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Interpretar a alta do dólar não é “passar pano”
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Por Gabriel Wilhelms, publicado pelo Instituto Liberal

Já manifestei em várias ocasiões o que penso dos “passadores de pano” que não admitem que qualquer crítica seja tecida ao governo, porém, especialmente quando se trata de questões econômicas, muita gente confunde a simples explicação e interpretação dos fatos com “passar pano” – no caso, com passar pano para o Paulo Guedes e para o Bolsonaro.

Qualquer pessoa minimamente informada sabe sobre as turbulências do mundo nesta semana. As bolsas do mundo inteiro entraram em queda com a disputa do preço do petróleo entre a Rússia e a Arábia Saudita. A bolsa brasileira passou por mais de um circuit breaker nesse ínterim, mecanismo que permite o interrompimento temporário das negociações diante de quedas muito bruscas.

Além disso, a OMS oficialmente declarou que o coronavírus tem status de pandemia e Donald Trump chegou a proibir por 30 dias viagens a partir da Europa para os EUA, com exceção do Reino Unido. As incertezas, nesse contexto, explicam e muito o dólar ter rompido a barreira dos 5 reais na abertura das negociações nesta quinta-feira.

Alguém pode dizer que o dólar já estava em patamares elevados antes de tudo isso acontecer. É verdade; porém, isso se explica por fatores externos, como a guerra comercial dos EUA com a China e, principalmente, pela queda da Selic, o que ocasionou uma saída de dólares do país e consequentemente o encarecimento da moeda americana.

O contexto doméstico pode exercer seu papel e as turbulências políticas e polêmicas bestas, como o presidente acusando fraude na eleição que o elegeu e publicamente endossando manifestação de culto à sua personalidade, certamente não colaboram para suavizar as coisas. Aqui é preciso dizer que o Congresso aumentar o limite de renda para acesso ao BPC (Benefício de Prestação Continuada), medida com impacto anual de 20 bilhões, anulando parte considerável da economia com a Reforma da Previdência, também não colabora em nada e só adiciona mais combustível à fogueira. No cenário doméstico, esse certamente foi o fator preponderante para a elevação do dólar.

À luz dos fatos, dizer que a culpa do dólar de 5 reais é do Paulo Guedes ou da política econômica do governo é picaretagem, sobretudo porque o câmbio é flutuante e atribuição do Banco Central, o qual deve gozar de autonomia.

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