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Henda Saidi foi morta em uma batida policial | Anis Mili/Reuters
Henda Saidi foi morta em uma batida policial| Foto: Anis Mili/Reuters

Um dia, não faz muito tempo, Leila Mustapha Saidi voltou para casa e percebeu que a filha tinha sumido. Sabendo que a moça vinha se tornando cada vez mais religiosa e "obcecada" pelo conflito na Síria, temia que ela tivesse fugido para se unir aos islamitas em luta por lá.

Quatro dias depois, a polícia telefonou. Henda Saidi estava em uma casa na periferia da cidade com um grupo de insurgentes. Um dia depois, as forças de segurança invadiram o local – e das seis pessoas mortas ali, cinco eram mulheres jovens.

"Eles a consideraram uma terrorista", lamentou Leila, com voz amarga. Após mais de dois anos de ataques e assassinatos, os tunisianos não se surpreendem com as trocas de tiros entre homens armados e as unidades antiterrorismo, mas a operação na qual a garota foi morta chocou muita gente pelo grande número de mulheres envolvidas.

Quase quatro anos depois dos eventos na Tunísia que geraram a Primavera Árabe, o fascínio do extremismo atinge virtualmente todas as camadas da sociedade, até o bairro relativamente abastado de La Marsa, onde mora a família Saidi. Henda foi a terceira pessoa de seu colégio a morrer pela causa islamita no último ano, diz uma colega. A antiga professora de francês da moça, Dejla Abdelhamid, postou uma mensagem no Facebook lamentando a tragédia. "A morte dela é o nosso fracasso, o de toda a sociedade e, de certa forma, o meu como professora, por não perceber o que estava acontecendo", escreveu.

Para Dejla, Henda e muitos outros se voltaram para o extremismo devido à secularização imposta pela ditadura do presidente Zine el-Abidine Ben Ali. Segundo ela, tal atitude deixou os tunisianos ignorantes em relação à própria religião a ponto de serem enganados facilmente pelos radicais que se impõem com ideias novas. "É como um tsunami que ainda não tivemos tempo de assimilar. Temos que ensiná-los a se defender de uma forma consistente", afirma ela.

Para Linda Ben Osman, professora de Artes que trabalhou no colégio há vários anos e conhecia Henda, a explosão do extremismo é uma reação ao autoritarismo de Ben Ali, cuja deposição levou a uma democracia sem limites. Os radicais que foram soltos das prisões e voltando do exílio não perderam tempo em explorar as novas liberdades, assumindo o controle de mesquitas, criando associações e recrutando jovens seguidores. Desde então, a Tunísia vem lutando contra o extremismo.

Leila confessa não ter tido coragem de ver o corpo da filha, levado de volta para o funeral.

Seu marido, Hedi Saidi, se recusou a ir ao enterro.

Ambos descrevem a filha como uma pessoa de princípios elevados, mas muito teimosa. Henda, estudante de Direito de 21 anos, tinha se radicalizado e eles sabiam que escondia suas verdadeiras intenções da família.

"Não dá para entender. São jovens inteligentes, de bom coração, prontos para a vida – e no caso da Henda, muito bonita", diz Leila.

"Acho que a juventude está desesperada", conclui.

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