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“É uma tristeza que a gente ainda tenha que viver com essa tentativa de demonizar o espaço das universidades”, disse o reitor da UFPR, Ricardo Fonseca.
“É uma tristeza que a gente ainda tenha que viver com essa tentativa de demonizar o espaço das universidades”, disse o reitor da UFPR, Ricardo Fonseca.| Foto: Reprodução / Instagram / UFPR

O reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Marcelo Fonseca, se posicionou oficialmente sobre o cancelamento da palestra do ex-deputado Deltan Dallagnol (Novo), ocorrido em meados de novembro. Fonseca repetiu a explicação de que o evento não ocorreu por falta de uma autorização dada por um professor da instituição – o que já foi contestado pelo organizador da palestra – e disse que a universidade “não é a Casa da Mãe Joana”.

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A fala do reitor foi registrada no perfil oficial da UFPR no Instagram, em um vídeo intitulado “Bate que eu Rebato”, no qual Fonseca comenta postagens que citam a universidade nas redes sociais. A palestra que seria ministrada por Deltan é o tema que abre o vídeo, e na resposta o reitor – em sua primeira manifestação pública sobre o caso – disse que já foi diretor do setor de Ciências Jurídicas e reforçou a tese da ausência de autorização.

“A universidade não é a Casa da Mãe Joana. Esse pessoal acha que [pode] entrar na universidade. Porque é uma universidade pública eles podem entrar e fazer do jeito que quiserem e como quiserem. Não é assim em um hospital público, não é assim em um Tribunal, não é assim na Câmara, não é assim em qualquer repartição pública. Por que o pessoal acha que na universidade tem que ser do jeito como cada um quer, fazendo aquilo que pensa?”, questionou o reitor.

Organizadores do evento "querem que haja confusão", afirma reitor da UFPR

Segundo Fonseca, os mesmos estudantes que pediram uma palestra “com um determinado político que é pré-candidato” já haviam solicitado anteriormente a permissão para exibir um filme da Brasil Paralelo no campus. De acordo com o reitor, apesar de o pedido ter sido atendido, houve muita discussão à época, provocada pelos mesmos estudantes que, para ele, “querem que haja confusão para daí ter problemas”.

“Funciona assim, essa é uma universidade plural e fim de papo. O resto, porque eu acho que tem eleição no ano que vem, é poeira que está sendo levantada por interesses que não têm nada a ver com a nossa academia”, disse Fonseca, antes de falar em tom de piada com a equipe presente na gravação do vídeo que só uma “meia dúzia de gatos pingados” assistiram ao filme.

Pichações ligadas a ditadores de esquerda e ao comunismo são "manifestação de pensamento" em "espaço de convivência", diz reitor

O reitor da UFPR também citou as agressões sofridas por integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) em setembro dentro do Centro Acadêmico do curso de História (CAHIS). No dia em que sofreram as agressões, os membros do MBL filmaram pichações “ligadas ao comunismo, anarquismo, ditadores que pregam a violência contra quem pensa diferente da esquerda”, como descrito por João Bettega, um dos agredidos.

Ao responder um comentário sobre a existência de tais pichações dentro do campus, Fonseca disse que o comentário era relacionado à “intervenção” feita pelo MBL dentro da UFPR. “Eles chegam filmando, chegam de maneira violenta e intimidadora com os nossos estudantes e depois colocam nas redes sociais, porque essas pessoas têm muitos seguidores e vira um momento triste”, avaliou.

O reitor afirmou que a ação do MBL faz parte de um movimento coordenado “de gente que odeia a universidade porque nunca conheceu uma na vida”. Na sequência, Fonseca descreveu as pichações no CAHIS como sendo fruto da “manifestação de pensamento” em um “espaço de convivência estudantil”.

“Por que esse pessoal não mostra pixações em outros lugares públicos da universidade, como nas salas de aula? Porque não existe. Estão apelando demais. É uma tristeza que a gente ainda tenha que viver com isso, que não é novo, que tente demonizar o espaço das universidades”, completou o reitor.

Justificativas da UFPR para cancelamento de palestra de Deltan divergem entre si

As justificativas fornecidas pela UFPR para a não realização da palestra divergiram entre si. Procurado pela Gazeta do Povo, o Setor de Ciências Jurídicas da UFPR esclareceu, em um primeiro momento, que a realização do evento dependia da confirmação de um docente como responsável pelo evento. Segundo o que foi informado, até a véspera da palestra, nenhum professor havia assumido a responsabilidade, o que inviabilizaria a realização.

Entretanto, o organizador da palestra, Rodrigo Marcial, ex-aluno de Direito da universidade e fundador do Grupo de Estudos, Liberdade e Dignidade (GELD), relata uma resposta diferente recebida, como justificativa para o cancelamento. Por e-mail, o Setor de Ciências Jurídicas respondeu a Marcial que mesmo que houvesse um professor responsável, a direção não autorizaria a reserva "considerando o risco de tumulto e violência nas dependências do prédio histórico em virtude do evento".

"É uma grande mentira o que disseram a respeito da necessidade de um docente se responsabilizar. Nos encaminharam um e-mail afirmando que, de qualquer forma, não autorizariam a realização por conta do risco de tumulto. É uma balela. Simplesmente não deixaram e ponto. Nós tínhamos uma pessoa responsável. Eles apenas arrumaram uma desculpa", criticou.

A questão foi parar na Justiça, mas a juíza Cláudia Rocha Mendes Brunelli, da 20ª Vara Federal de Curitiba, negou a concessão de uma liminar para a realização do evento. Para ela, a decisão da instituição não teve vício administrativo.

Diretório Central de Estudantes comemorou cancelamento de palestra: "fascista não se cria"

O DCE da UFPR comemorou o cancelamento do evento, em publicação no Instagram. A imagem traz um: “Vitória! Mobilização do Movimento Estudantil da UFPR impede realização de palestra de Deltan Dallagnol no Prédio Histórico”. O texto do DCE confirma que “após muita pressão do movimento estudantil, a direção do Setor de Ciências Jurídicas retirou a reserva do auditório e impediu a realização do evento”. Em outro trecho, a postagem do DCE afirma que “mais uma vez mostramos que na UFPR fascista não se cria”.

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