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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Toda vez que alguém liga um aparelho da Apple perto de mim, como o notebook do meu colega Marcos e o iPad da colega Silvia, e vejo aquela maçazinha mordida se iluminar, lembro-me de um personagem fascinante. Não, não é o Steve Jobs, o homem que criou ou participou fortemente da criação de Macintoshs, iPhones, iPods e outras máquinas impressionantes, e que se afastou da empresa por causa de problemas de saúde. É verdade que tudo que li sobre a vida pessoal de Jobs também faz dele um personagem curioso. Mas fascinante, para mim, é a história de outro homem cujo nome também estará para sempre ligada à imagem de uma maçã, o matemático Alan Turing.Vou começar pelo mais recente, o homem da Apple. Jobs é filho biológico de um sírio muçulmano (Abdulfattah) e de uma americana (Joanne), que o entregaram para adoção. Foi adotado por um casal de classe média, que passou maus momentos até ver seu filho se revelar um gênio da informática. O rapazinho era curioso, o que ajudava nos estudos, mas teve suas esquisitices. Por volta dos 18 anos viajou para a Índia. Voltou aos Estados Unidos convertido ao budismo e adepto da contracultura, o que incluía usar LSD e se vestir com panos indianos.

Abdulfattah e Joanne tiverem outra filha, Mona, que não foi entregue para adoção. Mas Abdulfattah abandonou a família e Mona adotou o sobrenome do padrasto (Simpson). Mona Simpson é uma escritora respeitada nos Estados Unidos. Talvez tenha sido o brilhantismo intelectual dos dois irmãos que fez Steve Jobs desenvolver uma "crença no fatalismo genético", segundo um repórter do The New York Times que o entrevistou. Mona casou com Richard Apple, que é um dos criadores do desenho animado Os Simpsons. Como se vê ele pegou o sobrenome da mulher para batizar os personagens.

Richard Apple entrou na família muito tempo depois de Jobs ter criado a Apple, o que descarta a possibilidade de ter sido a inspiração para a marca de computadores. Tampouco Steve Jobs e seu sócio Steve Wozniak teriam pretendido homenagear o matemático Alan Turing, como muitos especularam ao longo dos anos. Mas faria sentido.

E aqui chegamos ao segundo gênio que mordeu a maçã.

Desde pequenininho, Turing tinha um talento extraordinário para a matemática e para a lógica. Trabalhou com empenho durante a Segunda Guerra Mun­­dial para o governo britânico, com a tarefa de quebrar os códigos secretos usados pelos nazistas em suas comunicações. Fora do trabalho, era um tipo recatado, cujo passatempo era treinar para maratonas e passear de bicicleta. Com o fim da guerra, avançou consideravelmente no estudo da inteligência artificial. Entrou para a História como o pai dos computadores. E onde entra a maçã na história nessa biografia?

Turing era homossexual e depois que um homem contou a policiais que tinha tido relações sexuais com ele, foi acusado e condenado por "comportamento indecente". O tribunal deu a ele uma escolha: prisão ou castração química. Turing preferiu a castração química. É claro que o processo não gerou boa publicidade e Turing passou a enfrentar restrições a seu trabalho. Dois anos depois, foi encontrado morto, envenenado. Tinha 42 anos. A polícia classificou o caso como suicídio. A mãe achou que era um acidente. Ao lado do corpo havia uma maçã mordida. A fruta não foi analisada, por isso não se sabe ela teria sido usada por ele (ou por outra pessoa) para provocar a morte; os biógrafos parecem acreditar que sim, Turing mordeu uma maçã embebida de cianureto.

2012 será o Ano Alan Turing, com muitas celebrações no mundo da academia para comemorar seus 100 anos e promover o estudo de sua obra, ainda enormemente influente. Desconfio que as homenagens serão uma forma de desagravo pela violência e humilhação a que ele foi submetido. Antes tarde do que nunca.

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