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Manifestantes na Praça dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023.| Foto: André Borges/EFE

A mobilização de 2 mil policiais militares do Distrito Federal (PMDF) e de mais 250 da Força Nacional para fazer patrulhamento ostensivo em Brasília nesta segunda-feira, 8 de janeiro, com foco na cerimônia no início da tarde no Congresso para marcar o aniversário dos atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes, contrasta com a insuficiência de segurança no mesmo local um ano atrás.

A diferença agora é que inexiste qualquer ameaça identificada de invasão aos prédios públicos enquanto à época houve dezenas de alertas feitos pela inteligência com dois dias de antecedência. O número de PMs mobilizado é mais de três vezes superior aos 580 empregados no 8 de janeiro de 2023.

A estratégia para a segurança da Esplanada formalizada na quinta-feira (4) pelo ministro interino da Justiça, Ricardo Cappelli, e pela governadora em exercício do DF, Celina Leão (PP), definiu planejamento, prioridades de cada órgão envolvido, efetivo policial e normas especiais de trânsito. Além da PMDF, estão convocados também efetivos da Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e de outros órgãos. A Esplanada ficará fechada na pista anterior à Alameda dos Estados, próxima ao Congresso.

A cerimônia no Salão Negro do Congresso foi proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e deve contar com os chefes dos Três Poderes, governadores, parlamentares, ministros de Estado e outras autoridades, somando até 500 convidados. A recepção aos convidados está marcada para as 14h e o evento deve começar às 15h. “O dia será tranquilo e de monitoramento”, prometeu a governadora. “Não existe chance de o 8 de janeiro [de 2023] se repetir”, completou Cappelli.

O senador Eduardo Girão (Novo-CE) caracterizou o evento programado para a segunda-feira com participação de todo o Executivo, parte do Legislativo e ministros do STF como "a tentativa conjunta dos “donos do poder” de impor narrativa falsa sobre o 8 de janeiro". À Gazeta do Povo, ele destacou que a nova tentativa de obscurecer acontecimentos não consegue esconder “a clara negligência daqueles que deveriam ter evitado as invasões”.

Girão expressou seu pesar pela obstrução das investigações sobre os atos de vandalismo por parte do governo, por meio da manipulação da maioria de membros imposta à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), criada e encerrada em 2023 para apurar causas e omissões do 8 de janeiro. Ele concluiu que “atos deliberados” que levaram “àquele dia fatídico” têm provocado “injustiça sem precedentes” junto com a insegurança jurídica do “Supremo Tribunal Federal ativista, ideológico e ditatorial”.

O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) divulgou nesta sexta-feira (5) uma carta na qual caracteriza o chamado "Ato Democracia Inabalada" como a "Festa do Nada". Em resposta ao convite para participar do evento da próxima segunda-feira no Congresso, ele recusou diante da falta do "verdadeiro espírito republicano", livre de inclinações ideológicas, e também questionou a natureza cívica de um partido, no caso o PT, que se apropria da democracia, que pertence a todos os cidadãos, ao mesmo tempo que nega a eles garantias e direitos. O posicionamento de Mourão está alinhado com outros 29 senadores de oposição que assinaram manifesto contrário ao evento na quinta-feira (4). Clique aqui para conferir o texto dos senadores na íntegra.

Para advogado, Planalto quis desmoralizar a Polícia Militar

O advogado Cláudio Caivano, que representa presos do 8 de janeiro, destacou ao jornal que a presença de aproximadamente 2 mil policiais no evento desta segunda-feira levanta muitas questões se comparada ao contexto de um ano antes, quando foram enviados 35 alertas ao então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Marco Gonçalves Dias, sobre possíveis ataques iminentes, mas sem a devida mobilização. Ele questiona a contradição entre a atual defesa da democracia pelos agentes de segurança e as ações do governo federal que tiveram o objetivo de desacreditar a Polícia Militar do DF, talvez com o objetivo de desmantelar as corporações estaduais. Caivano também levanta a possibilidade de que a detenção do ex-comandante de Operações da PMDF, coronel Jorge Eduardo Naime, por mais de 10 meses, não seja coincidência, sugerindo que ele possa ser considerado um “arquivo vivo”.

Na visão do advogado, a celebração organizada pelo governo "em nome da democracia" revela a relativização das próprias garantias democráticas e uma negação ideológica da realidade. Ele ainda caracterizou o que realmente ocorreu em 8 de janeiro de 2023 como “arapuca para capturar patriotas que tentavam exercer o direito fundamental de protestar”.

Carolina Siebra, advogada de outros detidos, compartilha da visão de que a mobilização maciça de policiais dessa vez apenas destaca a capacidade plena das forças de segurança, tanto distritais quanto federais, de prevenir os incidentes de 8 de janeiro, mas que, inexplicavelmente, não o fizeram.

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