Sessão de votação da reforma da Previdência na comissão especial: após aprovação do texto-base, maioria dos deputados aprovou alívio a produtores rurais.| Foto: Pablo Valarades/Câmara dos Deputados

O último de todos os destaques à reforma da Previdência votados na virada de quinta (4) para sexta-feira (5) garantiu um alívio que pode passar de R$ 100 bilhões aos produtores rurais.

CARREGANDO :)

Por volta das 2 horas da manhã, a comissão especial da reforma na Câmara dos Deputados aprovou, por 23 votos a 19, o destaque nº 142, apresentado pelo bloco formado por PP, MDB e PTB. O destaque garantiu a isenção da contribuição previdenciária a produtores rurais que exportem pelo menos uma parte de sua produção.

O destaque também retirou uma trava que impedia o perdão da dívida do Funrural, a contribuição paga pelo produtor rural para ajudar a custear a aposentadoria dos trabalhadores. Hoje 8.275 empresas ou pessoas físicas do agronegócio acumulam uma dívida que já se aproxima de R$ 17 bilhões com o fundo, e a anistia desse passivo é promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro. Se levado adiante, no entanto, o perdão pode configurar crime de responsabilidade, podendo levar a pedido de impeachment.

Publicidade

A líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), confirmou na hora de orientar o voto da sua legenda que foi fechado um acordo com os partidos de centro para a mudança.

EM DETALHES: O que mudou na reforma da Previdência

Hoje, os produtores rurais recolhem 2,6% sobre a comercialização de sua produção como contribuição previdenciária, mas ficam isentos quando exportam parte do que produzem.

Pelo texto-base apresentado pelo relator, e aprovado na tarde de quinta-feira, esse benefício acabaria, o que representaria um reforço de R$ 83,9 bilhões em dez anos para os cofres públicos.

A manutenção do benefício, garantida por esse destaque votado na madrugada de quinta, atendeu ao lobby dos ruralistas, que fizeram uma grande mobilização com a bancada na Câmara e com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) junto a Bolsonaro.

Publicidade

O secretário da Previdência, Rogério Marinho, confirmou que o destaque reduz o impacto fiscal da reforma. “Pouco mais de R$ 8 bilhões por ano, ao longo de dez anos. A retirada da reoneração vai significar, no caso de receitas novas, uma redução substancial. Claro que é um impacto importante nas receitas estimadas”, disse.

Marinho ponderou que entende que a mudança está dentro do processo de discussão. “Quase R$ 1 trilhão de resultado é superlativo e relevante. Isso vai certamente permitir que o país entre no que nós chamamos de ciclo virtuoso de crescimento.”

Sobre a retirada da trava que abre brecha para o perdão do Funrural, Marinho disse que a Lei de Responsabilidade Fiscal pode colocar um obstáculo à questão. “Só é possível a remissão de um passivo se houver a apresentação de uma nova receita que permita a equalização desses valores”, disse.

“É evidente que se o governo tiver essa intenção e quiser concretizá-la terá de buscar dentro do seu orçamento ou em recursos extras essa receita que vai justificar eventual remissão”, afirmou.

'Devemos lealdade a vocês', disse Bolsonaro à bancada ruralista

Na quinta, Bolsonaro reforçou sua “lealdade” à bancada ruralista, em café da manhã com deputados da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). “Como deputado, em 100% das vezes votei acompanhando a bancada ruralista. E vocês sabem que votar com bancada ruralista é quase como parto de rinoceronte, recebendo críticas da imprensa, de organizações não governamentais e de governos de outros países”, afirmou. “Eu e Ramos [Marcelo Ramos, presidente da Comissão Especial da reforma da Previdência] devemos lealdade a vocês que nos colocaram no Palácio. Continuamos juntos”, concluiu ao fim do discurso.

Publicidade

Este foi o último destaque que precisava ser avaliado pela comissão. O relatório da reforma da Previdência foi aprovado no começo da tarde por 36 votos a 13 na Comissão Especial. Agora, a proposta vai ao plenário da Casa, onde precisará ser votada em dois turnos pelos 513 deputados. Para ser aprovada, precisará do aval de no mínimo 308 parlamentares.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]