás de cozinha, mas são criticados por entidades que representam estados e municípios, em razão da potencial perda de arrecadação.

A proposta prevê que o ICMS incida de maneira monofásica, ou seja, uma única vez; seja cobrado sob valor fixo por litro de combustível (“ad rem”); e tenha alíquota uniforme para todas as unidades federativas.

Hoje, o tributo é calculado no final de toda a cadeia de distribuição, o que cria o chamado “efeito cascata”, e é recolhido como um porcentual (“ad valorem”), que é definido em cada estado. Variando de 23% a 34% sobre o preço da gasolina, e de 12% a 25% no óleo diesel, dependendo da unidade federativa.

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Conforme o texto do projeto, os estados devem definir em conjunto uma alíquota do imposto, que pode ser diferenciada por combustível mas que deve ser aplicado por todos os entes. A decisão deve ser tomada no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), órgão que reúne os secretários de Fazenda de todos os estados, até o fim de 2022.

Na versão aprovada na Câmara no ano passado, previa-se ainda que a alíquota deveria ser calculada sobre um valor médio dos combustíveis dos últimos dois anos, em vez de se considerar o preço médio de 15 dias, como é hoje. O dispositivo, no entanto, que foi retirado por Prates.

O relator ainda acrescentou em seu substitutivo a ampliação do auxílio-gás, que custeia 50% do preço médio do botijão de 13 quilos a cada dois meses para cerca de 5,5 milhões de famílias. Caso o texto seja aprovado, mantido na Câmara e sancionado por Bolsonaro, o benefício será estendido para 11 milhões de famílias.

Outro projeto em discussão prevê fundo de estabilização dos preços dos combustíveis

O segundo projeto que integra o pacote é o PL 1.472/2021. De autoria do senador Rogério Carvalho (PT-SE), a proposta prevê a criação de uma conta com recursos para estabilizar os preços dos combustíveis, que seria abastecido com dividendos devidos pela Petrobras à União, além de outros recursos. Na proposta original, havia previsão ainda da criação de um novo imposto, que incidiria sobre a exportação de petróleo bruto, mas o dispositivo acabou caindo.

O PL ainda prevê alterar a política adotada desde 2016 pela Petrobras, conhecida pela sigla PPI – de preço de paridade de importação. Com o PPI, a estatal utiliza como referência para os reajustes na gasolina, no óleo diesel e no gás de cozinha a cotação do barril de petróleo no mercado internacional, além de custos de importadores, como transportes e taxas portuárias.

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Pela proposta, os preços internos praticados por produtores e importadores de combustíveis teriam como referência, além da cotação do mercado internacional e das despesas de importação, também os custos internos de produção – que, desindexados do câmbio, levariam os preços para baixo. O texto foi aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado em dezembro.