Esplanada dos Ministérios, em Brasília, com o Congresso ao fundo.| Foto: Pillar Pedreira/Agência Senado
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Para garantir a vitória do deputado Arthur Lira (PP-AL) na eleição para presidente da Câmara dos Deputados, o governo do presidente Jair Bolsonaro cogita fazer uma reforma ministerial para acomodar aliados na Esplanada e, assim, garantir votos na disputa marcada para o começo de fevereiro.

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A demissão nesta quarta-feira (9) do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, embora antecipada devido a uma briga interna no governo, foi o primeiro passo dessa reforma.

Candidato do Planalto, Arthur Lira é líder do Centrão, o bloco de partidos que hoje dá sustentação ao governo na Câmara. O grupo partidário – composto por PL, PP, PSD, Solidariedade e Avante –, pode garantir a Lira 135 dos 513 votos. O número é insuficiente para assegurar a vitória. A reforma ministerial, portanto, teria o objetivo de assegurar a unidade do Centrão em torno de Lira e conquistar mais adesões.

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“O que se discute é uma minirreforma ministerial para angariar apoios e costurar uma candidatura vitoriosa”, diz uma fonte do Planalto ouvida pela Gazeta do Povo. “A ideia é abrir espaço para o Centrão nos ministérios e aí, sim, entramos com boas chances de conseguir a presidência da Câmara”, explica um auxiliar palaciano.

O “timing” político da reforma ministerial é o que ainda está em análise. “Porque aí, sim, conseguiremos mexer no tabuleiro da Câmara”, diz o auxiliar. A dúvida é se a reforma ministerial sai já no começo de 2021 (ou seja, antes da eleição na Câmara) ou após fevereiro (depois).

Se for antes, o governo cede espaço com a promessa de que terá os votos de que precisa – o que nem sempre ocorre, já que a eleição é secreta. Caso seja depois, o Planalto teria mais condições de avaliar se as promessas de votos se concretizaram para "premiar" os aliados fiéis.

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Quais pastas podem mudar de comando na reforma ministerial

Responsável pela articulação política do Planalto com o Congresso, a Secretaria de Governo, comandada pelo general Luiz Eduardo Ramos, já discute a substituição de alguns ministros por nomes apoiados por aliados políticos.

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As pastas que preferencialmente teriam o comando substituído seriam as que foram ocupadas por indicações do próprio Bolsonaro. Desse modo, o governo não se desgastaria com outros aliados. Ainda assim, a indicação terá de ter a concordância do presidente.

Os ministérios mais cobiçados, por óbvio, são os de maior orçamento. Dentre as pastas com mais verbas e que têm ministros vistos como da cota pessoal de Bolsonaro, estão os ministérios da Cidadania (ocupado por Onyx Lorenzoni), Saúde (general Eduardo Pazuello) e Educação (Milton Ribeiro).

Também está nessa conta a Secretaria-Geral da Presidência da República, já que o ministro Jorge Oliveira deixará a pasta para assumir o Tribunal de Contas da União (TCU).

O Ministério do Turismo também era cotado para entrar na reforma ministerial. Mas isso não deveria ocorrer agora. A demissão de Marcelo Álvaro Antônio nesta quarta ocorreu mais por causa de uma briga dele com o general Ramos. Inicialmente, a ideia era de que a mudança ocorresse juntamente com a dos demais ministérios.

Nos bastidores do Planalto, comenta-se que os ministérios da Economia, Agricultura, Casa Civil, Infraestrutura, Defesa, Gabinete de Segurança Institucional e Relações Exteriores estariam fora da reforma ministerial.

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Governo também vai distribuir cargos para vencer no Senado?

As costuras para a reforma ministerial vinham sendo realizadas até agora para garantir a vitória de um aliado no comando da Câmara. Mas o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que barrou a reeleição do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), "zerou" o jogo na Casa. Alcolumbre era o nome do Planalto e, dentro do Senado, era visto como virtual vencedor da disputa.

Após a decisão do Supremo, o Planalto decidiu apoiar a candidatura do senador Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo no Congresso. Mas outros nomes – inclusive do próprio MDB – já estão surgindo.

Alcolumbre, por exemplo, já se movimenta nos bastidores para emplacar um indicado de seu grupo, que não seria Eduardo Gomes. Na noite de terça-feira (9), o presidente do Senado se encontrou com Bolsonaro. Alcolumbre saiu da reunião afirmando a aliados que o presidente da República teria garantido apoio a seu aliado na disputa pelo comando do Senado.

De qualquer modo, para que o governo assegure um aliado na presidência do Senado, já se especula que senadores terão de ser contempladas com cargos – talvez até mesmo com alguma fatia da reforma ministerial.

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