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A decisão de Deltan Dallagnol de pedir demissão do Ministério Público para, ao que tudo indica, candidatar-se a algum cargo político é legítima, um direito seu, e pode ser sincera e coerente com sua missão de combate à corrupção.

Ou seja, ele pode realmente ter se dado conta de que os obstáculos criados pelo sistema e a reação à operação Lava Jato dificultaram ou impossibilitaram mais conquistas dentro do MP, e que agora chegou a vez de lutar pela via política, de preferência o Legislativo.

Foi a avaliação do editorial da Gazeta do Povo, também do Paraná, e que acompanhou a Lava Jato bem de perto:

Assim como ocorreu três anos atrás, quando Moro aceitou o convite para ser ministro de Jair Bolsonaro, serão inúmeros os que atribuirão agora a Dallagnol uma motivação política em todo o seu trabalho à frente da Lava Jato, como se tudo o que fez estivesse direcionado única e exclusivamente ao dia em que ele pudesse celebrar um triunfo nas urnas. Este raciocínio, além de conter uma falácia lógica que transforma uma relação de sucessão temporal em uma relação de causa e efeito, pode ter duas motivações. Uma delas é a vingança ideológica daqueles que não se conformam com o fato de o trabalho de Dallagnol ter exposto os métodos do petismo e levado Lula à cadeia, e se empenham em desmoralizar os feitos do ex-coordenador da Lava Jato. A outra – que pode atingir até mesmo pessoas bem intencionadas, mas surpresas com a decisão de Dallagnol – é certa incapacidade de acreditar que as pessoas possam agir com boa intenção, sendo sempre movidas por interesses outros, egoístas e mais ou menos inconfessáveis.

Que Dallagnol opte pela carreira política não diz absolutamente nada sobre uma suposta parcialidade da Lava Jato. As provas levantadas pela força-tarefa podem já não ser utilizadas em um tribunal graças às absurdas decisões do STF, mas os ministros não são capazes de alterar a realidade.

Não obstante, era óbvio que a decisão de Dallagnol, seguida da pré-campanha iniciada por Sergio Moro, alimentaria a narrativa do sistema de que tudo não passou de um movimento político desde o começo. O ministro supremo Gilmar Mendes, o mais veemente crítico da Lava Jato, que já chamou a força-tarefa de quadrilha, resumiu a linha do discurso a ser adotado pela turma:

Alerto há alguns anos para a politização da persecução penal. A seletividade, os métodos de investigações e vazamentos: tudo convergia para um propósito claro - e político, como hoje se revela. Demonizou-se o poder para apoderar-se dele. A receita estava pronta.

Quando Gilmar Mendes fala em politização da Justiça, ele tem "lugar de fala". Chega a ser irônico um STF que fez de tudo - fora da Constituição! - para soltar e tornar elegível o maior corrupto da história deste país, condenando alguém de politização judicial.

Com a senha dada, todos sairão da toca para tripudiar da Lava Jato. Foi o caso do poste de Lula, o ex-candidato Fernando Haddad: "A tal força tarefa afinal era um partido político. Que surpresa". Estão todos os alvos da Lava Jato animadinhos com a decisão, pois ela reforça uma narrativa falsa de perseguição política.

Dallagnol e Moro têm direito de seguir por esse caminho, ainda mais quando realmente fica claro como o sistema reagiu para puni-los e enterrar a Lava Jato, soltando e protegendo os corruptos. Mas é um passo arriscado, e certamente eles sabiam que isso daria munição aos inimigos do combate à impunidade. Agora, virou tudo jogo político mesmo. E nessa seara, os monstros do pântano possuem farta experiência...

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