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Quando o homem sentiu a necessidade de marcar o tempo, ele inventou o relógio de sol. Tendo como único referencial a posição do Sol, as localidades ajustavam seus horários considerando como meio-dia o instante em que o Sol estava a pino, produzindo sombra bem embaixo dos objetos.

Era uma anarquia. Cidades vizinhas tinham horários diferentes, o que passou a criar dificuldades crescentes e muitos constrangimentos, principalmente para os amantes que não moravam na mesma cidade: "Querida, precisamos discutir nossa relação. Você é muito impontual para o meu gosto!" Ela media o amado em relação ao zênite e respondia: "Concordo. Mas antes precisamos chegar a um acordo: ou o meu, ou o teu relógio de sol?"

A Europa era um caos, com 27 horários diferentes. Na América do Norte, as horas eram contadas localmente de 74 modos, sem contar os ajustes em função das condições ambientais de claridade no céu de cada lugar. No Brasil, nunca tivemos esses problemas. Desde o descobrimento, nunca cumprimos horários. Por natureza somos avessos ao relógio, o reverso do Big Ben e da pontualidade britânica. Desde Pedro Álvares Cabral (que na verdade chegou atrasado ao Brasil e botou a culpa nas calmarias), nós, brasileiros, apenas precisamos de relógio de sol para saber se vai ou não vai dar praia. Se o pino do relógio de sol não aponta nenhuma sombra, é sinal de que o tempo sujou e é melhor ficar em casa jogando baralho.

Curitiba é um Brasil com ponteiros diferentes. Impontuais, só os ipês-amarelos. Com uma compulsão pelo trabalho que reprime o princípio do prazer em prol do princípio da realidade, o curitibano sempre se orientou pelo relógio de sol da Farmácia Stellfeld, na Praça Tiradentes.

O horário de verão foi instituído pela primeira vez no Brasil em 1931/1932, quando Getúlio Vargas passou o seu primeiro verão no poder. Até 1967, a implantação foi feita de forma esporádica e sem nenhum critério, conforme o já famoso jeitinho brasileiro. No verão de 1968, atendendo ao espírito do AI-5 e da ditadura militar, passamos a viver no horário da caserna. Foram 17 anos sem que o horário de verão fosse instituído. Só voltou a vigorar no verão de 1985/86, com a redemocratização, quando o topete do Itamar Franco realçou o verdadeiro espírito brasileiro e o fim da inflação encorajou o chopinho prolongado depois do expediente.

Titus Maccius Plautus (cerca de 250 a.C.) deixou escrito: "Os deuses instilaram ansiedade no primeiro homem que descobriu como distinguir as horas". O horário do verão é o antídoto da ansiedade. É a hora extra que os deuses concederam como bálsamo aos escravos do relógio.

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