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O que é mais complexo: entender a crise argentina ou desvendar o "caso" Thiago Neves? Quando o repórter Leonardo Bonassoli me ligou esta semana para falar sobre a crise do Paraná Clube, me deu um nó na cabeça. Eu estava em Buenos Aires quando quebrei o cochilo – reitero minhas desculpas, Bona! – e aí embolou o meio de campo. Crise lá, crise cá. Crise para todos os gostos.

O Clarín, opositor declarado do governo de Cristina Kirchner, deve ser lido como se bebe: com moderação. O Canal 7 – a televisão estatal deles – deve ser acompanhado como se entra no mar: com cuidado. Há que se ter um ponto de equilíbrio para afinar a percepção de uma crise. Deduzi que eles aguentam, e às vezes superam as dificuldades, ainda pelo orgulho e um enorme marketing que parece vir da alma.

O Paraná não está vivendo uma crise financeira pela trapalhada na venda de Thiago Neves. É, diria, um pequeno caso complexo, onde, pelo visto, quem pisou na bola foi Aurival Correia. Mas isso é efeito, e não a causa. Quando o organismo está debilitado, o corpo fica vulnerável a uma série de doenças. A saúde financeira do Paraná que foi deixada para a gestão de Ocimar Bolicenho, por exemplo, era de fazer inveja. O clube acumulava patrimônio e dinheiro o suficiente para montar uma estrutura de 20 anos. O país vivia um período de hiperinflação, e Ocimar fazia operações legais a curtíssimo prazo, os overnights, ganhando muito, pagando os melhores salários e contratando quem queria. No imediato, ganhou tudo. No planejamento, não deixou nada.

Buenos Aires não é mais a charmosa cidade de décadas atrás. A luxuosa Recoleta, para indignação das senhoras que frequentam boutiques e lojas de grife, abriga hoje moradores de rua. A soberba de alguns argentinos está um tanto rebaixada. O peso cotado a 13 por um (dólar). Inflação alta e maquiada, desemprego, dívidas monstruosas, calote. No hall do hotel onde fiquei, estavam filmando cenas de "Doidas e Santas", filme brasileiro em produção, mas que eles se orgulham por uma ou outra cena se passar lá.

Não vejo o Paraná com perfil que lembre os hermanos. Acho até que existe humildade franciscana para um clube que já subiu aos céus. O absurdo paralelo que não traço entre crises tão desiguais só me faz entender que o problema do clube é uma migalha. Antes da troca de acusações, processos daqui e de lá, inquisidores e tal, deve haver um armistício. Não basta, porém. Falta ao Tricolor uma liderança criativa – não necessariamente no cargo de presidente – que explore com sabedoria a imensa jazida que está na mistura das cores, no patrimônio material, na gama de simpatizantes e no carisma do nome.

Os hermanos paranistas precisam de um plano sério e profissional de marketing, do tamanho do orgulho dos nossos vizinhos argentinos.

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