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Além do cinegrafista, outras três pessoas ficaram feridas na reintegração de posse

Invasão

No dia 6 de setembro, cerca de 600 famílias ocuparam e montaram barracas no terreno. Dez dias depois, a invasão já contava com aproximadamente 1,5 mil famílias, ou cerca de 6 mil pessoas. O local também ganhou ligações irregulares de energia elétrica, pequenas casas de madeira e até um escritório de advocacia.

A Varuna conseguiu, no dia 15 de setembro, uma ordem de reintegração de posse da área de aproximadamente 170 mil metros quadrados. A juíza Julia Maria Tesseroli determinou um prazo de cinco dias para que todos os acampados se retirassem voluntariamente do terreno, mas a ordem não foi cumprida. Com isso, a Justiça deu ordem para reintegração de posse.

Procura por ajuda

Um grupo de 80 sem-teto retirados da ocupação no bairro Fazendinha na quinta-feira estive na sede da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab) na manhã desta sexta-feira (24). Eles se reuniram com o diretor-presidente, Mounir Chaowiche, para pedir uma solução para as famílias que ficaram desabrigadas.

O diretor explicou aos sem-teto que a Cohab não possui recurso para fazer o atendimento de emergência das famílias. A orientação foi de que todos devem se inscrever no órgão e esperar na fila até que haja lotes disponíveis para todos. Atualmente, cerca de 56 mil família aguardam na fila para receberem um lote.

De acordo com a coordenadora da União Nacional pela Moradia Popular, Maria das Graças Silva de Souza, que tem auxiliado os sem-teto, o grupo já sabia que não haveria um avanço na solução do problema. "A gente já tinha escutado ele (Mounir) falando isso, mas queríamos ouvir da boca dele", afirma. Ela conta que algumas famílias já estão na fila da Cohab há 17 anos.

Imagens feitas pelo cinegrafista Anderson Leandro da Silva durante a desocupação de um terreno no bairro Fazendinha, em Curitiba, na manhã de quinta-feira (23), mostram o momento em que ele é atingido por um disparo de borracha feito por um policial militar. Após a exibição da gravação, o secretário da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, determinou o afastamento do comandante do Policiamento da Capital, coronel Carlos Alexandre Scheremeta e do comandante do 13.º Batalhão da Polícia Militar (PM), major Flavio Correia.

O cinegrafista, que trabalha em uma ONG que realiza ações sociais em Curitiba, acompanhava a reintegração de posse registrando imagens, quando foi atingido por um tiro de bala de borracha. As imagens mostram (veja o vídeo) o momento em que os policiais avançam e um deles atira para o lado onde estavam os jornalistas. Anderson é ferido no rosto pelo disparo do policial e cai.

Além dos afastamentos, o secretário Delazari determinou a instauração de um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar os abusos cometidos pela polícia. A Secretária de Segurança Pública (Sesp) vai solicitar cópia das imagens para identificar o soldado responsável pelo tiro que atingiu o jornalista.

A ação de reintegração de posse da área de 170 mil metros quadrados contou com a participação de 800 policiais da tropa de choque e da cavalaria. Durante a operação, três pessoas, entre elas uma criança de 8 anos, ficaram feridas. Três pessoas foram presas, duas por porte ilegal de armas e uma por desacato.

A PM vai continuar no local até que a área esteja totalmente desocupada. Muitos dos sem-teto retirados do terreno passaram a noite em um abrigo da Prefeitura de Curitiba.

Clima tenso

Durante a manhã de quinta-feira, a situação ficou tensa no início da reintegração de posse. Os ocupantes montaram uma barreira com pneus queimados e fecharam toda a entrada do terreno pelas ruas João Dembinski e Mário José Zancanaro. Mulheres e crianças ficaram paradas logo em frente ao bloqueio. Moradores da ocupação afirmam que iniciaram a montagem das barreiras porque perto das 5h duas viaturas da Ronda Ostensiva Tático Móvel (Rotam) teriam passado pelo local.

A PM usou balas de borracha e bombas de efeito moral para dispersar os manifestantes. Pelo menos quatro pessoas ficaram feridas, queimadas ou atingidas por balas de borracha, entre elas o cinegrafista Anderson Leandro e uma criança de 8 anos, que sofreu uma queimadura na perna.

O menino foi levado para o Hospital Evangélico, onde recebeu atendimento. Ele teve alta por volta do meio-dia. A criança foi levada ao hospital junto com uma mulher, de 38 anos, que levou um tiro de bala de borracha no tornozelo. A mulher também já recebeu alta.

A polícia vai manter vigilância no terreno, que é de propriedade da empresa Varuna Empreendimentos Imobiliários. A empresa já teria tomado medidas para cercar o ambiente.

Investigação

A Comissão de Direitos Humanos da OAB Paraná abriu um processo administrativo para apurar todos os fatos, desde a ocupação da área no bairro Fazendinha até a reintegração de posse desta quinta-feira (23). Representantes das famílias sem-teto devem ser chamados a prestar depoimentos na OAB.

"A OAB vai fazer todas as verificações possíveis e exigir das autoridades as providências necessárias para resolver esse grave problema social", disse Cléverson Marinho Teixeira, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, por meio de nota oficial.

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