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Na manhã deste domingo (14) dois policiais da PMDF morreram após um deles atirar no colega e posteriormente em si mesmo
Na manhã deste domingo (14) dois policiais da PMDF morreram após um deles atirar no colega e posteriormente em si mesmo| Foto: Divulgação PMDF

Na manhã deste domingo, o sargento da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Paulo Pereira de Souza atirou em um colega dentro de uma viatura e, em seguida, atirou contra si mesmo no Recanto das Emas, no Distrito Federal. O autor dos disparos faleceu na hora; o outro policial foi encaminhado ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT) em estado grave, mas também não resistiu.

Segundo apuração, o sargento Paulo estava na corporação havia 23 anos e trabalhava no Gama, mas recentemente havia sido transferido para o Recanto das Emas. A Polícia Civil do Distrito Federal, que investiga o caso, apura possíveis problemas de saúde mental que o autor dos disparos enfrentava.

Em nota divulgada horas após o ocorrido, a governadora do DF, Celina Leão (PP), prometeu aumento de investimentos na saúde mental dos policiais. “Com profunda tristeza, lamentamos a perda de dois policiais militares. Este evento doloroso destaca a urgência de priorizar a saúde mental dentro das forças de segurança (...) Estamos comprometidos e iremos investir cada vez mais em programas que busquem harmonia entre saúde mental e o aspecto profissional da nossa corporação”, declarou a governadora.

Já a Comandante-Geral da PMDF, Coronel Ana Paula Barros Habka, divulgou nota afirmando que “a saúde mental de policiais é prioridade para a corporação”. “O assunto será tratado de forma transversal abrangendo todos os departamentos para alcançar o objetivo da segurança em relação a saúde policial militar, bem como perpetuar e otimizar a segurança da sociedade de todo o Distrito Federal.”

“Dessa forma, ressaltamos nosso compromisso contínuo com o bem-estar e a saúde mental dos integrantes de nossa instituição, empenhados em criar um ambiente de trabalho onde o cuidado com a saúde mental é uma prioridade. Acreditamos que apoiar a saúde mental de nossos policiais é fundamental para manter uma força de trabalho resiliente, eficaz e compassiva”, disse a comandante.

Taxa de suicídios de policiais é quase 8 vezes maior do que da população em geral

Como mostrado pela Gazeta do Povo nesta reportagem, a taxa de suicídios entre policiais da ativa das diferentes corporações no Brasil em 2021 é bastante superior à média da população em geral. Segundo o 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, naquele ano houve aumento de 55,4%, com 121 ocorrências. O número é quase oito vezes maior do que o aumento verificado entre a população em geral, de 7,4%.

Na avaliação de Paulo Cesar Porto Martins, doutor em Psicologia e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), a exposição contínua à violência e ao risco é um dos fatores que mais impactam no significativo desgaste emocional dos policiais brasileiros. Outras questões, como a desvalorização dos agentes de segurança – tanto pelo poder público, por meio de melhores salários e estrutura, quanto por setores da sociedade que atribuem menor prestígio à profissão – e a falta de retaguarda jurídica para as atividades de segurança agravam o problema.

“O policial trabalha com uma realidade muito dura, e isso mexe com o psicológico de maneira extrema. Por trás daquela força e rigidez muitas vezes existe um sofrimento muito forte, então é preciso ter um olhar atento para que esses profissionais lidem melhor com os aspectos emocionais”, aponta.

Martins cita a importância da psicoterapia para evitar o agravamento de problemas emocionais, mas reforça a relevância de atividades de prevenção dentro das corporações. “Precisa haver capacitação, treinamento e uma estrutura de suporte aos policiais. A saúde mental sofre preconceito não apenas dentro de uma estrutura das forças de segurança. Diferente de alguém que tem uma ferida aparente, aquilo que não se consegue ver muitas vezes leva as pessoas a acharem que é fingimento”, diz o psicólogo.

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