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O número 10 da Downing Street, em Londres, residência oficial dos premiês britânicos
O número 10 da Downing Street, em Londres, residência oficial dos premiês britânicos| Foto: EFE/EPA/TOLGA AKMEN

Após a renúncia do primeiro-ministro Boris Johnson ser anunciada, a democracia do Reino Unido se prepara para iniciar um novo capítulo. Com maioria parlamentar, caberá ao Partido Conservador indicar um novo líder, que, por consequência, será o novo chefe do Executivo britânico.

Segunda maior economia da Europa e a sexta maior do mundo, o Reino Unido teve uma vida política marcada pela imprevisibilidade nos últimos anos, o que exigirá muita habilidade do substituto de Johnson para se manter no cargo e atingir os resultados desejados pela população britânica. A seguir, estão listados alguns dos principais desafios que o escolhido terá pela frente:

Instabilidade política

Em décadas anteriores, o Reino Unido ficou conhecido por ter primeiros-ministros que ficavam muito tempo no cargo: foram os casos da conservadora Margaret Thatcher, premiê entre 1979 e 1990, e do trabalhista Tony Blair (1997-2007).

Entretanto, o premiê que vai substituir Boris Johnson será o quarto do país em pouco mais de seis anos.

Em 2016, o conservador David Cameron, que estava no poder desde 2010, renunciou após a população britânica aprovar em referendo a saída do Reino Unido da União Europeia, o chamado Brexit, alegando que outro primeiro-ministro deveria conduzir o processo da retirada do país.

Sua sucessora e correligionária, Theresa May, assumiu em julho de 2016 e ficou no cargo até 2019, quando também renunciou por não conseguir aprovar um acordo para a saída britânica do bloco europeu.

Boris Johnson, um dos grandes partidários do Brexit, foi o substituto de May e conseguiu finalmente um termo para a retirada do Reino Unido da UE, após convocar eleições antecipadas e obter maioria folgada no Parlamento para a aprovação.

Entretanto, os escândalos durante seu governo levaram à perda de apoio entre os conservadores e ao seu anúncio de que deixará o cargo, feito nesta quinta-feira (7). Portanto, o próximo líder dos Tories e do Executivo britânico terá a missão de atingir uma estabilidade política que seus antecessores não conseguiram.

Protocolo da Irlanda do Norte

Outro ponto a ser resolvido pelo novo premiê será a troca de farpas sobre o trânsito de mercadorias da Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e País de Gales) para a Irlanda do Norte e a Irlanda, integrante da União Europeia, fluxo que teve as regras alteradas devido ao Brexit.

Pelo protocolo vigente, inspeções aduaneiras são feitas nos portos da Irlanda do Norte, parte do Reino Unido; se liberados, os produtos podem seguir para a Irlanda. A ideia era evitar postos de fronteira entre as duas irlandas, devido ao passado de conflitos violentos na Ilha Esmeralda.

O protocolo também estabelece que a Irlanda do Norte continue seguindo as regras da UE sobre padrões de produtos.

Entretanto, o governo britânico quer mudar as regras. Seriam criadas uma faixa verde para mercadorias enviadas para a Irlanda do Norte, que ficariam isentas de verificações aduaneiras, e uma faixa vermelha para produtos que vão para a Irlanda, que passariam por controles alfandegários completos. O governo também quer mudanças em regras tarifárias da UE que a Irlanda do Norte segue.

O protocolo vigente desagrada os partidos unionistas, que defendem que a fiscalização nos portos da Irlanda do Norte compromete o status norte-irlandês como integrante do Reino Unido.

O Partido Unionista Democrático (DUP, na sigla em inglês), segundo colocado nas eleições locais de maio, tem que formar um governo com a legenda nacionalista Sinn Fein (que foi a mais votada), mas se recusa a fazê-lo até que o protocolo seja revisto. O Sinn Fein, por sua vez, é favorável à continuidade do compromisso atual.

Em junho, a Comissão Europeia notificou o Reino Unido devido à proposta de revisão do Protocolo da Irlanda do Norte. Se o país não der uma resposta satisfatória até agosto, poderá ser acionado no Tribunal de Justiça da União Europeia – que seria a corte para deliberar sobre o assunto porque se trataria de uma infração contra o bloco, apesar dos britânicos não fazerem mais parte dele.

O governo do Reino Unido quer uma instância independente para mediar o assunto, ao invés do tribunal europeu.

Guerra da Ucrânia

Boris Johnson tem sido um dos aliados mais dedicados da Ucrânia, invadida pela Rússia em 24 de fevereiro. Além da ajuda militar e humanitária destinada a Kyiv e das sanções impostas a Moscou, o premiê que está de saída visitou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, duas vezes na capital da ex-república soviética desde o início da guerra.

Seu substituto terá que encontrar um equilíbrio entre apoiar a Ucrânia e o humor da população do Reino Unido a respeito do conflito.

Segundo pesquisa divulgada em junho pelo instituto YouGov, a maior parte dos britânicos segue aprovando o apoio do governo a Kyiv, mas somente 44% dos entrevistados disseram que concordariam com novas sanções à Rússia mesmo que isso levasse a uma escassez de combustíveis no Reino Unido. Em março, os que manifestavam essa posição eram 52%.

No mês passado, 42% dos britânicos ouvidos disseram que apoiariam mais sanções a Moscou mesmo se isso significasse um aumento do custo de vida em geral, 12 pontos percentuais a menos do que em março.

Economia

O custo de vida é justamente outro grande desafio para o próximo premiê do Reino Unido. Em maio, a inflação no acumulado em 12 meses atingiu 9,1% no país, maior patamar em 40 anos, reflexo principalmente das altas nos preços dos alimentos e da energia que afligem o mundo inteiro e que pioraram após o início da guerra na Ucrânia.

Em junho, o Banco da Inglaterra anunciou o quinto aumento consecutivo na taxa de juros. Como os salários não acompanham a disparada dos preços, há receio de greves pelo país, como a deflagrada pelos ferroviários no mês passado e considerada a maior da categoria em 30 anos.

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