Nesta foto de julho de 2017, o ditador da Nicarágua, Daniel Ortega (E) fala com o magistrado sandinista Rafael Solís, em cerimônia na capital Manágua| Foto: INTI OCON / AFP

O juiz sandinista da Corte Suprema de Justiça da Nicarágua Rafael Solís renunciou a seu cargo nesta quinta-feira (10). Em sua carta pública e renúncia, Solís acusou o ditador Daniel Ortega de impor um “estado de terror” no país e de inventar “acusações absurdas” contra opositores.

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A carta de três páginas em que pede a sua renúncia “irrevogável” foi endereçada a Daniel Ortega, à primeira-dama e vice-presidente Rosario Murillo e ao presidente da Assembleia Nacional, Gustavo Porras. Na mensagem, ele atribui ao governo a responsabilidade pela crise por que passa a Nicarágua, e diz que não é um traidor.

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Solís, aliado de longa data de Ortega, afirma que o Poder Judicial em sido utilizado para impor contra manifestantes “uma série de acusações sobre delitos que nunca cometeram”. Ele diz que o governo de Nicarágua já não tem “nem razão nem direito” e negou que houve tentativa de um golpe de Estado.

“Por isso, e não por covardia ou por traição é que estou renunciando, porque se tivesse tratado de um golpe de Estado fracassado ou de uma agressão externa, nestes meses de 2018 e não se tivesse matado tanta gente, eu estaria com vocês e continuaria na Corte e na Frente, mas não houve tal golpe de Estado, nem agressão externa. O que houve foi um uso irracional da força e vocês se empenham em continuar fazendo mal as coisas até levar o país a uma guerra civil da qual não quero ser participante, muito menos ao lado de vocês”, declarou.

“Eu não desejo uma guerra civil para a Nicarágua, mas para mim está claro que vocês estão indo por esse caminho”, acrescentou.

Ativistas e membros da oposição na Nicarágua comemoraram a saída de um membro do círculo mais próximo de Ortega, o que consideraram um golpe a seu governo.

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O regime de Ortega recentemente aumentou a repressão a opositores, na tentativa de coibir as manifestações em massa que exigem a sua saída do poder. A população foi fortemente reprimida pelas forças de segurança, o que ocasionou mais de 300 mortes e 500 presos políticos, de acordo com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Em dezembro, o ditador nicaraguense expulsou grupos internacionais de direitos humanos que monitoravam a crise social no país. As forças de Ortega também lançaram uma onda de repressão a veículos jornalísticos, obrigando muitos jornalistas a encarar a prisão ou o exílio.

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A nova edição do Índice de Democracia da Unidade de Inteligência da revista britânica The Economist, publicada nesta semana deixou de considerar a Nicarágua como um regime híbrido e passou a classificá-la como regime autoritário, a forma de governo menos democrática no ranking.