Maia disse que pretende rediscutir modelo do FGTS de forma mais “definitiva”| Foto: Cleina Viana/Agência Câmara

Da crise política envolvendo o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), pode ter nascido um candidato a presidente em 2022. O democrata, que já tinha pretensão de disputar a cadeira no Palácio do Planalto em 2018, é um importante articulador da reforma da Previdência na Câmara e tem tentado emplacar um discurso mais próximo à população em meio aos atritos com o governo.

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No ápice da crise com Bolsonaro, o deputado federal subiu o tom das críticas ao governo, afirmando que o Brasil, atualmente, é um “deserto de ideias”, e que o presidente precisava sair das redes sociais e trabalhar “no mundo real”. Maia cobrou de Bolsonaro um projeto de país e uma articulação política responsável com o Congresso para aprovação da reforma da Previdência, considerada crucial para as contas públicas.

No mesmo dia em que Bolsonaro dizia, no Chile, que a responsabilidade da aprovação da reforma está com o Parlamento, Maia dava entrevista em Brasília como se já fosse candidato.

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"A gente precisa mostrar para a sociedade que tem responsabilidade, que o governo tem responsabilidade, que o governo vai sair de conflitos nas redes sociais e vai para o mundo real. O mundo real onde as pessoas não têm escola, onde os jovens estão sendo entregues ao tráfico de drogas e ao tráfico de armas, onde temos mais de 15 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza e está crescendo. São esses pontos que precisamos tratar daqui para a frente e a reforma da Previdência é base para isso", disse Maia a um grupo de jornalistas.

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Mesmo criticando o governo, Maia tenta acalmar os ânimos da crise e tocar a reforma da Previdência na Câmara – apesar de ter dito nesta segunda-feira (9), em sabatina dos jornais O Globo e Valor Econômico, que não tem mais condições de ser articulador político da reforma. O presidente da Casa também já falou em conduzir uma reforma tributária e a votação de um novo pacto federativo.

“Acredito que ele seja um desses quadros hoje que está tentando se cacifar para ser o candidato do DEM e ele está em um posto que acaba lhe dando visibilidade e condições”, analisa a cientista política Maria do Socorro Braga. Para ela, ainda é cedo para afirmar que o deputado será candidato, mas não dá para negar que ele tem adotado ações estratégicas nas últimas semanas, como a aprovação da PEC do Orçamento impositivo. "Com essa vitória na Câmara, da forma que foi, começou a juntar musculatura para ser esse possível candidato, mas ainda é cedo para a gente ter certeza”, afirma.

Para o especialista em marketing político e professor de opinião pública da PUC-PR, Marcos Zablonsky, Maia pode estar se cacifando para uma eventual candidatura ao mediar o conflito entre o Parlamento e o Palácio do Planalto. Além disso, o presidente da Câmara tem nas mãos o poder de ditar o ritmo de tramitação de medidas legislativas importantes e de grande impacto social, como a reforma da Previdência e o pacote anticrime do ministro da Justiça, Sergio Moro.

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“Se ele fizer um bom período como líder do Parlamento e conseguir fazer esses dois grandes projetos [reforma da Previdência e pacote anticrime] se consolidarem dentro de uma realidade, ele renderia um perfil interessante”, diz Zablonsky.

Para o especialista, porém, o episódio envolvendo críticas ao presidente deve ser encarado mais como um contraponto ao discurso de Bolsonaro do que como uma tentativa de se cacifar para a campanha de 2022. Para ele, ainda é cedo para fazer esse tipo de projeção.

Desempenho do governo é peça chave

Para o professor de ciência política da Uninter, Doacir Quadros, o desempenho do governo Bolsonaro nos próximos meses pode precipitar movimentações políticas para a eleição em 2022. “Temos que pensar que é como um jogo de xadrez. Mediante as jogadas, os insucessos, os impasses do atual governo do presidente é que as oposições e até mesmo os aliados passam a se articular tendo em vista as próximas eleições”, explica.

Para Quadros, os principais pré-candidatos à Presidência devem começar a surgir já neste ano, embalados pelo andamento da gestão de Bolsonaro. Pesquisa Datafolha divulgada no domingo (7) mostrou que a aprovação do governo Bolsonaro em três meses de governo é de 32% – índice inferior ao dos governos Fernando Collor (PRN), Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT) no mesmo período do primeiro mandato.

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“Quando o governo Bolsonaro tiver um estancamento na questão da popularidade, a tendência é que vá surgindo possíveis aspirantes à campanha de 2022. Isso será muito um reflexo do desempenho do governo”, explica Quadros.

Dentro desse contexto, segundo o cientista político, é natural que comecem a surgir candidatos “outsiders” – fenômeno ocorrido nas eleições de 2018. “Também é natural surgirem candidatos que já fazem parte do cenário político partidário. Claro, o presidente da Câmara não deixaria de ser uma opção, como também foi na campanha de 2018. Ele seria naturalmente um eventual aspirante a campanha”, diz.

Vácuo de lideranças

Maria do Socorro Braga alerta, ainda, para outro fenômeno que pode beneficiar o presidente da Câmara: a falta de lideranças com apelo nacional no Brasil. “Se a gente olha um aspecto político ideológico no Brasil, hoje a gente tem espaços vagos tanto à esquerda quanto à direita. A tendência é a gente ter maior crescimento de políticos para ter cada vez mais dimensão nacional”, diz a cientista política.

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Os atributos de um candidato

Para Quadros, ainda falta ao presidente da Câmara um atributo essencial para um candidato ao Planalto. “O aspirante à Presidência da República tem que vários atributos. Dentre eles a popularidade. Nisso me parece que o Rodrigo Maia peca. Ele tem visibilidade dentro do Congresso Nacional, dentro da Câmara, mas ainda não repercute no Brasil”, diz.

Segundo o cientista político, o deputado tem atributos positivos, como a capacidade de negociação junto ao Legislativo e a experiência, que são atributos importantes para um aspirante a presidente. “Mas além disso, teria que ter popularidade junto ao eleitorado, tem que ter uma capacidade de aliança significativa junto a partidos políticos, tem que ter uma visibilidade positiva nos meios de comunicação. São todos os elementos que vão contribuir para qualquer aspirante – e isso pode-se construir certamente até 2022, sem sombra de dúvidas”, avalia.