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A minha paixão pelo futebol, que começou ali pelos oito, nove anos de idade, sempre foi espontânea e independente. Nunca induzido, mas talvez seduzido por algum fato, me fiz torcedor do Operário Mercês, meu primeiro time na infância. Nessa época, onde se jogava bola em qualquer espaço improvisado, havia outra riqueza criativa que era o jogo de botão. À noite, depois do jantar, a mesa de cozinha da nossa casa se transformava em estádio – a primeira arena multiuso que se tem notícia... –, onde brotou do imaginário o Manchester United. O apego por este jogo e pelo time que mantenho ainda concentrado me fez levá-los (os craques de botão) ao "Teatro dos Sonhos", o estádio "Old Trafford", durante a Olimpíada de 2012. O Manchester (inglês) me é simpático, mas não torço por ele, o que é bem diferente.

A publicação dos últimos dados de uma pesquisa nacional sobre o público torcedor de futebol registrou que 30% dos paranaenses não têm qualquer clube de preferência, mesmo depois de uma Copa do Mundo realizada aqui. Se, em cada dez monges budistas, três fossem indiferentes ao futebol, eu até entenderia. No caso da enquete da semana, embora não coloque em dúvida a credibilidade, acho estranho.

Não sei se a pergunta do pesquisador foi clara. Há uma diferença entre torcer ou simplesmente simpatizar. Torcer significa ir ao estádio, vibrar, sorrir, chorar pelo clube escolhido. Simpatizar por determinadas cores é outra coisa. Mesmo assim, admitindo que, de fato, 30% dos paranaenses não gostam de futebol – aliás, o maior índice de indiferença a este esporte em todo o país –, tento encontrar uma razão que explique. Não acho. Ainda mais dentro de um estado onde não há nenhuma competição de alto nível em outros esportes, fosse voleibol, automobilismo, tênis, briga de galo, peteca... Pode ser então que, em cada dez paranaenses, três queiram meditar no Tibet. Ou não.

Mas a pesquisa não para por aí. Ela deixa bem claro que o futebol, por essas bandas, está cada vez mais elitizado. O Atlético, que segundo o levantamento é o nosso representante com o maior apelo de torcedores (ocupa a 15.ª posição no ranking nacional), é o último entre os chamados clubes de massa, a agregar os torcedores mais pobres. Não há dados específicos sobre Coritiba e Paraná Clube. Fica claro, porém, que a tendência é o distanciamento dos menos favorecidos, que já tiveram o futebol como única área em que sua participação é eficaz: hoje eles vaiam e amanhã o técnico é dispensado.

Nada a ver com violência ou torcida organizada, que é outra coisa. Mas num país onde a maioria da população é pobre, o afastamento do esporte mais popular dessa camada social é um retrocesso. E hoje, com a escassez do futebol suburbano, o futebol de botão talvez seja o que resta.

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