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Max Conradt Jr: um simples marquês que nos deu a honra da visita
Max Conradt Jr faleceu em Curitiba, aos 89 anos| Foto: Rafael Urban

Difícil notar a cor das paredes, tantos eram os quadros pendurados nelas. Prateleiras e prateleiras de ferro recheadas de livros. Pilhas de pacotes organizados contendo inúmeras edições de revistas. Esses itens, e muitos mais, atestavam a alcunha de colecionador do comerciante Max Conradt Jr, falecido aos 89 anos, no dia 18 de junho. Porém, bastava conhecê-lo um pouco mais para entender que os objetos, apesar de maravilhosos, faziam mera margem à personalidade de um colecionador de frases e de cenas, de um curador de histórias.

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Contava-as várias vezes, com o mesmo brilho no olhar, adicionando ou retirando um ou outro detalhe como mestre de sua própria narrativa. Uma das mais antigas tomava lugar antes de seu nascimento, quando o pai, um ex-combatente da 1ª Guerra Mundial, conheceu em Curitiba uma alemã por quem se encantou. Deixou com ela o nome para o filho e uma pintura de um barco, provavelmente na costa da África, que está entre os ornamentos das paredes de Max.

Jovem, Max começou a carreira fazendo entregas das roupas que a mãe costurava para a loja de artigos infantis Maison Blanche. O caminho entre a empresa e o correio, com todos os nomes dos comércios antigos, ficou gravado na memória até a maturidade. Anos depois do primeiro emprego, se tornaria um dos sócios da loja e, assim, comerciante.

O tio Sebastião Júlio da Assunção - a quem chamava de tio-amigo e que representava para ele uma figura paterna - ajudou no pontapé inicial para a vida de colecionador. O primeiro item foi uma revista em quadrinhos do herói Flash Gordon. Daí em diante, as coleções só se ampliaram e diversificaram. Com a obstinação característica dos colecionadores-raiz, peregrinava por sebos em busca de livros sobre arte e sobre o Movimento Paranista, dois fascínios seus. Para conseguir mais peças para o acervo de mais de 100 autorretratos de pintores e pintoras, muitas vezes precisava usar de sua insistência e carisma. Nessa seção, constam obras (e rostos) de artistas como Guido Viaro, Miguel Bakun e Helena Wong.

Personalidades que passaram pela sala da casa estão reunidas, em assinatura, na capa de “Voyage Pittoresque et Historique au Brésil”, de Jean-Baptiste Debret. Entre 1975 e 2007, outros nomes se uniram à página, que se tornou um dos itens mais importantes do acervo de Max. Em vernissages, mandando um dos netos, ainda criança, pedir uma assinatura, ou por meio de enviados especiais, o colecionador dava seus pulos para conseguir as dezenas de rubricas daqueles que “cometeram algum registro sobre a história do Paraná”. Entre eles estão Paulo Leminski, Dalton Trevisan e General Tourinho, o primeiro a assinar.

  • Foto: Elisandro Dalcin
  • Foto: Elisandro Dalcin
  • Foto: Rafael Urban

Sobre a idade avançada, Max soltava a frase entre sorrisos: “Enquanto espero aqui, na antessala da eternidade”. Para apontar similaridades entre o presente e outrora, “tudo como dantes no quartel de Abrantes”. Já “o nunca assaz louvado fulano de tal” servia para falar daqueles que já estavam no salão principal da eternidade. O acervo de bordões era vasto e, felizmente, não ocupava espaço em casa, nesse caso faltaria. Talvez o mais conhecido de seus aforismos, utilizado ao abrir o portão para visitas, seja “A que deve a honra da ilustre visita este simples marquês?”, pois se tornou título de um premiado curta-metragem tão de Max quanto dos cineastas Rafael Urban e Terence Keller.

“Para quem assiste, são 25 minutos das histórias do Max, para a gente, era uma hora e meia diária daquilo. O espectador vê no filme como ele se relacionava conosco, como ficava feliz quando demonstravam interesse pelas histórias dele, empolgado em contar”, relata Terence sobre as gravações do filme de 2013. Ele lembra que viram uma ou duas vezes a mítica revista Playboy número 1, com Marilyn Monroe na capa, durante a produção. Porém, Max guardava tão bem seus tesouros que ele mesmo esqueceu onde guardou este.

Max se preocupava com o destino de seu acervo e tinha o desejo de que seus itens garimpados do Paraná e de várias partes do mundo pudessem ser consultados por pesquisadores e interessados. Por isso, doou em vida cerca de 8 mil títulos relacionados à história e cultura do estado para o Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, do qual era associado benemérito. Também era nome de biblioteca no Museu Alfredo Andersen, que contém em torno de mil itens de seu acervo, entre livros de artes plásticas e publicações. Afinal, como dizia Monteiro Lobato em uma das frases gravadas na oratória de Max: “Uma nação se faz com homens e livros”.

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