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Avião durante processo de aproximação, no aeroporto do Bacacheri. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Avião durante processo de aproximação, no aeroporto do Bacacheri.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Pilotos estão expostos, diz sindicalista

O diretor de segurança de vôo do Sindicato dos Aeronautas, comandante Carlos Camacho, afirma que as árvores do clube comprometem a segurança dos pilotos e das aeronaves e que o risco de acidente é muito grande. "Com esses obstáculos, o piloto tem que voar mais alto. E quanto maior a altura em relação ao solo na hora do pouso, maior é o risco", diz. Camacho explica que o piloto tem que descer bruscamente, já que não consegue diminuir a altura pouco a pouco. "Ele tem que literalmente ‘afundar’ e dependendo da situação pode se expor ao risco".

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Pista é a quarta mais movimentada da Região Sul

O aeroporto do Bacacheri teve sua origem no Colégio Agrícola Estadual. Na década de 30, a aviação militar estabeleceu um regime de aviação no bairro. Em 1980, devido ao grande fluxo de aviação civil, parte da área foi tranferida para a administração da Infraero. Hoje, em número de pousos e decolagens, o aeroporto é o quarto mais movimentado do sul do país, ficando atrás apenas do Afonso Pena, em São José dos Pinhais; do Salgado Filho, em Porto Alegre; e do aeroporto Internacional de Florianópolis. São cerca de 70 operações por dia, que transportaram quase 45 mil passageiros em 2007.

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  • Veja que os pilotos encontram dificuldades para aterrissar no aeroporto Bacacheri

Um impasse entre a Infraero e o Clube Duque de Caxias está atrapalhando as aterrissagens no aeroporto Bacacheri em Curitiba. A empresa pediu o corte de cerca de 80 árvores do clube que, por estarem alta demais, interrompem a chamada "rampa de aproximação", linha de segurança imaginária que os pilotos percorrem antes de pousar. Com essa violação, os pilotos são obrigados a manter a altura das aeronaves por mais tempo e têm menos espaço para pousar. Os sócios do clube realizaram uma assembléia e decidiram não fazer o corte, pois segundo eles algumas exigências, como o replantio de outras mudas por parte da Infraero, não estariam sendo cumpridas.

As árvores são pínus que chegam a mais de 15 metros de altura e ultrapassam em até 12 metros a altura da "rampa de aproximação". O problema foi detectado pelo Departamento de Controle de Espaço Aéreo, que faz mediações deste tipo em todos os aeroportos do Brasil. A situação é antiga, mas de acordo com a Infraero eram feitas podas preventivamente. Uma nova direção assumiu o clube e fez uma reunião com os associados. De acordo com eles, a empresa não teria conseguido explicar no encontro os motivos para a remoção de tantas árvores.

O superintendente do aeroporto, Wilson Rocha Gomes, afirma que há três anos eles foram obrigados a recuar mais de 300 metros de pista para evitar acidentes. O Cindacta, que controla pousos e decolagens, também proibiu pousos noturnos neste lado da pista, pois não há como visualizar as árvores. Com a proibição, os aviões são forçados a pousar em um só lado da pista, o que causa sobrecarga e aumenta o perigo. "Uma colisão tem sempre vários fatores e este com certeza é um. Geralmente quando cai um avião é por causa de uma seqüência de vários incidentes pequenos, que somados viram um acidente", explica. "Há dez dias, um avião bimotor teve problema em um dos motores e fez um pouso. Ocorreu tudo bem, mas era de manhã e não tinha vento. As condições estavam propícias. Esta mesma pane em outro dia, com ventos fortes, com certeza resultaria em um acidente".

A direção do clube diz que é necessário fazer um estudo antes de iniciar a derrubada, mesmo com as árvores não sendo nativas da região e com a permissão para o corte. "Há outros prédios, outras árvores e um moinho que também estão no caminho. Por que só a Duque de Caxias tem que se adaptar?", pergunta o presidente do clube, Manuel Oliveira Azevedo. O superintendente do aeroporto afirma que o moinho ultrapassa em apenas 2 metros a linha de aproximação e que as árvores do clube são 90% dos obstáculos. "Nas cartas de vôo já há um aviso sobre o moinho, mas como vamos avisar sobre a altura das árvores se elas crescem e não têm sinalização".

Apesar disso, Azevedo afirma que os associados entendem a questão, mas não querem que o corte seja feito em uma semana. "Queremos algo estudado e gradual, senão vamos ficar sem nenhuma árvore". Porém, a última decisão é que só com determinação judicial o bosque sai de lá. "Temos que pensar em como será o replantio das mudas e elas também têm que estar crescidas já, senão nem vamos mais estar aqui quando derem um pouco de sombra", explica. "Não é ‘depois o clube que se vire’. Somos quase 12 mil pessoas".

Ele diz que a preocupação dos associados é também com o meio ambiente, pois mesmo não sendo árvores nativas, elas fazem troca de gás carbônico da mesma forma. No entanto, o Cindacta afirma que há planejamento para o replantio das árvores e que eles assumiram o compromisso de auxiliar o clube nos próximos anos.

Os pilotos reclamam das árvores e da falta de opções na hora de pousar. Durante o dia, eles afirmam que conseguem contornar o problema, mas há dificuldade quando o tempo não está bom. Dependendo da performance do piloto, também pode haver mais riscos. "À noite somos obrigados a pousar em outra cabeceira. Quando o vento não está favorável a coisa complica, pois esta cabeceira é morro-abaixo e dificulta a frenagem da aeronave", explica o piloto Carlos Grou, que está na profissão desde a década de 80. Um colega dele que não quis se identificar afirma que uma vez já chegou a tocar a copa das árvores. "Faço uma média de dez vôos por semana e acho que nossa segurança fica restrita", diz.

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