Esta se deu no biarticulado Centenário/Campo Comprido. Três estudantes do ensino médio vinham falando e bem alto sobre futebol. De repente um deles caiu numa gargalhada incontrolável. Curiosidade geral. Mais calmo, apontou o dedo para a causa de tanta graça. E lá estava, afixada em uma danceteria, uma enorme faixa com o simpático convite: "Venha dançar com a JENTE" o destaque em maiúsculas fica por minha conta. O ônibus estava parado no sinaleiro, e assim foi possível que mais "gente" (eu inclusive) pudesse passar os olhos na mensagem e também, com um pouco mais de moderação, achar graça do erro.
Professor de Língua Portuguesa já faz um bom tempo, estou mais do que acostumado com "jente", "cuando", "poriço", "trusse" etc. Sempre procuro compreender e explicar por que registros como esses são tão recorrentes em textos escritos. O lapso em questão, por exemplo, decorre de uma confusão causada pelo som idêntico do "j" e do "g" diante das vogais "e" e "i". Dependendo da feira a que vamos, compramos "giló" e não "jiló". Acho ambos deliciosos, mas conheço quem gosta apenas de "jiló".
O fato de haver uma explicação linguística não significa que lapsos de escrita, sobretudo em determinados tipos de textos, estejam abonados. É de extrema importância que os profissionais "do texto escrito" tenham muito cuidado com o acabamento final do seu produto. Além de passarem uma boa imagem a seus leitores e clientes, evitam que os discursos apocalípticos do tipo "nossa língua está sendo assassinada" invadam os ônibus de nossa cidade.
Então, meu caro redator da faixa mencionada, na dúvida entre "gente" e "jente", mande lá: "Venha dançar conosco". Dependendo do contexto, também fica bacana um "vem dançá cum nóis". E deixe a festa rolar! Só não vale ficar parado.
Adilson Alves é professor.



