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A prisão do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, é uma notícia que dá esperança de que o Brasil pode mudar, de que a impunidade dos políticos está com os dias contados. Pela primeira vez na história brasileira, a Justiça mandou um governador para a penitenciária... Ou melhor, para uma ampla sala, na sede da Polícia Federal (PF), do tamanho de um apartamento pequeno (40 metros quadrados) e com comodidades como sistema de ar-condicionado – para que Arruda não derreta sob o calor do verão do Planalto Central. Segundo o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, esse é um ambiente adequado para autoridades detidas.

É aí que aquele rasgo de esperança começa a evaporar. O governador, mesmo preso, continua a ser visto pelos poderes constituídos como uma pessoa diferente, privilegiada. Outros cinco aliados de Arruda tiveram a prisão preventiva decretada na semana passada. Todos, com exceção do chefe, foram levados à Penitenciária da Papuda, como detentos comuns.

Mas um governador não é uma pessoa comum no Brasil. Como também não é um senador da República – há quase um ano era isso que o presidente Lula dizia sobre seu aliado José Sarney, no auge do escândalo dos atos secretos do Senado.

No país do "Você sabe com quem está falando?", exemplos como esses se repetem diariamente, embora nem sempre sejam noticiados. As autoridades brasileiras simplesmente ainda não conseguiram entender ou admitir que o princípio básico de qualquer democracia é a igualdade de todos perante a lei; que a regra que vale para um deve valer para todos.

A prisão de Arruda é, portanto, emblemática. Ela marca uma encruzilhada em que nos encontramos. Representa um avanço institucional: o bom funcionamento das instituições, no caso, do Judiciário. Mas revela também uma deficiência cultural: a incapacidade de lidarmos com os valores republicanos; de superarmos uma estrutura social profundamente hierarquizada em que alguns, a despeito da lei, estão acima dos outros.

Ao prender Arruda, o país deu um passo à frente. Ao deixá-lo preso em um espaço privilegiado, voltou para trás. Os próximos capítulos dessa história podem repetir o que estamos acostumados a ver. Tudo pode voltar a ser como sempre foi: a Justiça vai soltar Arruda e o processo contra ele vai se perder no emaranhado judicial de nosso país – que sempre privilegia quem tem bons advogados. Ou podemos finalmente avançar como nação, vendo a condenação definitiva de um político envolvido em um escândalo de corrupção.

Fernando Martins é jornalista.

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