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Mandetta e Moro: o duplo cego
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O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, resolveu ironizar, usando um trocadilho da ciência, a decisão do governo de incluir no protocolo do SUS a liberdade de escolha da hidroxicloroquina. Ele brincou que se trata de um "duplo cego", pois dois leigos autorizaram algo que deveria ser feito por especialista:

Mandetta, o ortopedista e político do DEM, fazendo troça com o "duplo cego" de leigos indicando cloroquina é a piada pronta mesmo. O sujeito condenou o remédio com base num "estudo" que foi parar na polícia de tão bizarro! Pessoas morreram em Manaus após dosagem absurda, e o Ministério Público está com o caso nas mãos.

Enquanto isso, o outro "estudo", publicado na Lancet e com quase 100 mil pessoas, mostrou-se igualmente fraudulento, após se descobrir que a empresa pequena usada para coleta de dados tinha como representantes um escritor de ficção científica e um ator pornô. A OMS, que tinha suspendido testes com o remédio, voltou atrás depois que a informação veio à tona. A OMS é a grande inspiração "científica" do Mandetta, e não passa de um puxadinho político da ditadura chinesa.

Mas após seus discursos infindáveis, que voltavam até à sua infância, e antes de sair cantando e abraçando funcionários sem máscara na despedida, o Rolando Lero repetia: "ciência, ciência, ciência!" A mesma "ciência" que o prefeito tucano de SP usa para definir como 61% a taxa de ocupação de leito para liberar abertura, sem ninguém compreender qual modelo aponta esse número, em vez de, digamos, 67% ou 75%. Foi a ciência que fez com que Covas adotasse rodízio mais rigoroso de carros, empurrando milhares para a aglomeração no transporte público?

Mas a saída do "científico" Mandetta do governo foi um dos exemplos que Sergio Moro usou para apontar, em sua estreia como blogueiro do Globo, o "populismo autoritário" de Bolsonaro. O ex-ministro da Justiça apresentou as supostas evidências do que acusou no texto, que era para atacar o populismo da esquerda e da direita, mas só atacou Bolsonaro:

Os exemplos se multiplicam. Radares devem ser retirados das rodovias federais, ainda que isso leve ao incremento dos acidentes e das mortes; agentes de fiscalização ambiental devem ser exonerados se atuarem efetivamente contra o desmatamento ou queimadas; médicos devem ser afastados do Ministério da Saúde pois a pandemia do coronavírus atrapalha a economia, e agentes policiais federais não podem cumprir “ordens absurdas” quando dirigidas contra aliados político-partidários.

Ou seja, retirar radares que todos sabem que são caças-níqueis, fazer a limpa no esquema ambientalista que mama nas tetas públicas e afastar o Rolando Lero, eis as provas do autoritarismo do presidente segundo Moro!

O ex-juiz já não "descarta" mais uma candidatura: “Ainda estou, por conta da turbulência da saída, discutindo mais a turbulência do que qualquer outra coisa, vejo também que estamos no meio de uma pandemia, então não tenho sequer cabeça para pensar em perspectivas eleitorais. O que eu quero é continuar participando do debate público. Acho que tenho condições de contribuir ao debate público, ainda que como um espectador, um comentarista.”

Legítimo, claro. Moro tem um passado louvável como juiz da Lava Jato, e também como ministro de Bolsonaro. Já em seu novo figurino de candidato, que não consegue mais esconder de ninguém, a coisa complica um pouco. Como disse Guilherme Fiuza, melhor Moro trocar de marqueteiro, pois esse aí está dando muita bandeira. Todos já perceberam que Moro vem como uma espécie de "tucano da Globo", talvez pelo Podemos, talvez com Luciano Huck.

Mas esse papo de "alternativa aos extremos" pode pegar mal quando cada vez mais gente notar que a tal alternativa tem inclinação à esquerda. Quando Moro tiver de apresentar suas ideias políticas, o que veremos? A defesa do desarmamento? O globalismo de Ilana Szabó? Um discurso politicamente correto que agrada ao establishment? Boa sorte, pois vai precisar!

O risco de Moro é ser demandado demais pela esquerda oportunista, que odeia Bolsonaro, mas acabar ignorado pelo povo, como aconteceu com Joaquim Barbosa. Mandetta dificilmente é eleito para síndico de prédio, imagina para a Presidência da República (mas o sonho é livre). Se Moro seguir na mesma linha de discursinho pasteurizado, dando entrevistas ao Fantástico atacando o governo, vai fazer o maior sucesso nas festinhas do Beautiful People, mas vai afundar nas urnas em 2022.

Talvez o caso de "duplo cego" seja mesmo o dos dois ex-ministros, que não se deram conta das mudanças no país, do cansaço do povo com as falas mansas de quem, na prática, endossa as mesmas receitas fracassadas dos "progressistas".

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