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Urnas eletrônicas
Urnas eletrônicas usadas nas eleições brasileiras| Foto: André Rodrigues/Arquivo/Gazeta do Povo

Não importa se você se considera uma pessoa de esquerda ou de direita, tampouco importa qual o partido político ou movimento político ao qual você está filiado. Existe um tipo de político no Brasil que, a meu ver, é um dos mais nocivos para o desenvolvimento de nosso país, que é o “político de estimação”.

O termo a que me refiro pode ser até rigoroso e genérico, mas não é! Rótulo esse termo quando percebo a inversão de papéis, quando os eleitores, que de fato são os donos do poder, o emprestam temporariamente para seus representantes, e passam a idolatrá-los de uma maneira quase que os endeusando por sua posição ou pela vivência em seus cargos.

Nesse contexto, quando agentes políticos são pegos em casos de corrupção, ou mesmo quando promovem ações moralmente reprováveis, aqueles que optam por “possuir” políticos de estimação buscam sempre uma maneira de apresentar uma desculpa em favor do político aliviando sua conduta amoral, utilizando e criando fatos que possam gerar julgamentos de que tudo não passa de mentiras ou conspirações de autoria da oposição. O mais clássico que vemos hoje nos jornais é: “E o PT, hein? O que ele nos causou? Como estaríamos hoje com ele no poder?” Como se o erro de um justificasse o erro do outro, ou fizesse com que tal erro fosse aceito.

Erros são erros, não importa o espectro político, não importa quem os tenha cometido! Neste caso não estou falando só de corrupção, mas registro aqui a imperícia, a incapacidade administrativa, a incompetência, a falta de zelo com a “coisa” pública, com o erário, que muitas vezes deixa transparecer que não devemos exigir a excelência dos agentes públicos. Ora, como conceber que o Banco Central seja uma instituição largamente conhecida pela excelência e pelo profissionalismo técnico e administrativo, tanto de governos de esquerda quanto de direita, e outros órgãos da administração pública sejam administrados de maneira amadora?

Dentro deste modelo, o que se vê nitidamente é que muitas vezes os “políticos de estimação” buscam criar políticas de governo permanentes e que muitas vezes tentam se transmutar para que se tornem políticas de Estado, algo que na maioria das vezes não é possível, seja por ideologias, seja por incompetência ou mesmo por projetos mal elaborados. Existe um modelo muito personalista nesses projetos, o que se percebe claramente pelas “logomarcas” de projetos e/ou pelas próprias administrações.

O que está fundamentalmente errado não está nos “políticos de estimação”, mas sim nas pessoas que os elegem como tais. Já passou da hora de nós, brasileiros, elegermos nossos representantes de acordo com nossas verdadeiras e cruciais necessidades, e, repito, sejam eles de esquerda ou de direita, por suas ideias, por seus princípios e por seus projetos para o país, e não por suas qualidades pessoais, visões religiosas ou frases ufanistas. Quando o eleitor perceber que seus representantes traíram seus projetos e princípios, eles deverão repreendê-los, deixar de apoiá-los e devem criticá-los, pois eles são nossos representantes, e nós pagamos seus salários.

Mais importante que isso: nós os colocamos lá, e podemos tirá-los quando não nos servirem mais! Isso é a trivialidade da política, que muitas vezes é esquecida pelos eleitores que se tornam fãs ou fanáticos, sem muitas vezes saber o porquê, mas por muitas vezes tentarem se sentir pertencentes a um “meio”.

Nações sérias não foram forjadas nas vozes de populistas, nem foram sustentadas por grupos que idolatram políticos que não querem se responsabilizar por seus atos. Grupos sectários não comungam com os objetivos das sociedades e nem se preocupam com a inclusão dos setores menos favorecidos da vida cotidiana. Precisamos pensar em 2022 baseados nas ideias de acordo com nossas convicções, nos projetos que beneficiem a todos e em nosso país. Precisamos nos esquecer do político de estimação.

Igor Macedo de Lucena é economista e empresário, doutorando em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa, membro da Chatham House – The Royal Institute of International Affairs e da Associação Portuguesa de Ciência Política.

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