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Não resta dúvida de que existe um razoável consenso sobre o relevante papel da leitura na forma como vemos o mundo, como nos posicionamos diante de determinadas questões. Professoras e professores, independentemente da disciplina que lecionam, sabem que os alunos leitores desenvolvem maior capacidade de análise e interpretação, não só em língua portuguesa. Dito isso, surge uma questão bastante pertinente, que foi, aliás, pauta de alguns e-mails que troquei com um leitor. A questão era a seguinte: diante de tanto material escrito, como fazer uma seleção razoável, uma vez que jamais conseguiremos ler nada mais que uma pequena fração desse universo gigantesco?

Primeiro vamos ao óbvio dos óbvios: depende muito da área de interesse de cada sujeito. Uma pessoa apaixonada por história antiga, por exemplo, vai concentrar suas preciosas horas nesse tipo de leitura. Entretanto, sem ignorar as preferências individuais, penso que na educação básica e também na nossa formação em geral deve haver um espaço significativo para a leitura de bons textos literários.

Nos últimos anos, temos aprendido com o pensador russo Mikhail Bakhtin (1895-1975) que o texto romanesco se constrói como uma espécie de arena na qual uma variedade de línguas sociais (visões de mundo) se encontram, muitas vezes de forma tensa. Portanto, quando lemos um bom romance, somos postos em contato com visões de mundo que expressam valores, com línguas sociais que discutem e dizem a sua época. Muitas dessas questões (filosóficas, sociológicas, históricas, científicas, estéticas, etc.) ainda permeiam nossa história contemporânea. Assim, a leitura de bons romances nos joga numa rede de um diálogo infinitivo. Como somos seres que buscamos o infinito, Machado, Cervantes, Ian McEwan e tantos outros podem nos ajudar nessa jornada.

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Adilson Alves é professor.

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