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Obesidade aumenta no Paraná nos últimos dez anos.| Foto: Bigstock

O Paraná tem 35% da população adulta em algum dos três graus de obesidade – condição que amplia o risco para diversas doenças, onerando o sistema público à saúde –, números que são maiores que a média nacional entre este público. O mesmo ocorre entre adolescentes e idosos.

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Com um aumento de 44% no número de obesos nos últimos dez anos, desde 2012, os dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) do Ministério da Saúde apontam que o estado ultrapassa a média nacional de adultos obesos, de 32%. Entre adolescentes, são 17% entre obesos e obesos graves (12,5% no Brasil) e 55,5% dos idosos com sobrepeso (51% no Brasil).

Para tentar deter o crescimento da obesidade em adultos e reduzir em 2% a incidência entre crianças e adolescentes, conforme meta nacional prevista no Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas e Agravos Não Transmissíveis no Brasil 2021-2030, a Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (Sesa) lançou, este ano, uma Linha de Cuidado às Pessoas com Sobrepeso e Obesidade, em consonância com o previsto na Programação Anual de Saúde 2022. A ideia é ampliar o controle, tratamento e prevenção da obesidade no estado.

“A linha traz diretrizes norteadoras para a organização de ações e serviços de saúde, promovendo a atenção integral às pessoas com excesso de peso e aprimorando a assistência à saúde prestada aos cidadãos paranaenses”, escreveu o então secretário de saúde do estado no documento lançado em julho, César Augusto Neves Luiz.

Para se ter uma ideia do desafio de reduzir a incidência da obesidade, Curitiba, segundo a versão de 2021 da pesquisa que serve como base para aquele Plano – a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) –, tem 22,6% de adultos com obesidade, o que significa um incremento de 20% ao registro do ano anterior.

Desafio da obesidade está na atenção integral

Por ser uma doença negligenciada e cercada de preconceitos, a atenção integral segue como uma das dificuldades para evitar que esse quadro, fator de risco para hipertensão arterial, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares e neoplasias, seja adequadamente tratado.

Mesmo com essa alta prevalência no Paraná – contando-se também as pessoas com sobrepeso, está acima do peso, no estado, quase 70% da população – o número de atendimentos de adultos na Atenção Primária à Saúde com o registro de condição avaliada obesidade foi de apenas 2% em 2019 e 1,38% em 2020, segundo informação da Sesa que consta na linha de cuidado, aprovada em julho pela Comissão Intergestores Bipartite.

Porém, de acordo com a nutricionista Cristina Klobukoski, da Divisão de Promoção da Alimentação Saudável e Atividade Física da Sesa, a estimativa é que de cada três adultos que entram hoje em uma unidade de saúde, um apresenta obesidade, uma condição muito mais prevalente que a diabete e hipertensão.

“Não tem como imaginar que essa prevalência tão alta seja decorrente unicamente do estilo de vida e escolhas pessoais do indivíduo, então a responsabilidade em deter o crescimento do excesso de peso deve ser do poder público, setor privado e sociedade civil organizada, os quais precisam atuar juntos fomentando e colocando em prática medidas mais abrangentes que tornem os ambientes promotores de saúde”, diz.

Além dessa linha de cuidado, a nutricionista cita que a Sesa tem outras ações que visam a promoção da saúde, prevenção e controle do excesso de peso no Paraná, como o Programa Crescer Saudável, uma estratégia do Ministério da Saúde que repassa recursos para 305 municípios paranaenses para a prevenção e cuidado à obesidade infantil; o apoio à implementação da Estratégia Nacional para Prevenção e Atenção à Obesidade Infantil – (Proteja), na qual 56 municípios paranaenses foram elegíveis e se comprometeram com a realização de 20 ações essenciais e, pelo menos, mais 5 ações complementares; a coordenação, em âmbito estadual, da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil, visto que a amamentação é estratégica para o prevenir a obesidade na vida adulta; além da realização de webinários, cursos e publicações  que visam qualificar a atenção ofertada aos usuários do SUS.

Mais empatia para tratar a obesidade

A nutricionista Gisele Farias, do Conselho Regional de Nutricionistas do Paraná, cita que falta uma visão mais empática do sistema de saúde para com os obesos, visto que ainda existe quem ache que emagrecer depende apenas de que “a pessoa feche a boca para a comida”.

“Os sistemas de saúde ainda não têm braço para atender e dar seguimento a esses pacientes, pois há poucas nutricionistas em unidades de saúde, além de faltar um olhar de tratamento, para que sejam acompanhados e monitorados do mesmo modo como é feito com outras doenças”, diz Gisele.

Pela sua experiência em consultório, a nutricionista vê ainda muitos obesos resistentes ao tratamento, pelo medo de serem julgados e pela falta de entendimento de que é necessário um tratamento contínuo.

“Há preconceitos dos próprios pacientes e mesmo falta de entendimento por profissionais de que aquele paciente tem mais fome que outros, menos saciedade que outros, que acumula gordura com mais eficiência que outros e elimina menos que outros, aspectos importantes que devem ser levados em conta”, diz ela.

Sobrepeso e obesidade

Os graus são medidos a partir do Índice de Massa Corporal (IMC) – peso dividido por altura ao quadrado (kg/m²)

  • Sobrepeso - 25,00 – 29,99
  • Obesidade grau 1 30,00 – 34,99
  • Obesidade grau 2 35,00 – 39,99
  • Obesidade grau 3 ≥40,00 

A obesidade

é considerada uma condição crônica complexa, multifatorial, recidivante, caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo e está envolvida em diversas complicações e comorbidades que elevam a morbimortalidade e reduzem a qualidade e expectativa de vida. É decorrente, fundamentalmente, do desequilíbrio entre as calorias consumidas e o gasto energético, os quais sofrem influência de fatores ambientais, econômicos, sociais, culturais, comportamentais e políticos, que extrapolam as escolhas unicamente individuais. Também pode estar associada ao ambiente intrauterino, fatores genéticos, uso de medicamentos obesogênicos, sono insuficiente, disruptores endócrinos e microbiota intestinal.

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