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Os recentes atentados jihadistas de Paris, que deixou 17 pessoas mortas, entre elas quatro vítimas em um mercado judaico da capital, estimularam ainda mais uma crescente migração para Israel de judeus da França, preocupados com o aumento dos atos antissemitas no país.

"Instalou-se o sentimento de que a comunidade judaica da França se transformou em um alvo. Contra os atos antissemitas, os judeus estão sozinhos", afirmou o analista político Jean-Yves Camus em entrevista publicada neste domingo no "Le Nouvel Observateur".

Camus indica dois eventos concretos para explicar o fenômeno migratório, conhecido como aliá, que registrou um notável aumento nos últimos anos na França, o país com maior população judaica da Europa (500 mil).

O primeiro foi o assassinato em 2006 de Ilan Halimi, um judeu de 23 anos encontrado agonizante e com queimaduras em 80% de seu corpo próximo a uma ferrovia de Paris, três semanas após ter sido sequestrado por um grupo conhecido como "gangue dos bárbaros".

O segundo foi o ataque cometido por Mohammed Merah, um francês de origem argelina de 23 anos que em 2012 assassinou sete pessoas em Toulouse e seus arredores. O atirador executou três crianças franco-israelenses e um rabino na porta da escola judaica Ozar Hatorah

A Agência Judaica para Israel, que dá cursos de hebraico e apoio financeiro aos judeus que desejam imigrar, afirma que 7.321 judeus franceses foram para Israel no ano passado.

O número representa quase o dobro dos 3.393 casos de 2013 e supera os 3.870 cidadãos americanos que partiram rumo a Israel em 2014.

O Serviço de Proteção da Comunidade Judaica (SPCJ) detectou um aumento de 91% de atos antissemitas na França entre janeiro e julho de 2014 em relação ao mesmo período do ano anterior.

Em 2014, foram registrados 527 casos, contra 276 do ano anterior. Os atos vão desde agressões verbais e físicas até pichações em templos e profanação de túmulos.

O SCPJ se refere a um antissemitismo "poliforme", que não se refere apenas à conjuntura geopolítica do conflito árabe-israelense, mas "é estrutural, ou seja, intrínseca da própria sociedade francesa", segundo o professor de história e geografia Jean-Paul Fhima disse para o "Le Nouvel Observateur".

O jornal "Slate.fr", em artigo divulgado hoje e intitulado "Aliá: os judeus franceses não se vão só porque são judeus", ressalta que a estagnação da economia e a elevada taxa de desemprego fazem com que 27% dos jovens universitários franceses -em geral, não só os judeus- acreditem que seu futuro profissional está no exterior.

No mesmo texto, o presidente da Agência Judaica da França, Daniel Benhaim, afirmou que o "aliá" judaica se inscreve em uma lógica migratória "mais geral que a simples questão do antissemitismo".

Os atentados terroristas cometidos por três franceses jihadistas que atacaram o semanário satírico "Charlie Hebdo", a polícia e a comunidade judaica parecem ter impulsionado esse tipo de emigração.

"Desde sexta-feira, as ligações se multiplicaram por três e as inscrições para reuniões de informação por dez", afirmou para o "France 24" a diretora de marketing da Agência Judaica para Israel, Jessica Cohen.

Parte desse interesse em mudar de país é alimentado pelo próprio governo israelense, que estima que 10 mil judeus franceses partirão em 2015 para Israel. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, viajou para a França após os atentados.

"A todos os judeus da França, todos os judeus da Europa, lhes digo: Israel não é só o lugar para onde rezar, o Estado de Israel é o seu lar", declarou Netanyahu na ocasião.

O presidente da França, François Hollande, em sua primeira declaração após os atentados, pediu ao povo francês que se mostrasse "implacável frente ao racismo e ao antissemitismo".

"Somos um só país, um só povo, uma só França. Uma França sem distinção de religiões e de crenças", disse ontem o chefe do Estado.

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