Cida Gonçalves, do Ministério das Mulheres, afirma que se deixou de lado o planejamento familiar ao se isolar a discussão do aborto.| Foto: Rafael Neddermeyer/Agência Brasil
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A ministra Cida Gonçalves, do Ministério das Mulheres, classificou a discussão sobre o aborto como uma “irresponsabilidade” se tratada apenas por isso mesmo sem um debate mais aprofundado sobre o planejamento familiar e métodos contraceptivos.

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A crítica à discussão ocorre após a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter votado a favor no ano passado e tido a tramitação na Corte paralisada por Luís Roberto Barroso após tomar posse da presidência, em setembro de 2023. Para ele, o tema ainda carece de mais esclarecimento público sobre o cerne da questão, que não é a descriminalização em si.

Cida Gonçalves afirma que a questão do aborto passou a ser discutida isoladamente, mas que é preciso ir além e debater outros pontos.

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“O que nós defendemos é que você tenha a contracepção de emergência. Aconteceu o estupro, você vai num posto de saúde para receber a contracepção de emergência. Isso caiu por terra. Então, assim, hoje discutir o aborto só por discutir o aborto é uma irresponsabilidade, eu diria”, afirmou em entrevista à Folha de São Paulo publicada nesta segunda (18).

De acordo com a ministra, as políticas públicas relativas a isso foram “destruídas” nos últimos seis anos, com redução da “pouca rede de atendimento, de profissionais que se dispunham a fazer esse trabalho”. Para ela, o Brasil vive um “retrocesso” e que “não aceita discutir planejamento familiar, um país que não aceita discutir pílula do dia seguinte, um país que não aceita fazer propaganda”.

“Eles envolvem discutir a possibilidade de o casal, não é só a mulher, o homem e a mulher, fazer um planejamento familiar, decidir quando ter filhos, a forma e as condições de ter esse filho. Isso significa ter um acompanhamento geral para que isso aconteça. [...] Temos a objeção da consciência no Brasil”, afirma defendendo a realização de um debate público sobre o aborto e planejamento familiar.

Apesar de defender estes temas de forma correlata, ela afirma que ainda não há um projeto pronto para ser levado ao Ministério da Saúde.

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Desde que tomou posse como presidente do STF, Luís Roberto Barroso vem protelando o avanço da discussão do aborto aberta na Corte pela sua antecessora, ministra Rosa Weber. Em diversas entrevistas, ele se colocou como contra a prática, afirmando que o "aborto é uma coisa indesejável".

No entanto, ele também sempre reiterou que criminalizar a mulher que recorre a ele -- "que viveu esse infortúnio" -- "não serve para nada".

"Penso que conscientizar a sociedade de que ser contra o aborto, não praticar o aborto, pregar contra o aborto, não significa que se deva prender a mulher que tenha passado por esse infortúnio. O aborto é uma coisa indesejável, uma coisa a ser evitada. O papel do Estado é impedir que ele aconteça, na medida do possível, dando educação sexual, contraceptivos e amparando a mulher que deseja ter o filho. Mas colocá-la na cadeia, se viveu esse infortúnio, não serve para absolutamente nada. É uma má política pública a criminalização", afirmou durante a sessão plenária do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no começo do mês.

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