A Cuba que o ditador Fidel Castro deixou de administrar há exatamente um ano, quando passou o poder da ilha a seu irmão Raúl, vive uma realidade de grande contradição. Após quase meio século de implementação de um regime socialista, a vida dos cubanos concilia pobreza com desenvolvimento humano considerado alto.
O país tem serviços de saúde e educação que estão entre os melhores do mundo, dada principalmente sua universalidade -isto é, abrange quase toda a população. Mas por outro lado a maioria dos cubanos não tem acesso a vários produtos básicos de alimentação e de higiene. Um simples rolo de papel higiênico e sabonete são artigos considerados de luxo pelos cubanos, por causa do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos que a ilha sofre há quatro décadas.
O país que se gabou durante décadas de não ter uma favela sequer já não pode mais contar vantagem na área de habitação. E a rede de assistência social não consegue erradicar um problema que voltou com toda a força junto com o turismo nos últimos anos: a prostituição, inclusive a infantil.
Uma volta pelas ruas de Havana, a capital cubana, revela as contradições do socialismo possível em que Cuba se transformou neste início de século 21. Há modernos táxis japoneses com ar-condicionado ao lado de velhos calhambeques ainda usados pelos moradores. Há outdoors de cigarros de grandes multinacionais ao lado de cartazes de propaganda do governo central defendendo a revolução.
Hotéis de redes internacionais enfileiram-se à beira-mar junto a prédios cinzentos e caindo aos pedaços. Até o dinheiro revela as contradições cubanas. Há duas moedas em circulação. O peso convertível, usado pelos turistas, e o antigo peso cubano, que vale menos dólares e é usado pelo povo.
Classificação difícil
Analisados e comparados com outros países, os indicadores econômicos e sociais também mostram um país de difícil classificação.
O Produto Interno Bruto per capita, soma das riquezas dividida pela população, de Cuba é muito pequeno, de cerca de US$ 3.500 (cerca de R$ 7 mil), o que o coloca na 120ª posição entre todos os países do mundo -junto ao Iraque!
Já o seu índice de desenvolvimento humano é de 0,826, considerado alto, o 50º melhor do planeta. O IDH é a equação entre longevidade, educação e padrão de vida, calculado pelo Pnud, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Para comparação, também de acordo com o Pnud: o PIB per capita do Brasil é de US$ 8.300 (cerca de R$ 16,5 mil), o 64º maior do planeta e mais do que o dobro de Cuba. Mas o IDH brasileiro é apenas o 69º entre 177 países, com o índice 0,792, considerado médio -e 19 posições abaixo do da ilha caribenha.
Os principais fatores que elevam o desenvolvimento humano de Cuba são a longevidade e a educação. A expectativa de vida ao nascer em Cuba, segundo a ONU, é de 77,6 anos (a do Brasil é de 70,8 anos), enquanto a índice de alfabetização é de 99,8% da população acima dos 15 anos, havendo apenas 0,2% da população analfabeta (no Brasil são 11,4% os analfabetos). O índice de alfabetização de Cuba é o terceiro melhor do mundo, atrás apenas da Georgia e da Eslováquia, diz o relatório do PNUD.
O mesmo relatório põe Cuba na 6ª colocação no Índice de Pobreza Humana (IPH) entre os países em desenvolvimento -um ótimo índice. Quanto mais alta a classificação, melhor o país está. Esse índice mede o progresso médio dos países em desenvolvimento no IDH. O Uruguai é o primeiro colocado como país subdesenvolvido que mais avançou no desenvolvimento humano.
O IPH usa como elementos para o cálculo a probabilidade de sobrevivência após os 40 anos, o analfabetismo, o acesso à água potável e a desnutrição infantil. O Brasil é apenas o 22º colocado na lista do IPH, entre os 102 países analisados.
Pobreza diferente
A pobreza em Cuba, um país socialista em que o Estado é o maior empregador, é diferente da de países subdesenvolvidos, como a Índia e as nações africanas. Há poucos mendigos nas ruas das grandes cidades. E quase todo mundo tem um teto para morar, mesmo que seja em prédios decrépitos. Mas no campo a situação é pior, com muitas pessoas passando fome -justamente o mal que Fidel e seus guerrilheiros queriam combater ao derrubar o ditador Fulgêncio Batista.
A deterioração econômica de Cuba se dá em grande parte por causa do colapso da União Soviética, que era a principal fonte de ajuda financeira externa que o país tinha. Nos anos 90, Cuba deixou de receber subsídios da ordem de US$ 4 a US$ 6 bilhões por ano. Nos anos recentes, o governo passou a intensificar o turismo como forma de aumentar o fluxo de dólares para a economia cubana.
Mas o fator primordial para entender o colapso financeiro do regime de Fidel Castro é o embargo econômico imposto pelos Estados Unidos a partir de 1961 e intensificado nos anos 90, na gestão do ex-presidente democrata Bill Clinton. Na prática, Cuba ficou isolada. Não tinha para quem vender sua cana-de-açúcar (seu principal produto de exportação) nem de quem comprar produtos industrializados.
O resultado é um país que exporta médicos e tecnologia e onde o racionamento de energia é um fantasma presente.
Política
Cuba é um Estado socialista governado hoje em dia por Raúl Castro, irmão mais novo e oficialmente o vice de Fidel. Ele acumula o cargo de presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Ministros. Os dois irmãos foram reeleitos indiretamente em março de 2003 com 100% dos votos do poder legislativo.
O país vive uma ditadura que persegue, prende e até mata seus opositores. Não permite a livre expressão de pensamento, controla a internet e os meios de comunicação e impõe uma censura entre seus artistas.
O Partido Comunista Cubano é o único permitido na ilha, e tem todas as 609 cadeiras na Câmara Legislativa (recebeu 97,6% dos votos nas eleições de 2003).
Em um regime político fechado, Cuba tem um alto índice de emigração: 1,57 habitante de cada mil deixa a ilha. No Brasil, a taxa média de migração é de apenas 0,03 habitante a cada mil. Somente em 2005, a Guarda Costeira dos Estados Unidos interceptou 2.712 cubanos fugidos tentando chegar ilegalmente à Flórida, que fica a 150 km de distância da ilha, segundo dados da CIA (agência de inteligência dos Estados Unidos).
Com uma área total de 110 km², o equivalente a pouco menos da metade do Estado de São Paulo, Cuba tem uma população de cerca de 11 milhões de habitantes.
O atraso tecnológico é uma das marcas do regime fechado da ilha. Calcula-se que haja apenas 190 mil usuários de internet no país. E é necessária uma autorização especial para usar a rede.
Ao mesmo tempo, A CIA estipula que haja 2,64 milhões de aparelhos televisores, menos de 850 mil telefones fixos e 135 mil celulares. No Brasil, são mais de 120 milhões de linhas telefônicas (sendo 86 milhões de celulares), 37 milhões de televisores e cerca de 26 milhões de usuários de internet, segundo informações da CIA.
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