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Manifesto de evangélicos aponta perseguição a cristãos que atuam no governo
| Foto: Pixabay

“Estado laico não é sinônimo de laicismo ou Estado ateu e, portanto, ninguém deve ter opiniões diminuídas ou exercício político limitado por conta da sua religião”. Com essa e outras frases de apoio à atuação dos cristãos na sociedade, um grupo de evangélicos publicou, nesta quinta-feira (6), o “Manifesto Acerca das Difamações e Demonstrações Públicas de Desprezo Contra os Cristãos”, no site “Coalizão pelo Evangelho”, de pastores evangélicos.

O ato é uma defesa da atuação de cristãos no governo e uma reação a ataques feitos contra personalidades que professam publicamente a sua crença.

Convicções Gazeta do Povo: Estado laico não é o mesmo que Estado ateu

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Uma das que mais sofrem com o preconceito à religião é a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Entre os ataques mais conhecidos contra ela está a marchinha de carnaval que zomba do abuso sexual sofrido pela ministra e das suas declarações de que só pode superar o fato com a ajuda de Deus. Outro que tem sido criticado por suas crenças é Benedito Guimarães Aguiar Neto, o novo presidente da Capes, autarquia do Ministério da Educação responsável pela distribuição de bolsas de pesquisas. As suas críticas ao evolucionismo e adesão ao “Design Inteligente” – que não é sinônimo de criacionismo (entenda melhor aqui) – fez com que alguns se manifestassem contra a sua permanência no cargo, como o Núcleo de Apoio à Pesquisa em Educação, Divulgação e Epistemologia da Evolução “Charles Darwin”, da Universidade de São Paulo (USP).

Reconhecendo que “religião e Estado são esferas distintas da sociedade que devem atuar com soberania nos limites do seu escopo sem se sobrepor uma à outra”, os evangélicos apontam o erro de quem prega a existência de uma neutralidade de pensamento. “A neutralidade de pensamento é uma falácia argumentativa secularista que tem buscado marginalizar a influência dos cristãos e deve, portanto, ser desmascarada, sobretudo no Brasil, que possui um modelo de laicidade colaborativo com a fé, de acordo com o artigo 19, I da Constituição brasileira”.

O texto defende o direito dos cidadãos, “de diverso viés filosófico e ideológico” de se reunirem com “a finalidade de propagar aquilo no qual acreditam” e recomenda “a sobriedade e o bom trato” na defesa da fé em âmbito público.

* Leia abaixo a íntegra do documento:

Manifesto Acerca das Difamações e Demonstrações Públicas de Desprezo Contra os Cristãos

Diante das difamações e ataques em determinadas mídias que tiveram como alvos diretos e indiretos membros desta Coalizão, bem como diante de um perceptível aumento das demonstrações de desprezo contra os cristãos nas redes sociais em nosso país, NÓS, abaixo-subscritos, vimos a público emitir o seguinte manifesto para o fim de esclarecimentos e recomendações.

Reconhecemos a importância dos debates relacionados aos temas de interesse público.

Cremos que religião e Estado são esferas distintas da sociedade que devem atuar com soberania nos limites do seu escopo sem se sobrepor uma à outra, e juntas cooperar para o bem comum e dos cidadãos. Por isso, não somos adeptos de qualquer forma de teonomismo, haja visto que compreendemos que a religião não deve ser imposta pelo Estado, e nem o Estado e sociedade serem subjugados pela religião. A fé cristã demanda mudança interna e associação voluntária, não sendo possível sua imposição por forças externas ou instituições.

Declaramo-nos, assim, apartidários, mas não apolíticos, pois sendo a polis parte da estrutura de vida do ser humano, devem os cristãos oferecer sua cooperação à sociedade em que estão inseridos, seja por meio de ações concretas ou através de debates que fomentem e multipliquem o conhecimento e a educação, sempre em respeito às convicções diversas, sem nunca fugir do campo das ideias, e jamais partindo para ataques pessoais.

Entendemos que o Estado laico não é sinônimo de laicismo ou Estado ateu e, portanto, ninguém deve ter opiniões diminuídas ou exercício político limitado por conta de sua religião. A neutralidade de pensamento é uma falácia argumentativa secularista que tem buscado marginalizar a influência dos cristãos e deve, portanto, ser desmascarada, sobretudo no Brasil, que possui um modelo de laicidade colaborativo com a fé, de acordo com o artigo 19, I da Constituição brasileira.

Esclarecemos que a aparição de qualquer dos membros da Coalizão pelo Evangelho com autoridades públicas se dá no âmbito de respeito e suporte intelectual e espiritual, e jamais como apoio partidário e político, sempre com o intuito de cumprir a recomendação bíblica: “Exorto, pois, antes de tudo que se façam súplicas, orações, intercessões, e ações de graças por todos os homens, pelos reis, e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e sossegada, em toda a piedade e honestidade” (1Tm 2.1-2).

Defendemos o direito de cidadãos de diverso viés filosófico e ideológico de se reunirem com a finalidade de propagar aquilo no qual acreditam.

Lamentamos, todavia, a superficialidade com a qual temas sociais, teológicos e políticos têm sido tratados, não somente em páginas pessoais, mas também em mídias alternativas e até naquelas tradicionais formadoras de opinião.

Repudiamos, ademais, o abandono do campo das ideias e o uso de ataque ad hominen através da plantação de mentiras e do assassinato de reputações, bem como a difusão de mentiras e difamações como meio de produzir conteúdo, vencer debates, ou atrair adeptos.

