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Toda vez que o ser humano embarca em uma nave para explorar territórios desconhecidos do cosmos, ele redescobre o planeta Terra. Lá do espaço, rumo à Lua ou a outra galáxia, em naves tripuladas ou espiando através de telescópios, o astronauta dá aquela última olhadinha para casa e se maravilha com o que está deixando para trás. A Terra é linda. Tão perfeita ela é que até vida tem, ao contrário de seus vizinhos incandescentes ou gasosos.

Foi na véspera do Natal de 1968 que os olhos humanos viram a Terra pela primeira vez. O astronauta americano William Anders, a bordo da Apollo 8, passou por trás da face mais distante da Lua e entrou na órbita lunar. De lá, usando uma câmera Hasselblad, fotografou a Terra que aparecia flutuando no céu noturno, dois terços cheia (bem à frente na foto, se vê parte do solo lunar). Os astronautas viram a Terra em uma situação em que nós aqui só vemos a Lua, ou seja, "nascendo" no horizonte. Aquela situação passou a ser denominada de "nascer da Terra".

Nascer da Terra... Que coisa linda, não acha? Segundo a revista Life, aquela é uma das "100 fotografias que mudaram o mundo". Por quê? Porque nos mostrou como nosso planeta é lindo e frágil. A imagem foi uma grande inspiradora do movimento ambientalista que nasceria nos anos seguintes.

Em um livrinho simpático sobre os pioneiros do balonismo, Altos Voos e Quedas Livres, o inglês Julian Barnes conta este episódio e reproduz o comentário do astronauta Anders:

"Acho que foi o Nascer da Terra que realmente comoveu todo mundo... Estávamos olhando para o nosso planeta, o lugar onde nós evoluímos. Nossa Terra era colorida, bela e delicada comparada à superfície dura, áspera, até mesmo tediosa da lua. Acho que nos demos conta de que tínhamos viajado 240 mil milhas para ver a Lua, e a Terra era que valia mesmo a pena ser contemplada."

Este mês a Nasa anunciou que encontrou um planeta com condições parecidas com as da Terra, o Kepler-186f. A notícia teve repercussão como costumam ter todas as notícias sobre descobertas espaciais, por mais difíceis que elas sejam de ser entendidas. Acho que o interesse ocorre porque: a) são notícias curiosas e inofensivas, distantes do nosso campo de responsabilidades; b) trazem um pouco de mistério para o nosso mundo tão esmiuçado pela ciência, que tem cada vez menos espaço para os enigmas e para o misticismo; e c) essas notícias nos lembram de que somos menos que pó de estrelas no universo gigantesco.

É até engraçado: olhamos para as estrelas e somos puxados para o chão duro da realidade. C’est la vie.

O nascer da Terra teve um impacto forte sobre o astronauta Anders. Hoje um bem-sucedido executivo aposentado de 80 anos, um herói americano, um general da reserva, ele dá muitas entrevistas nas quais lembra que, quando olhou para trás e viu o planetinha pequeno de onde havia saído, suas crenças mudaram. "Aqui estamos nós, num tipo de planeta fisicamente insignificante, girando em torno de uma estrela que tampouco é muito importante, que gira em uma galáxia de bilhões de estrelas que também não é importante, em um universo onde há bilhões e bilhões de galáxias. Nós realmente somos especiais? Eu não acho." Mesmo pensando assim, mesmo diante de tanta insignificância, ele garante que sempre, mas sempre mesmo, se arrepia quando vê a Lua porque se lembra da imagem do planeta azul.

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