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Maconha e acidentes de trânsito
Propaganda da maconha em um semáforo de Aachen, Alemanha, 2013. Estudo canadense com quase um milhão de feridos em acidentes de trânsito descobriu que os associados à maconha cresceram quase 500% e geram ferimentos mais graves.| Foto: Túrelio/Wikimedia Commons

O Canadá começou a colher os frutos da maconha recreativa, descriminalizada no país em 2018. Um novo estudo de pesquisadores afiliados a três instituições de Ottawa descobriu que, nos últimos 13 anos, o atendimento de emergência por acidentes de trânsito relacionados a motoristas sob o efeito da erva aumentou 473%, além de serem mais graves, levando a um tempo maior de internação. O aumento dos atendimentos entre a legalização e a abertura completa da comercialização da droga foi de 223%. O estudo foi publicado no começo do mês (6) na revista JAMA Network Open, da Associação Médica Americana.

O aumento observado após a legalização do uso recreativo também foi associado à pandemia de Covid, porém, diferentemente da doença, os efeitos psicoativos da Cannabis têm mecanismos muito plausíveis pelos quais prejudicam a atenção ao volante. Outros estudos já indicavam que o uso aumentava o risco de colisões de veículos automotivos, e o Canadá já implementou um limite legal de tetrahidrocanabinol (THC), o princípio psicoativo da planta, no sangue dos condutores.

O mercado demorou alguns anos para se adaptar à nova realidade, por isso os efeitos negativos da maconha no trânsito não haviam sido descritos com clareza antes do estudo. No começo, o governo canadense permitia apenas a venda de flor de maconha desidratada em pouquíssimos estabelecimentos. A partir de 2020, os limites ao número de lojas foram removidos e a variedade de produtos explodiu com equipamentos de vaporização, produtos comestíveis e extratos concentrados. Entre 2019 e 2021, as vendas cresceram quatro vezes e o número de lojas, 47 vezes. Como a pandemia reduziu a circulação de veículos, o número de acidentes poderia ter sido ainda maior.

Os dados são da província de Ontário, a mais populosa, com mais de 14 milhões de habitantes. Os cientistas excluíram dos dados os menores de 16 anos, idade mínima para dirigir no país. Ciclistas e pedestres foram incluídos. O estudo se ateve aos casos em que os efeitos da maconha foram confirmados como a principal causa dos ferimentos que precisaram de atendimento de emergência.

O estudo incluiu 947.604 feridos no trânsito que recorreram à emergência hospitalar. O álcool ainda está muito à frente da maconha: esteve associado a 18 vezes mais acidentes que a erva, cuja contagem total de casos foi de 426. Todavia, a maconha ganha do álcool na taxa com que aumentou sua presença nos acidentes: 475,3% contra 9,4% do álcool durante o mesmo período. Além da intoxicação com THC, 10% dos casos dos feridos em acidentes associados foram causados por efeitos da dependência. Quase 80% dos envolvidos são homens jovens.

Os resultados do novo estudo vêm para confirmar uma revisão de nove estudos, de 2021, na qual seis deles descobriram que o acesso facilitado à maconha no comércio de varejo foi associado a mais acidentes de trânsito. Nos períodos analisados, os acidentes provocados por condutores alcoolizados ficaram estagnados ou até caíram.

A natureza dos ferimentos provocados por condutores sob o efeito da maconha também se mostrou diferente. “Na média, foram bem mais graves que as visitas à emergência que não envolviam a Cannabis, com maiores taxas de internação”, comentam os autores. “O uso da Cannabis pode aumentar o risco de ferimentos e da severidade de tais ferimentos”. Para eles, a prevenção de acidentes causados pelo uso de maconha “é uma prioridade na saúde pública”.

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