Lastimamos, sobretudo, quando pessoas revestidas de autoridade eclesiástica, as quais deveriam ser exemplos de boa conduta, esquecem-se da instrução de Paulo acerca de “como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade ” (1Tm 3.15). Não nos surpreende, contudo, que alguns desses teólogos que espalham mentiras e difamações contra pastores por conta de seus posicionamentos políticos são justamente aqueles que já romperam não apenas com temas importantes da ética cristã, mas também reinterpretaram doutrinas centrais da fé, tal qual a doutrina da expiação vicária.

Preocupa-nos, de igual modo, a percepção do aumento de expressões de desprezo contra cristãos nas redes sociais. Lembramo-nos, porém, das palavras de Cristo nas bem-aventuranças: “Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” (Mt 5.11-12).

Recomendamos, por fim, a importância de mantermos a sobriedade e o bom trato na defesa de nossa fé e de sua aplicação no certame público, lembrando que nossa luta não é contra a carne e o sangue, e que esses que espalham difamação e desprezo devem ser alvos da mesma graça que nos livrou da escravidão daquele que é o pai da mentira.

Concluímos este manifesto com o ensino do Senhor Jesus acerca daqueles que decidiram se fazer nossos inimigos: “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo? Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mt 5.44-48).

06 de fevereiro de 2020.

Augustus Nicodemus é pastor auxiliar na Primeira Igreja Presbiteriana do Recife.

Cleyton Gadelha é pastor titular da Igreja Batista de Parquelândia e diretor executivo da Escola Teológica Charles Spurgeon (Fortaleza/CE).

Davi Charles é pastor da Igreja Presbiteriana Paulistana (São Paulo/SP).

Emílio Garofalo é pastor da Igreja Presbiteriana Semear (Brasília/DF).

Euder Faber é pastor da Igreja O Brasil para Cristo e presidente da Visão Nacional para a Consciência Cristã.

Franklin Ferreira é diretor-geral do Seminário Martin Bucer (São José dos Campos/SP) e presidente do Conselho da Coalizão pelo Evangelho.

Hélder Cardin é chanceler das escolas teológicas Palavra da Vida Brasil, e professor pesquisador no Seminário Bíblico Palavra da Vida.

Jonas Madureira é pastor da Igreja Batista da Palavra (São Paulo/SP), professor no Seminário Martin Bucer e vice-presidente da Coalizão pelo Evangelho.

Leonardo Sahium é pastor da Igreja Presbiteriana da Gávea (Rio de Janeiro/RJ), vice-presidente da Junta de Educação Teológica da Igreja Presbiteriana do Brasil e diretor do Centro de Treinamento para Plantadores de Igrejas (CTPI).

Luiz Sayão é pastor sênior da Igreja Batista Nações Unidas e professor no Seminário Martin Bucer.

Mauro Meister é pastor da Igreja Presbiteriana – Barra Funda (São Paulo/SP).

Renato Vargens é pastor sênior da Igreja Cristã da Aliança (Niterói/RJ), escritor e conferencista.

Sillas Campos é pastor da Igreja Batista Central de Campinas e presidente do Ministério Fiel.

Solano Portela é presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil, servindo na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro (São Paulo, SP), e docente no Centro Presbiteriano de Pós Graduação Andrew Jumper e no Seminário Teológico JMC.

Tiago Santos é um dos pastores da Igreja Batista da Graça (São José dos Campos/SP), co-fundador e diretor do programa de estudos avançados no Seminário Martin Bucer e editor-chefe na Editora Fiel.

Valter Reggiani é pastor da Igreja Batista Reformada de São Paulo e presidente da Convenção Batista Reformada do Brasil.

Wilson Porte Jr. é pastor da Igreja Batista Liberdade (Araraquara/SP) e presidente do conselho e professor do Seminário Martin Bucer.

Grupo cristão, formado por católicos e protestantes, rebate críticas sobre a relação com o governo Bolsonaro

O Instituto Brasileiro de Direito Religioso também emitiu nota após as críticas sobre a relação com o governo Bolsonaro e afirmou que a “atuação do IBDR se dá no âmbito de assessoria a autoridades públicas acerca de temas legislativos, acadêmicos e sociais que dizem respeito ao nosso espectro de conhecimento técnico. Somos um grupo cristão de católicos e protestantes que, como o próprio nome do Instituto propõe, busca melhor compreender e conciliar o Direito e a Religião com suas múltiplas aplicações nas várias esferas da sociedade. O IBDR não representa partidos, e nem atua em prol de qualquer político, seja por meio de militância ou através de defesa acadêmica e intelectual”.

O IBDR explica ainda que Estado laico não significa Estado ateu. “O significado de laicidade [...] no Brasil é colaborativa com a fé, de acordo com o artigo 19, I da Constituição. Estado laico não é sinônimo de Estado ateu e nem da ausência de religião na sociedade ou de religiosos na vida pública e política. O envolvimento dos religiosos na composição do atual governo, destarte, não representa nenhum tipo de ameaça ao Estado laico.

"O IBDR é um think tank formado por juristas, teólogos, filósofos e cientistas sociais de diversos ramos do conhecimento, e que tem por objetivo produzir conteúdo que ofereça  aos seus associados e seguidores conhecimento e instrumentos que sejam eficazes para equipá-los na atuação da vida acadêmica, política ou pública no serviço ao nosso país e aos seus cidadãos".

Leia aqui a nota do IBDR na íntegra.

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