• Carregando...
Uma feira de frutas em Pequim, 18 de maio. O aumento do preço dos alimentos se tornou um dos principais assuntos na China
Uma feira de frutas em Pequim, 18 de maio. O aumento do preço dos alimentos se tornou um dos principais assuntos na China| Foto: Lam Yik Fei / The New York Times

Normalmente, há um bom movimento no mercado de Xinfandi, no sul de Pequim, onde lojas, restaurantes e consumidores compram frutas e verduras a granel. Mas havia mais vendedores de maçã cochilando do que trabalhando em uma tarde recente. O preço das maçãs tinha quase dobrado e as pessoas gastavam seu dinheiro em outras coisas.

"Quem come maçãs hoje deve ser milionário", disse Li Tao, que vende essas frutas há mais de 20 anos. Ele conta que os trabalhadores migrantes costumavam comprá-las. "Agora estão muito caras", afirmou.

Além das dificuldades de uma economia que desacelera e da guerra comercial do presidente Donald Trump, Pequim agora tem de se preocupar com o aumento do preço dos alimentos. Não são só as maçãs. Outras frutas e legumes estão mais caros. A carne de porco deu um salto, agora que o país lida com uma epidemia devastadora de peste suína. Os preços do frango, da carne bovina e do cordeiro também estão subindo.

Além da comida, a China não parece enfrentar uma alta da inflação. Mas os custos crescentes dos alimentos são o assunto do momento no país. Autoridades do governo tentam tranquilizar a população, dizendo que os suprimentos são abundantes, ao mesmo tempo que tomam medidas para estabilizar os preços.

"As pessoas e os economistas não se comunicam uns com os outros", disse George Magnus, associado do Centro da China na Universidade de Oxford. Mesmo que a inflação total não seja elevada, acrescentou ele, o aumento dos preços de bens visíveis, como carne de porco, frutas e verduras, pode afetar os gastos do consumidor – um problema em potencial para a economia chinesa.

Mesmo o normalmente otimista premier chinês, Li Keqiang, pareceu surpreso no dia 25 de maio, quando visitou um vendedor de frutas na província oriental de Shandong. "Subiu tanto assim?", disse Li depois que o vendedor lhe disse que o preço da maçã tinha mais que dobrado desde o ano passado.

O que causa o aumento de preço

Várias forças contribuem para o aumento dos preços dos alimentos. Autoridades chinesas ainda estão tentando conter o surto de peste suína, que não afeta as pessoas, mas que pode ser fatal para os porcos. Mais de um milhão de suínos foram abatidos para impedir a propagação da doença, mas ela parece persistir. No caso das frutas e verduras, as autoridades chinesas culpam o clima severo e dizem que o aumento de preços será temporário.

"Os preços de frutas e verduras chamaram a atenção de todos. O da carne de porco também", disse Chenjun Pan, diretor executivo de alimentos e agricultura da RaboResearch.

Especialistas também veem a propagação de uma praga chamada lagarta-do-cartucho, uma espécie que se alimenta de arroz, sorgo e milho. Mais de 906 quilômetros quadrados de colheitas foram devastados, de acordo com a mídia oficial, embora o efeito nos preços talvez só seja sentido daqui a alguns meses.

O custo dos alimentos está subindo em um momento sensível. O presidente Xi Jinping alertou sobre tempos difíceis à frente, com o aumento das tensões com os Estados Unidos. Os dados divulgados recentemente sugerem que a renovação do estímulo econômico está começando a enfraquecer e que China poderia voltar à desaceleração. Em março, Li, o premier, reconheceu que a economia enfrentava pressões e que Pequim diminuiu as expectativas de crescimento neste ano.

O governo se preocupa muito com a inflação. Ela foi um dos estopins dos grandes protestos públicos na Praça de Paz Celestial há 30 anos. A alta inflação na década de 1990 ameaçou afetar os esforços de abertura da economia chinesa.

Por enquanto, o aumento de preços parece limitado aos alimentos, em parte por causa da situação econômica incerta da China. Os aumentos de aluguéis baixaram para um crescimento percentual de um único dígito este ano. Os aumentos salariais diminuíram e o desemprego está aumentando. Nas fábricas chinesas, os preços de matérias-primas e outros bens parecem controlados. A China ainda sofre com o excedente das montadoras, das siderúrgicas e de outras indústrias, o que significa que a produção pode rapidamente crescer se os preços aumentarem.

"Não acho que a inflação seja uma questão importante para a China até agora", disse Yu Yongding, proeminente economista da Academia Chinesa de Ciências Sociais, instituição governamental de elite em Pequim.

Os trabalhadores chineses também têm dificuldade para buscar salários mais elevados, outra possível contribuinte para a inflação. A perda de emprego já é um problema entre os jovens trabalhadores, pois setores como o da tecnologia desaceleraram nos últimos meses.

Ainda assim, o aumento dos preços dos alimentos chamou a atenção das famílias e dos líderes chineses.

O preço da carne de porco aumentou 14% em abril em comparação com o ano anterior, enquanto os preços dos alimentos em geral para os consumidores subiram 6,1%, de acordo com estatísticas do governo. Autoridades da agricultura alertaram que o preço da carne de porco este ano pode subir até 70%. Pouco mais de uma semana atrás, o preço médio de um grupo de sete tipos de frutas foi o mais alto dos últimos cinco anos, de acordo com estatísticas oficiais.

Plano de contingência

Gao Feng, porta-voz do Ministério do Comércio, disse recentemente que as autoridades garantiriam "efetivamente o suprimento de necessidades diárias, como frutas e verduras, carne e ovos".

No início de maio, autoridades econômicas da cidade de Pequim disseram que estavam adotando um plano de contingência para lidar com os custos crescentes de grãos e óleo de cozinha na cidade. Avisos similares foram feitos em 2016 para o aumento do preço da carne de porco, e em 2017 para o das verduras.

A alta de preços está começando a se espalhar para outros alimentos. O valor cobrado pela carne de porco fez alguns restaurantes e famílias optar por frango, carne de vaca ou cordeiro, forçando o aumento dessas carnes. Comerciantes e matadouros que abarrotam seus estoques para vender, mais tarde, a preços maiores também afetaram as redes de frigoríficos e de transporte que trazem o produto das fazendas para o prato.

Não se sabe se o aumento dos preços dos alimentos pode afetar outras partes da economia. Uma percepção da inflação pode fazer com que os trabalhadores de empresas estatais exijam salários mais elevados, disse Harry Broadman, ex-chefe de pessoal do Conselho Econômico da Casa Branca, que é agora presidente do setor de mercados emergentes do Berkeley Research Group, grupo de consultoria global. "Não é uma questão estritamente econômica. É uma questão de economia política", disse Broadman.

Online, o descontentamento cresce. Uma pesquisa na maior plataforma de mídia social da China, feita pela Phoenix Finance, pediu que as pessoas escolhessem uma explicação para o aumento súbito do preço das frutas. As escolhas não incluíam um aumento na inflação total, por isso as pessoas adicionaram esse aspecto em seus comentários. "Essas quatro opções estão apenas tentando amenizar as coisas. Obviamente, o problema é a inflação", escreveu uma pessoa.

Outras observações online mencionaram as novas diretrizes da associação nutricional da China, que disse que os indivíduos devem comer pelo menos 500 gramas de verduras e legumes e 250 gramas de frutas por dia.

"Não vou conseguir pagar por minha comida agora", disse um comentário. "As frutas estão a preço de ouro."

The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]