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Luto

Academia Brasileira de Letras perdeu três "imortais" em julho

Os integrantes da Academia Brasileira de Letras receberam a notícia da morte do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, de 87 anos, durante a sessão de ontem, quando homenageavam o também acadêmico João Ubaldo Ribeiro, que morreu na sexta-feira. O poeta Ivan Junqueira faleceu no dia 3. "Três mortes em 20 dias é algo que eu acho que nunca aconteceu aqui. Ele vinha pouco à academia por não morar no Rio. É uma perda para as letras brasileiras e para o teatro mundial. Sendo ele internacional, será pranteado em todo lugar do mundo. Já vi peças dele na Alemanha", disse o presidente da casa, Geraldo Holanda Cavalvanti. Rubem Alves – também escritor de renome, apesar de não fazer parte do grupo de imortais da ABL – também morreu na última semana.

O escritor e dramaturgo Ariano Suassuna morreu ontem, no Recife, aos 87 anos, após sofrer um acidente vascular cerebral. Uma de suas últimas aparições públicas foi no dia 16, quando ministrou uma de suas "aulas-espetáculos" em Salvador. Ele tinha outra aula marcada para 5 de agosto, em Curitiba. Autor do Romance d’A Pedra do Reino e de clássicos do teatro nacional como O Auto da Compadecida e O Santo e a Porca, ele também sofria de diabetes.

Nos anos 1990, Suassuna ampliou sua popularidade ao rodar o país com suas "aulas-espetáculos", misto de palestra, concerto e espetáculo de dança, em que exibia com graça de palhaço a sua erudição e seu fervor pela cultura brasileira. Suassuna deixa a mulher, Zélia, com quem foi casado por 56 anos, cinco filhos e 15 netos.

Ariano Vilar Suassuna nasceu em 16 de junho de 1927 em João Pessoa (PB). Foi o oitavo dos nove filhos de Rita de Cássia Dantas Vilar e de João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna, então governador do estado. Após a morte do pai, assassinado em 1930 por motivos políticos, Suassuna se muda para Taperoá (PB) com a família.

Em 1942, foi morar no Recife (PE), onde terminou o ensino secundário e começou a cursar Direito. Na faculdade, Suassuna funda, com o escritor e dramaturgo Hermilo Borba (1917-1976), o Teatro do Estudante de Pernambuco. A primeira peça escrita por Suassuna, Uma Mulher Vestida de Sol, de 1947, foi premiada no ano seguinte. O primeiro "Auto" (peça em estilo medieval) inspirado em literatura de cordel, o Auto de João da Cruz, é de 1950. O famoso Auto da Compadecida foi escrito em 1955, ainda mais popularizado depois que virou filme e série de tevê.

A busca por uma arte popular nordestina baseada na estética erudita ibérica medieval o levou a criar, nos anos 1970, o Movimento Armorial. Um dos marcos dessa nova estética foi O Romance d’A Pedra do Reino, que levou cerca de 12 anos para escrever e foi publicado em 1971, pela editora José Olympio. A obra ganha o prêmio nacional de ficção do Instituto Nacional do Livro no ano seguinte. Em 1990, Suassuna tomou posse na Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira n.º 32.

Despedida

O velório ocorre no Pa­­­lácio Campo das Prin­ce­­­sas, sede do governo de Per­­­­nam­­­buco. O público poderá se despedir do escritor até às 15 horas de hoje. O enterro está marcado para as 16 horas, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife.

Multifacetado, escritor deixa obra atemporal

Camila Tuleski Tebet, especial para a Gazeta do Povo

Grande apaixonado pela cultura como era, Ariano Suassuna dedicou-se durante muito tempo ao que considerava "a obra de sua vida". A série A Ilumiara, feita para ser dividida em sete volumes, mescla romance, poesia, teatro e gravura, o que comprova o quão multifacetado era o artista. Ele trabalhava no primeiro tomo há 33 anos.

A vida inteira dedicou-se à missão de disseminar e valorizar a cultura nordestina. Foi com este intuito que criou o Movimento Armorial, em 1970, em Recife. O objetivo era criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste, como música, dança, teatro, cinema, literatura etc. O movimento contribuiu para a divulgação dessas expressões, incentivando principalmente a produção da literatura de cordel e a moda de viola, e mostrou para o país a importância de valorizar a cultura popular brasileira. "Eu sou um entusiasta do Brasil e do povo brasileiro!", já dizia ele, que também foi professor de história da cultura brasileira.

Arriscando no terreno da poesia, prosa, teatro e até mesmo artes plásticas, percebe-se o quão plural era o artista, que agraciou o público com diversas expressões artísticas, apresentando cada face de Suassuna. Foram obras genuinamente brasileiras, refletindo a realidade nacional, com humor e simplicidade. Suas peças e romances atingiram leitores e espectadores de diversas esferas da sociedade e, por meio de ironias, fez críticas que podem ser transpostas a qualquer época. "Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa".

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