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Todos nós, jovens e menos jovens, estamos crescentemente dependentes da plataforma virtual. É fascinante o apelo da web. Investimos muito tempo digitando mensagens de texto, escrevendo nos nossos blogs, postando fotos e comentários no Facebook. Eu mesmo já fiz o propósito de pular fora do mundo digital nos fins de semana. Tem sido uma luta. Com vitórias, mas também com derrotas.

As redes sociais são uma ferramenta extraordinária da cidadania, um magnífico espaço de mobilização. Mas não são uma garantia de segurança informativa e de credibilidade. Sobra opinião superficial e radicalizada. Falta apuração, análise, matiz. Falta reportagem.

Jornalismo é a busca do essencial, sem adereços, qualificativos ou adornos. O jornalismo transformador é substantivo. Sua força não está na militância ideológica ou partidária, mas no vigor persuasivo da verdade factual e na integridade de uma opinião fundamentada. A credibilidade não é fruto de um momento. É o somatório de uma longa e transparente coerência.

A ferramenta de trabalho dos jornalistas é a curiosidade. A dúvida. A interrogação. Há um ceticismo ético, base da boa reportagem investigativa. É a saudável desconfiança que se alimenta de uma paixão: o desejo dominante de descobrir e contar a verdade.

A ferramenta de trabalho dos jornalistas é a curiosidade

Pois bem, amigo leitor, acabo de topar com um exemplo de reportagem de qualidade. Refiro-me ao livro do jornalista Sílvio Barsetti, A Farra dos Guardanapos – O último baile da Era Cabral. A história que nunca foi contada (Editora Máquina de livros, Rio de Janeiro).

O texto, agradável e leve, é uma reconstituição da festa em Paris que marcou a ascensão e queda do governo de Sérgio Cabral.

A segunda semana de setembro de 2009 era muito especial para o então poderoso governador Sérgio Cabral. Louvado como grande gestor, aliado privilegiado do ex-presidente Lula, Cabral vislumbrava um horizonte sem fim. Em alguns dias, poucos, ele receberia a condecoração máxima do governo francês, a comenda Legião de Honra.

Uma mansão na emblemática Champs-Elysées foi o cenário da suntuosa festa da corrupção impune e sem limites. Quem eram os convidados? Quais pratos e vinhos caríssimos foram servidos no banquete? O que realmente aconteceu naquela noite de ostentação? O leitor é introduzido no clima da lambança, num relato jornalístico detalhado sobre os personagens que comandaram o assalto ao dinheiro púbico do Rio de Janeiro. Criminosos responsáveis pela dramática situação das finanças, da saúde e da segurança pública do estado, protegidos com as máscaras de gestores eficientes, comemoravam o triunfo do chefe da quadrilha. Barsetti conseguiu reconstituir em detalhes a festa que marcou o apogeu e a derrocada do governo Cabral.

Do mesmo autor: Honorários sujos – um questionamento (publicado em 11 de março de 2018)

Leia também: A Lava Jato e as eleições (editorial de 29 de novembro de 2017)

O livro é um magnífico registro histórico. Mas também cumpre importante papel preventivo. A candura, num país marcado pela tradição da impunidade, acaba sendo um desserviço à sociedade. É indispensável o exercício da denúncia fundamentada.

A política brasileira está podre. Ela é movida a dinheiro e poder. Dinheiro compra poder e poder é uma ferramenta poderosa para obter dinheiro. É disso que se trata. E é exatamente isso que você, cidadão e eleitor, deve questionar nas próximas eleições.

Precisamos, independentemente do escárnio e do fôlego das máfias corruptas e corruptoras, perseverar num verdadeiro jornalismo de buldogues. Um dia a coisa vai mudar. E vai mudar graças também ao esforço investigativo dos bons jornalistas. O repórter, observador diário da corrupção e da miséria moral, não pode deixar que a alma envelheça. O coração do repórter deve pulsar em cada matéria.

O leitor espera uma imprensa combativa, disposta a exercer o seu intransferível dever de denúncia. Menos registro e mais apuração. Menos espetáculo de marketing político e mais consistência.

Inúmeras foram as reflexões suscitadas pelo excelente texto de Sílvio Barsetti. Reportagem na veia. O leitor, em qualquer plataforma, evita os produtos sem alma. Quer um jornalismo rigoroso, mas produzido com paixão. A farra dos guardanapos é um bom exemplo.

Carlos Alberto Di Franco é jornalista.
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