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A Suburbana – cujo nome carrega nas costas o olhar enviesado do curitibano, que esnoba as bordas de sua cidade e desdenha os recônditos perdidos nos bairros – é a terra das dificuldades. Não é lugar para os fracos. Só os fortes sobrevivem. Nada é fácil. Nada vem embalado no sonho dourado que o futebol tanto espalha mundo afora. Na Suburbana, só os abnegados não desmoronam. Por trás dos poucos times (neste ano, apenas 29 equipes disputarão as duas divisões: Especial e Primeira; já foram muitas dezenas, divididas em vários grupos; a nossa periferia parece encolher a cada ano), estão dirigentes, auxiliares, jogadores, amigos e familiares que apenas desejam manter vivo algo que só se explica pela paixão.

É a paixão que move os clubes. Sonha-se com o título, é claro. Mas antes de tudo está a sobrevivência das cores de uma equipe que se orgulha de representar um bairro, mesmo que este lhe desdenhe na maioria das vezes. Não importa. O importante é estar vivo, pulsar, sobreviver em campos esburacados e de grama rala (nem todos), e alguma torcida. De um modesto River a "superpotências" como Combate Barreirinha e Trieste, a dificuldade é a mesma: a eterna luta para colocar o time em campo.

Dirigentes tiram dinheiro do bolso para bancar seus clubes de uma vida inteira. Não há retorno financeiro. Poucos são os patrocinadores. (Agora, algumas equipes começam a investir na formação de atletas para entrar no autofágico mercado do futebol).

Dos jogadores, espera-se a vitória. Sim, algo óbvio: apenas a vitória. E o que muda quando um time ganha uma partida ou o campeonato? Pouca coisa. Ou quase nada aos olhos de quem está distante desse microcosmos a envolver Curitiba. O título é a recompensa (o orgulho) do amor empregado ao longo de um tempo. Os clubes não ficam mais ricos. Pelo contrário, para vencer um campeonato, é preciso investir: deve-se formar um time forte, destinando alguns trocados aos atletas. Poucos são os que não pagam os jogadores. Se comparados ao universo dos grandes clubes profissionais, na maioria das vezes, os valores são quase inexpressivos. No entanto, todos se sentem valorizados.

Vive-se um pouco do sonho de ser profissional. Sim, a Suburbana também é o abrigo para a frustração de muitos que não conseguiram ganhar a vida com o futebol. É também o espaço para os últimos dribles de ex-profissionais. Ainda há campo para todos.

Mas hoje à tarde — quando 12 equipes iniciam a luta pelo título da divisão Especial —, as dificuldades serão deixadas de lado por um momento. O que importa é a agradável sensação de que a periferia ainda é uma terra de gigantes.

Rogério Pereira, 34 anos, é jornalista. Joga na Suburbana desde 1989. Atualmente, defende o Imperial, da 1.ª Divisão, onde pretende pendurar as chuteiras em breve.

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