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Há mil programas contra vírus de computador. O problema é que são, também, programas que consomem máquina, memória e tempo. E invasivos: a todo instante abrem janelinhas com avisos terríveis de anúncio do fim do mundo caso você não faça atualizações periódicas. Vítima dos vírus e da síndrome de impaciência universal que vem contaminando os seres humanos, fui trocando de computador, desde os antigos movidos a DOS – quando o perigo era um joguinho de tênis cuja bola desfazia as letrinhas da tela verde – até os de hoje, que levam meus dados a um assaltante de bancos ou, talvez pior, a uma mesa da CIA para avaliação.

Depois migrei para o Mac e virei um chato fanático defensor da seita do Steve Jobs. Percebi que até meus amigos mudavam de assunto quando eu começava a falar em "tela retina". Na parte em que eu dizia que o Mac não trava nunca, não ficava mais ninguém na roda. Nem me davam tempo de dizer que os vírus para Windows são inoperantes no sistema que toca o Mac. Você clica nos arquivos ".exe" – os terríveis executáveis que vão destruir sua privacidade, seu computador e, portanto, sua vida – e dá risada, porque no Mac não acontece nada.

A questão é que o Mac foi vítima do próprio sucesso e a popularização de seus computadores tem assanhado os inventores de vírus, esses gênios do mal que trabalham sem descanso nos quatro cantos da Terra para descobrir sua conta bancária, a fórmula da Coca-Cola, a propina do chinês e o endereço do reator nuclear iraniano. Parece que esse sistema de cavalo de Troia já anda meio superado – hoje até as páginas comuns da internet, o que quer que você esteja vendo ou lendo, mandam em surdina informação para tudo quanto é parte interessada. Comprei um tênis na internet e agora as propagandas de tênis vivem pipocando na tela, como se soubessem da minha vida. E sabem.

Mas os vírus caseiros tradicionais continuam incansáveis. De tanto ler textos horrendos pedindo que eu atualize os dados e forneça minha senha antes que eu caia nas garras da Serasa e acabe preso, andei matutando se não poderiam inventar um antivírus simples que funcionasse à base de correção ortográfica. Praticamente todas as mensagens viróticas que recebo são analfabetas, o que também é revelador do estado da educação brasileira mesmo entre os meliantes mais esforçados. Incansáveis, passam o dia estudando algoritmos complexos e eficientes para meter a mão no nosso bolso, quando poderiam dedicar o tempo a decorar algumas regras básicas de gramática normativa. Um antivírus ortográfico pulverizaria imediatamente o e-mail contendo "venceu as duplicata" ou "vizualize aqui".

É preciso evitar o preconceito, entretanto. Os vírus de colarinho branco, que atuam nas licitações públicas, nas áreas de intermediação, desvio e remessa de verba, e atividades correlatas, costumam atacar de acordo com o mais fino padrão gramatical.

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